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Como posso construir boas amizades ao longo da vida?

E se eu perguntasse a você: “O que é amizade?”, você saberia me responder? É dessa forma que iniciamos o nosso processo de descoberta de como construir boas amizades, e para isso vamos entendê-la.

Muitas vezes, aquilo que mais falamos é o que menos sabemos de verdade. Por isso, vamos entender a amizade para depois compreendermos qual o caminho para a construção de boas amizades.

Como posso construir boas amizades ao longo da vida

Foto Ilustrativa: by Getty Images / ViewApart

O que é amizade? Como ter boas amizades?

Aristóteles, um dos maiores filósofos gregos, que viveu cerca de 300 anos antes de Cristo, diz que a amizade é uma virtude ou implica uma virtude. E ele continua dizendo que a amizade é necessária à vida. “Porque sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que possuísse todos os outros bens”. Sim, meus amigos leitores, a amizade, como disse Aristóteles, é necessária à vida. Seria infértil e vazia a nossa vida se não tivéssemos amigos com quem partilhar as alegrias e tristezas próprias do dia a dia. Continua ainda Aristóteles: “A amizade também ajuda os jovens a afastar-se do erro, e aos mais velhos, atendendo-lhes às necessidades e suprindo as atividades que declinam por efeito dos anos. Aos que estão no vigor da idade, ela estimula a prática de nobres ações, pois na companhia de amigos – ‘dois que andam juntos’ – os homens são mais capazes tanto de agir como de pensar”. Para encerrar o pensamento de Aristóteles sobre amizade, ele diz que a amizade é uma alma em dois corpos.

Já para São Tomás de Aquino, santo e doutor da Igreja, a amizade está diretamente relacionada ao comportamento que precisamos ter em relação aos outros. E é também reconhecida como uma virtude. “Ora, é preciso que as relações entre homens se ordenem harmoniosamente num convívio comum, tanto em ações quanto em palavras, ou seja, é necessário que cada um se comporte com relação aos outros de maneira conveniente.” E essa virtude se chama amizade ou afabilidade.

Agostinho de Hipona, outra grande homem de Deus na história da Igreja, fala sobre a amizade a partir da experiência que ele teve com um amigo na qual narra desta forma: “Conheci um amigo, a quem amei em demasia por ser meu companheiro de estudos, de minha idade, e por estarmos ambos na flor da juventude. Juntos fomos criados quando crianças, juntos íamos à escola, juntos havíamos brincado. Mas nessa época não era amigo tão íntimo como o foi depois, embora também não o fosse tanto quanto o exige a verdadeira amizade, uma vez que esta só existe entre os que unem por meio da caridade, derramada em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. A amizade para Agostinho tem como elo a caridade que nos é dada pelo Espírito de Deus. Ele ainda completa: “Ama-se de tal modo os amigos que a consciência se julga culpada se não é capaz de amar aquele que ama, ou se não procura retribuir o amor com amor, e apenas procura na pessoa do amigo o sinal exterior da sua benevolência”. O bispo de Hipona, com essa sentença, alerta sobre o perigo de uma amizade interesseira.

A construção de boas amizades

Depois da contribuição de grandes homens para nos ajudar a entender o que é amizade, vamos agora para o maior Homem que existiu e que nos ensina como construir verdadeiras amizades. Sim, é com Jesus Cristo que daremos passos na compreensão de amizades verdadeiras.

Os nossos amigos são aqueles que nos conhecem de fato. Como falou Lawrence: “O meu nome é pertença dos meus amigos”. A amizade permite que o outro adentre na vida do amigo, fazendo com que conheça os sonhos, as alegrias, as dores e também as tristezas. E com isso, além da amizade, surge a virtude da caridade, fazendo com que somente aquele que nos ama é que sabe quem realmente nós somos. O amigo é aquele que deposita constantemente em nós uma centelha de esperança, nem tanto por ele saber o que pode acontecer no futuro, mas pela certeza de que independente do que aconteça, ele estará ao nosso lado.

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A verdadeira amizade é fundada na caridade, como disse Agostinho, e essa caridade só pode ser nos dada pelo Espírito Santo, que é derramado em nossos corações. Somente quem me ama pode me trair. Durante a vida pública de Jesus, muitos quiseram prendê-lo, mas ninguém conseguiu pôr a mão nele; apenas um amigo pode traí-lo. Mesmo com a traição, Jesus estava disposto a perdoá-lo, estava desejoso que Judas se arrependesse e voltasse para dentro da amizade, para esse espaço seguro. A verdadeira amizade deve ter sempre à disposição perdoar, dar o passo na direção do outro.

A palavra amigo pode ser entendida na definição de Kristianson: “Nunca se está realmente só quando se tem um amigo. Um amigo ouve o que tu dizes e tenta compreender o que não sabes dizer”. O amigo consegue entender o que está em nosso coração, muitas vezes quando nem conseguimos expressar. A amizade exige tempo, o conhecimento do coração exige dedicação, paciência e, acima de tudo, respeito pelo sagrado, que é o coração do outro.

Continuando a narrativa da traição, o evangelista escreve o seguinte: “Ao cair da tarde, ele pôs-se à mesa com os Doze e, enquanto comiam, disse-lhes: ‘Em verdade vos digo que um de vós me entregará’” (Mt 26,20). Com esse versículo, notamos que era noite. Assim acontece na amizade, quando não jogamos luzes no relacionamento, não conseguimos perceber com nitidez o que acontece, e erramos, traímos e machucamos aquele que amamos.

Tenha bons amigos ao longo da vida

O caminho de uma amizade é longo e exigente. Que tenhamos a coragem de nos lançar em verdadeiras amizades, que são baseadas na caridade, e que nos levam sempre para Deus. Como disse Tomás de Aquino, o amigo é aquele que quer as mesmas coisas e rejeita as mesmas coisas. Você só é amigo das pessoas que estão indo na mesma direção e têm os mesmos valores que você.

O livro do Eclesiástico (6,14-16) ensina o que é um amigo: “Amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu descobriu um tesouro. Amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu valor. Amigo fiel é bálsamo vital, e os que temem o Senhor o encontrarão”. Meus amigos leitores, o temor do Senhor é o caminho para uma amizade verdadeira.

Referências bibliográficas: 

[1] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991, L. VIII, 1. 

[2] Ibid.

[3] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Aldo Vannucchi et al. 2 ed. São Paulo, 2010. v. VI. Texto bilíngue: latim-português.

[4] AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus, 1984, L. IV, c. IV.

[5] AGOSTINHO, 1984, L. IV, c. IV.

[6] MENDONÇA, José Tolentino. Nenhum caminho será longo: para uma teologia da amizade. 5. ed. Prior Velho: Paulinas, 2012, p. 186.

[7] Ibid., p. 191

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