Naquela tarde, eu e um amigo queríamos ver um filme legal. Fomos ao Cinema, mas nem sabíamos o que nos esperava. Decidimos, meio forçados pelas circunstâncias, assistir “As Torres Gêmeas”. Sabíamos pouco sobre o filme e não julgávamos que fosse bom, mesmo assim resolvemos arriscar, afinal, estávamos tão empolgados com o reencontro que ir ao Cinema era mais um pretexto de diversão. Após os trailers e comerciais roubarem uns quinze minutos de nosso precioso tempo, o filme começou. Aos poucos cessaram nossos comentários e a euforia repentinamente deu lugar à calma, estava pronto o cenário para a gravação de uma grande lição de amor.
“As Torres Gêmeas” relata acontecimentos vividos por membros da Polícia Portuária sobreviventes ao desabamento do World Trade Center na manhã de 11 de setembro. Quem não se lembra? Os atores Nicolas Cage e Michael Pena dão vida e emoção a cada momento vivido pelos policiais McLoughlin e Jimeno, que naquela manhã de verão em New York receberam talvez a principal chamada de suas vidas.
Quando os policiais preparavam-se para ajudar os feridos da primeira torre, foram surpreendidos pelo segundo ataque e ficaram soterrados sob blocos de concreto e metais retorcidos, seis metros abaixo da área dos destroços. Apesar de não poderem ver um ao outro, os dois podiam se ouvir e, durante 12 horas, conseguiram se manter vivos falando de suas famílias, de suas vidas num misto de frustrações e esperanças.
A lembrança de pessoas queridas e o desejo de reencontrá-las era a força que os mantinha vivos. A cena faz real a afirmativa: “Quando sabemos que alguém amado nos espera, temos forças pra superar qualquer desafio”. O amor é a força que alimenta a esperança, fortalece o espírito e renova a vida.
A cumplicidade entre os dois sobreviventes é também uma grande lição de vida. Em determinado momento do resgate, o bombeiro Jimeno, apesar de extremamente ferido, chega a autorizar que cortem uma de suas pernas para facilitar a busca do companheiro que estava em situação pior que a sua, e diz: “Sem uma perna eu conseguirei viver, mas se ele morrer eu não vou resistir…”
Fiquei pensando se eu teria a mesma disposição daquele homem, o mesmo amor pela vida, a mesma cumplicidade, a mesma esperança e amizade. Destacam-se também cenas dos parentes apreensivos vivendo o calvário da espera pelos seus vivos ou mortos, enquanto lembravam o último adeus, o último sorriso, o último abraço… Cada um só desejava uma coisa: que a vida lhes desse mais uma chance!
Enquanto assistia ao filme, acontecia uma revolução em meu interior. Pensei no valor da vida e também na sua brevidade. Nunca sabemos quando vamos partir e qual é realmente a nossa última despedida… Pensei no valor que dou a cada encontro no meu dia-a-dia, mesmo os mais corriqueiros. Compreendi que vale a pena viver quando temos consciência do valor que a vida tem. E que é preciso abrir mão do que não é essencial para salvar outros.
Descobri ainda que pode não dar mais tempo de pedir desculpas, dizer eu te amo, muito obrigada, ouvir aquela música, responder um e-mail, dar um abraço, terminar o projeto… e que, por isso mesmo, eu preciso fazer tudo que posso hoje sem deixar o comodismo me vencer. Enfim, aprendi que cada dia tem seu único valor e que, portanto, preciso vivê-lo de maneira única e entusiasmada.
As lágrimas que rolaram soltas no final do longa-metragem foram também testemunhas de que compreendi a lição. Eu e meu amigo só queríamos ver um filme, mas Deus quis muito mais do que isto. Gosto desse jeito do Senhor nos surpreender e ensinar as lições da vida.