A vida conjugal é uma riqueza e um caminho de santificação, por isso, é marcada por desafios, dentre eles, o de sermos diferentes um do outro. São João Paulo II, na Carta apostólica intitulada Mulieris Dignitatem reflete, a partir da história da Criação, como o pecado original trouxe desarmonia entre o homem e a mulher: ‘‘(…) teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio” ( Gn.3,16 ). O desejo de dominação acabou gerando uma disputa dentro das relações conjugais ou até mesmo em outros tipos de relação como a de pai e filha, e assim por diante, explica São João Paulo II.
Enquanto o homem, movido pelo pecado, tenta dominar a mulher, essa, por sua vez, para que isso não aconteça, tende a querer dominar também. E as lutas entre um e outro vão se dando nas mínimas coisas, por exemplo: quem aguenta mais a dor ou quem é mais inteligente etc. Por ser causa do pecado original, infelizmente, esses conflitos são
comuns até mesmo para o casal cristão e estão na base do que dificulta o diálogo, gerando brigas ou uma paz superficial.
Na vida conjugal, o que fazer para resolver o problema da disputa entre o homem e a mulher?
O Papa João Paulo II, no mesmo documento, afirma que só Cristo pode destruir esse mal que causa tal competição. Quando Jesus nos salvou na Cruz, Ele também restituiu a relação homem e mulher ao seu plano original. Embora ainda tenhamos a tendência ao pecado, em Cristo somos capazes de entender que as diferenças existem porque somos complementares e não porque um é melhor do que o outro. Compreender isso é um caminho para um diálogo sincero, onde o amor supera as dificuldades. Podemos viver essa restauração ao plano original e, com isso, estreitar os laços, a partir de alguns passos:
1. Colocar Cristo no centro da relação
É ele quem dá forças para superar os conflitos, ele mostra a verdade que, muitas vezes, não conseguimos ver a respeito do outro e, somente com a sua ajuda é que podemos amar nosso cônjuge, mesmo com as limitações que carrega. Cada um também precisa viver, no dia a dia, a sua experiência pessoal com o Senhor.
2. Baixar a guarda
Entender que o seu cônjuge não é o seu inimigo em potencial. Lembre-se das promessas que ele também fez no altar, ou de tudo o que vocês viveram e o que os uniu um ao outro. É essa mesma pessoa que pensa diferente e que age diferente de você, às vezes, de um modo que você não gostaria.
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3. Conhecer o outro e as diferenças entre o homem e a mulher
Cada um tem uma história e uma cultura e isso em si já os faz diferentes. Somado à essa questão, o homem e mulher têm características bem próprias, além de formas de pensar, tendências e aptidões distintas. Compreender a história do outro e a sexualidade humana é fundamental na relação.
4. Buscar o perdão e a cura interior
O ser humano é constituído de um temperamento que, ainda que não o defina por completo, é responsável pela sua forma de lidar com as situações. As nossas histórias de vida geraram marcas que acabaram desvirtuando nossa personalidade, nos deixando feridos e afetando a relação com o outro. Tudo isso precisa ser curado em Cristo e trabalhado, talvez, até com ajuda profissional. É essencial curar ressentimentos do relacionamento, pedir e dar perdão. O casamento se mantém com a atitude de um perdoar o outro.
5. Crescer na maturidade
É importante o autoconhecimento para lidar melhor consigo e com o outro, buscando as virtudes para superar os desafios. Cada vez que somos capazes do autodomínio, no exercício das virtudes, mais estreitaremos os laços com o outro.
6. Dialogar em Deus
Diálogo é a conversa onde os dois falam e devem se expor sem medo. Essa prática é fundamental na vida a dois. Seguem abaixo alguns pontos para um bom diálogo que partilho, a partir de estudos e de minha própria experiência de casada:
– Rezem antes de conversar, pedindo o auxílio do Espírito Santo que uniu vocês;
– Escolham o momento e o local adequados. Na hora em que um dos dois não estão preparados não é o melhor momento de conversar, porém, ao mesmo tempo, não se pode protelar muito;
– Evitem conversas difíceis na frente dos filhos, nunca se agridam, muito menos na presença deles. O respeito é o mínimo do amor, por isso, que não haja xingamentos, gritarias ou acusações;
– Escute bem e espere o outro falar, para fazer a sua colocação não interrompa quando seu cônjuge estiver se expressando. Esteja presente, ou seja, inteiramente atento ao que seu ele ou ela fala, sem querer ir formulando
respostas;
– Evite construir ideias, acolha o que o outro disse e, se tiver dúvida, pergunte sem tirar conclusões antecipadas pela imaginação. Se lembrar de algo que o incomodou, fale. Caso não o faça, acabará explodindo isso depois e de forma
inapropriada;
– Façam combinados a partir do que os dois aprenderam na conversa, pois esses serão os propósitos de melhoraria a partir da conversa.
Caso nada disso der certo, talvez, seja hora de procurar ajuda. É bom aprender com as experiências dos outros, com direção espiritual ou até de profissionais.