Mês vocacional

Como é a vida de quem escolhe a vocação do celibato?

“O seu celibato é uma graça para a comunidade: por ele, o Senhor libera, de maneira singular, o coração da pessoa; por ele, ela pode abrir-se ao amor de Deus e aos irmãos todos sem divisão alguma; por ele, ela pode dedicar-se de maneira muito mais livre aos vários trabalhos e atividades apostólicas nos mais diversos lugares e situações.” (Estatuto Semente, art. 109).

Logo que ingressei na Comunidade Canção Nova, no ano 2000, Deus começou por meio das pessoas a mexer comigo, dizendo que eu tinha um “jeitinho” de celibatária. Eu só ouvia e ficava quieta, mas dentro de mim eu não aceitava. Recordo-me que, em 2003, em uma jornada espiritual, o Senhor falou muito forte comigo sobre ser celibatária, mas não dei continuidade. Por várias outras vezes, Deus me fazia experimentar algo que fizesse ressoar dentro de mim a vida celibatária, mas eu sempre desviava desse foco. Eu não tinha dentro de mim a clareza sobre o meu estado de vida e também não buscava mergulhar nesta descoberta, porque, no fundo, eu sabia no que poderia dar.

Assumir a vocação

Em 2011, sentindo um profundo incômodo de não ter ainda definido dentro de mim o meu estado de vida, decidi dar passos para essa definição. Foi então que, por meio da direção espiritual, do acompanhamento formativo da comunidade, na busca por meio das leituras, encontro sobre estado de vida e pregações, consegui mergulhar neste discernimento e tocar na minha verdade e no chamado especial de Deus em minha vida. Fiz a leitura de minha vida e percebi que Deus me separou desde sempre. Deus me preservou, me livrou da morte, me colocou em uma família que soube me conduzir para Ele e me apresentou o Carisma Canção Nova.

Como é a vida de quem escolhe a vocação do celibato

Foto Ilustrativa: Patricio Nahuelhual by GettyImages / cancaonova.com

Em 2013, toquei em minha história, percebendo a voz de Deus que, delicadamente, sinalizava este estado de vida desde sempre. Em 2014, no dia de São José Operário, nas palavras do Frei Josué Pereira, meu primeiro compromisso temporário foi marcado por um “tom” de entrega total, pura e fiel. O segundo compromisso, em 2015, no Dia do Imaculado Coração de Maria, pelas palavras do padre Fabrício Andrade, foi marcado pela experiência
de saber aparecer e desaparecer no momento certo, sendo uma árvore de ponta cabeça que tem as raízes no céu e os frutos na terra.

Castidade, obediência e pobreza

Em 2016, no dia de São João Batista, o meu terceiro compromisso foi marcado pelas palavras do padre Arlon Cristian, que fez a junção das três datas e concluiu dizendo: “São José casto, Nossa Senhora obediente e São João Batista pobre”. Algo que que falou muito ao meu coração na vivência do celibato em minha vida, pois a mão providente do Senhor conduziu todas as coisas.

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No ano de 2017, em um domingo, ‘Dia do Senhor”, nas palavras do padre Fabrício Andrade, meu Definitivo  Celibato foi marcado pela importância em que o celibatário tem de ser ‘porta’, não qualquer porta, mas sim a porta que leva as pessoas ao encontro com Jesus. Isso tudo tornou-se o fio condutor para este tempo que me ajuda a mergulhar de forma especial também na maternidade espiritual, no ser intercessora, na intimidade com Deus e no ocupar-me com os interesses do Senhor. Sobretudo, continuo mergulhando nesta vivência, pois há muito a ser desbravado. Tenho ainda mais clareza que o Celibato é a “memória das origens e a Profecia da eternidade”. Esse itinerário em minha história celibatária me faz viver, hoje, uma entrega total e indivisa ao Senhor, que transborda na missão que Ele me chama a cada tempo no Carisma Canção Nova.

A vida celibatária é uma graça que, assumida, gera alegria no coração; e a coerência de vida provoca um transbordamento que contagia os irmãos. Na Comunidade Canção Nova, tomamos como modelo a figura de João Batista, em que encontramos uma existência que foi toda permeada pela alegria de uma consagração de vida. Por tudo que ele sinaliza no Carisma, sobretudo no celibato, enxergamos as características necessárias para que, de
fato, sejamos “um farol que aponta para Deus, alguém que vai ao encontro dos irmãos, que sai de si a fim de levar esperança, alegria e confiança, apontando sempre para o centro que é Jesus”(N.D 1505 pág.367).

Celibato como testemunho

Com a vivência coerente do nosso estado de vida, expressada por uma vida de oração cada vez mais encarnada, pela busca de aprofundar no amadurecimento humano, com uma vida ascética e testemunhal para sermos “um sinal visível da feliz expectativa da vinda do Senhor”. Pode-se destacar ainda o que nos diz Antonio-Luis Crespo Prieto: “celibatário pelo Reino de Deus é o batizado que tem na sua vida a experiência profunda de Jesus Ressuscitado. Isso converte-o em evangelizador e testemunha. A consagração do seu celibato ao Reino é o seu testemunho”. (CRESPO PIETRO, Antonio-Luis. Celibato pelo reino de Deus: Formação e vivência. Lisboa: Paulus, 1996)

À luz da ressurreição, vamos sendo educados para viver a cruz de cada dia com amor, enfrentando sofrimentos, ora para nossa própria purificação e conversão, ora pela salvação dos pecadores do mundo inteiro. E, com a Virgem Maria, o modelo mais elevado de vida celibatária, encontraremos sempre a inspiração para permanecermos fiéis até o fim.

Priscila Graziela Bergamini Almeida
Núcleo dos Celibatário da Comunidade Canção Nova

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