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Como a Igreja Católica vê a relação entre a fé e a razão?

A harmonia entre fé e razão na visão da Igreja Católica

A Igreja Católica enxerga a relação entre fé e razão com grande alegria e satisfação. A união entre esses dois campos do conhecimento é tão importante, que inspirou a escrita do livro “Ciência e Fé em Harmonia”, que explora exatamente essa convergência. Pessoalmente, tive a oportunidade de trabalhar com ambos os campos, realizando doutorado e pós-doutorado em física, pelo ITA e pela UNESP, respectivamente, e, aos 28 anos, durante o doutorado, iniciei meus estudos em teologia. Essa experiência permitiu-me vivenciar a harmonia entre fé e razão, guiado pela graça divina.

A busca por respostas: da Física à Teologia

O estudo da Teoria Geral da Relatividade de Einstein, durante o desenvolvimento da minha tese de doutorado sobre a influência do campo magnético em explosões de supernovas, despertou em mim questionamentos profundos sobre a criação e o significado do universo. Essa busca por respostas me impulsionou ao estudo da teologia, complementando a minha formação científica com a dimensão da fé, que já me acompanhava desde a infância, em virtude da minha criação em uma família católica.

O legado da Igreja: fomento da ciência e do conhecimento

A Igreja Católica possui uma longa e rica tradição de estudo e contribuição para o desenvolvimento das ciências. Ao longo da história, inúmeros padres e monges se dedicaram à investigação científica em áreas como matemática, física, química, direito e medicina. A Igreja fundou o primeiro observatório espacial do mundo por volta de 1500, e, durante a Idade Média, as basílicas serviam como observatórios, onde os monges, utilizando dispositivos específicos, estudavam a posição dos astros.

Além disso, a Igreja Católica foi fundamental na fundação das universidades. A partir dos anos 1100 e 1200, surgiram importantes centros de ensino como a Universidade de Bolonha, na Itália, e a Sorbonne, em Paris, fundada pelo padre Robert de Sorbonne. Outras renomadas universidades como Montpellier, Oxford, Cambridge, Coimbra e Salamanca também têm suas raízes ligadas à Igreja, demonstrando seu papel crucial no desenvolvimento do conhecimento na Europa.

Desvendando a origem do universo: a contribuição do Padre Georges Lemaître

É um equívoco associar a Idade Média a um período de obscurantismo científico, ignorando o papel fundamental da Igreja no fomento do estudo e da pesquisa. A própria origem do universo, por exemplo, foi desvendada por um padre e astrofísico, Georges Lemaître. Ele, a partir da descoberta da expansão do universo por Edwin Hubble, concluiu que este teria tido um início. Apresentou seus cálculos, baseados na Teoria da Relatividade de Einstein, ao próprio cientista, que inicialmente discordou. Após uma análise mais detalhada, Einstein reconheceu a genialidade da proposta de Lemaître, considerando-a a melhor explicação para a origem do universo até então.

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A revelação divina na ciência: a convergência entre fé e razão

A Igreja se interessa pela ciência porque a ciência, em sua essência, revela a face de Deus. As equações da física, química, matemática e biologia, em sua complexidade e harmonia, apontam para a existência de uma inteligência superior. Não há acaso que possa explicar a intrincada ordem do universo. Portanto, a fé e a razão, longe de se oporem, se complementam, pois ambas emanam da mesma fonte divina.

 

Transcrito e adaptado por Jonatas Passos


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino