Qual é o desejo mais profundo do seu coração? A busca pela felicidade eterna é o que nos move. Padre Leonardo Ribeiro explica, com base no Catecismo, que o Céu é a resposta para essa busca. Entenda o que a Igreja nos ensina sobre nossa morada eterna e a vida de plena comunhão com Deus.
O Céu: a bem-aventurança eterna e a comunhão com Deus
A bem-aventurança eterna, o céu, consiste, em primeiro lugar, na perfeita comunhão de vida e de amor com a Santíssima Trindade, numa relação viva e pessoal com a Santíssima Trindade. É o encontro com o Pai que se realiza em Cristo ressuscitado, graças à comunhão do Espírito Santo. (→Bem-aventurança essencial). Em segundo lugar, na perfeita comunhão com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados. Significa viver para sempre na comunidade bem-aventurada dos Anjos e Santos, ou seja, de todos os que estão perfeitamente incorporados em Cristo. (→ Bem-aventurança acidental)
O Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva. Viver no Céu é “viver com Cristo”. Os eleitos vivem “nele”, mas lá conservam – ou melhor, lá encontram – sua verdadeira identidade, seu próprio nome.
a.) A bem-aventurança essencial: a participação na vida da Santíssima Trindade
Jesus disse: “Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste” (Jo 17,3). (Cf. 1 Jo 5,11-12: “Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho. Quem possui o Filho possui a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.”) Participaremos da vida trinitária como filhos intimamente unidos a Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus feito homem. Por meio d’Ele, com Ele e n’Ele participaremos da sua relação filial com o Pai, isto é, do diálogo eterno de amor que o Pai e o Filho, no Espírito Santo, têm entre si.
b.) A Bem-aventurança acidental, ou seja, complementar: A comunhão perfeita com os outros bem-aventurados, homens e Anjos, e com todas as criaturas
A felicidade da convivência com os demais bem-aventurados consiste no mútuo doar-se e receber, na perfeita comunhão de vida e de amor recíproco. Na glória do Céu, os bem-aventurados continuam a cumprir com alegria a vontade de Deus em relação aos outros homens e à criação inteira. Já reinam com Cristo, e com Ele “reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22,5)
Na Bem-aventurança eterna, encontraremos todos os valores da dignidade humana, da comunidade fraterna e do gozo das criaturas que desfrutamos na nossa vida terrestre numa forma perfeita. Diz o Concílio Vaticano II, GS 39: “Com efeito, depois que propagarmos na terra, no Espírito do Senhor e por ordem sua, os valores da dignidade humana, da comunidade fraterna e da liberdade, todos estes bons frutos da natureza e de nosso trabalho, nós os encontraremos novamente, limpos, contudo, de toda impureza, iluminados e transfigurados, quando Cristo entregar ao Pai o reino eterno e universal”. Deus será, então, “tudo em todos” (1Cor 15,28) na Vida Eterna.
A felicidade eterna será igual para todos? Explique!
Apesar da bem-aventurança ser essencialmente a mesma para todos porque Deus se dá inteiramente a cada um dos bem-aventurados (cf. o único denário como salário para todos os trabalharam na vinha do Senhor), ela admite graus de perfeição e modos diversos. O motivo da diferença são os diversos graus de amor a que os homens chegaram durante a sua vida terrestre. Onde há mais amor de Deus, há mais desejo e capacidade de ver e possuir a Deus, e é a este desejo que o Senhor corresponde, manifestando-se e dando-se à criatura no céu.
Portanto, o grau do conhecimento de Deus não depende da capacidade intelectual do individuo. Há pessoas de inteligência bastante limitada que podem chegar a um eminente grau de glória celeste, como também podem ter grande afinidade com Deus já nesta vida; ao contrário, há pessoas muito talentosas podem ter pouco entendimento das coisas de Deus nesta vida e menos afinidade com Ele na outra vida, se lhes falta um ardente amor a Deus; é o amor que abre o olho da mente para os mistérios de Deus tanto neste mundo quanto na existência póstuma, pois Deus é Amor (1Jo 4,8). Amor que se dá a conhecer a quem ama.
Portanto, como disse Jesus, há muitas moradas na casa do Pai, o que significa que há diferentes graus e modos em que as pessoas estão unidos com Deus na eterna bem-aventurança conforme o grau de sua santidade (amor) e de sua vocação pessoal.
É possível merecer o céu?
Podemos ter uma certa antecipação da bem-aventurança eterna nesta vida? O céu é, em primeiro lugar, dom: é aquilo que não é feito nem poderia ser feito por nós. Sendo amor gratuitamente recebido, o céu só pode ser dado ao homem por Deus e, em segundo lugar, prêmio: é o fruto da nossa colaboração com a graça de Deus. (cf. “Nas corridas de um estádio, todos correm, mas bem sabeis que um só recebe o prêmio. Correi, pois, de tal maneira que o consigais”. (1Cor 9,24); “Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não a ter ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama em Jesus Cristo” (Fl 3,12-14)
A situação final da Bem-aventurança eterna, isto é, da felicidade de uma vida de íntima comunhão com Deus e com os irmãos, pode, entretanto, ser antecipada de algum modo hoje, quer na vida sacramental, cujo centro é a Eucaristia, quer no dom de si mediante a caridade fraterna. Se soubermos gozar de maneira ordenada dos bens que o Senhor nos concede a cada dia, já experimentaremos aquela alegria e paz de que um dia haveremos de fruir plenamente.
Sabemos que, nesta fase terrena, tudo está sob o sinal do limite, contudo o pensamento das realidades «últimas» ajuda-nos a viver bem as realidades «penúltimas». Estamos conscientes de que, enquanto caminhamos neste mundo, somos chamados a buscar «as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus» ( Cl 3 , 1), para estarmos com Ele na realização escatológica, quando no Espírito Ele reconciliar totalmente com o Pai todas as coisas, «tanto as da terra como as do céu» (Ibid., 1, 20).
Por fim, conforme se vê na Constituição Apostólica do Papa Pio XII, Munificentissimus Deus, que justamente definiu o dogma da assunção em corpo e alma ao céu, que diz:
Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que a Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos São Pedro e São. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial.
No final dos tempos, toda a criação – transformada – estará unida com Deus. Isso afirma o Catecismo da Igreja Católica em seu número 1060:
“No final dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Então, os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificado em corpo e alma e o próprio universo material será transformado. Então Deus será ‘tudo em todos’, na Vida Eterna.”