Vamos começar este artigo já com uma grande verdade de nossa vida: Deus quer se casar com a humanidade! Pode-se dizer, inclusive, que se trata do resumo da Bíblia. Do Gênesis ao Apocalipse, o amor divino é revelado com a linguagem de casamento. Aliança, desposar, casar-se, união, núpcias, laços de amor, fidelidade são alguns dos vocábulos encontrados. A fim de compreendermos melhor essa máxima, comecemos com a realidade do casamento entre o homem e a mulher.
Segundo as belas catequeses de São João Paulo II sobre a Teologia do Corpo (TdC), o matrimônio é um reflexo direto do amor divino pela humanidade. Na entrega dos esposos no leito conjugal, expressa-se o “grande mistério” do amor divino e da união de Cristo com a Igreja, a esposa do Cordeiro.
Passagens bíblicas sobre o casamento
Vejamos, assim, seis passagens da Bíblia – tanto do Antigo como do Novo Testamento – que falam do amor humano que foi instituído por Deus como sinal do Seu amor e de Sua intervenção na vida de Seus filhos. Ou que falam do amor divino com a linguagem humana do amor entre os esposos:
- “O Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. ‘Eis agora aqui – disse o homem – o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.’ Por isso, o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gn 2,21-24);
- “Assim como um jovem desposa uma jovem, aquele que te tiver construído te desposará; e como a recém-casada faz a alegria de seu marido, tu farás a alegria de teu Deus” (Is 62,5);
- “Casar-me-ei contigo para sempre, casar-me-ei contigo na justiça e no direito, no amor e na ternura. Casar-me-ei contigo na fidelidade e conhecerás o Senhor” (Os 2,21-22);
- “Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: ‘Eles já não têm vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou’. Disse, então, sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele vos disser’. (…). Esse foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,1-11);
- “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra (…). Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne. Esse mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja” (Ef 5,21-32);
- “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe glória, porque se aproximam as núpcias do Cordeiro. Sua Esposa está preparada. (…) Ele me diz, então: ‘Escreve: Felizes os convidados para a ceia das núpcias do Cordeiro’. Disse-me ainda: ‘Estas são palavras autênticas de Deus’” (Ap 19,7-9).
Deus é o protagonista
Todas essas palavras comprovam que, em nossa história humana, especialmente na relação entre homem e mulher, Deus está e é o protagonista, e é quem primeiro nos ama.
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A partir das Escrituras, vemos como Deus se manifestou e interveio de muitos modos na trajetória de Seu povo, e na plenitude dos tempos, enviou o Seu Filho Único, que se fez carne e viveu todas as realidades humanas, exceto no pecado. Cristo veio para nos salvar e nos envolver nos laços amorosos de Deus, na aliança eterna com o Pai. Ele veio para nos casar com o céu!
Isso não é um mero simbolismo, mas é um “grande mistério”, como nas palavras de São Paulo citadas acima, da Carta aos Efésios. Desse modo, vemos a grandeza do casamento, no qual os esposos realizam uma entrega livre, total, fiel e fecunda à semelhança da entrega de Cristo.
Conforme aponta o pesquisador de TdC, Christopher West, no livro “Teologia do Corpo para iniciantes”, assim como marido e mulher proferem seus votos e, depois, consumam o amor no ato conjugal, Cristo também realiza o seus votos de amor na Última Ceia ao declarar: “Isto o meu corpo, que é dado por vós. (…) Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22,19-20) e, no dia seguinte, dá a vida no “leito conjugal da Cruz”.
O amor divino encarnado no casamento
“Estas são palavras autênticas de Deus” (Ap 19,9) e enfatizam que o amor conjugal não pode ser banalizado. O Sacramento do Matrimônio é nobre e possui uma alta dignidade. Se todos nós compreendêssemos essa verdade do amor divino encarnado no casamento e em nossos corpos, enquanto homens e mulheres, maridos e mulheres viveriam seus relacionamentos como autênticos sinais da eternidade! Quantas brigas, adultérios, separações e incompreensões seriam evitados!
Aqueles que são vocacionados ao matrimônio possuem uma grande, mas bela responsabilidade de conduzir o seu casamento como espelho do céu. O ato sexual será o que deve ser e simbolizará um amor “forte como a morte” (Ct 8,6).
Todos nós temos o anseio de amar e sermos amados. Cristo é a referência absoluta. Olhar para cada passo d’Ele e de Sua entrega livre, total e fecunda é sinônimo de alegria eterna.
Imitar Cristo é exigente, e o nosso pecado nos limita. Contudo, se Ele deixou o Seu exemplo, é porque sabe que homens e mulheres são capazes de amar à Sua semelhança pelo poder do Seu Espírito Santo. Ele nos inspira e torna capazes de antecipar o Céu já aqui na Terra.
Referências:
1WEST, Christopher. “Teologia do Corpo para iniciantes: redescobrindo o significado da vida, amor, sexo e gênero”. São Paulo; Cultor de Livros, 2018. pp.156.