No hemisfério sul, o mês de outubro é embelezado pelo avançar da primavera. No âmbito devocional, esse mês é, fortemente, marcado pela figura de Maria. Em primeiro lugar, porque é o mês do Rosário – dia 7, celebra-se a memória de Nossa Senhora do Rosário. Em segundo lugar, porque é o mês dedicado à rainha e padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida – cuja solenidade se celebra dia 12. O cultivo da devoção é um forte convite a compreender qual é a missão de Maria na economia da salvação, ou seja, no conjunto da obra realizada por Deus para salvar a obra-prima da sua criação, o homem. Essa compreensão se torna possível quando aprofundamos a figura e a missão de Maria no mistério de Deus.

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Deus quis ter uma mãe
Há uma homilia mariana de um místico bizantino do século XIV, chamado Nicolau Cabasilas, na qual ele diz que “Deus criou a natureza humana para receber dela a mãe que teria necessidade para nascer”. Deus quis ter uma mãe! Deus Pai, na potência do Espírito Santo, quis uma mãe para que seu Filho pudesse se fazer carne e, pelo mistério da humanidade assumida, habitar entre nós. Deus quis para si uma mãe para que assim ele pudesse chegar até nós.
Maria ocupa um lugar proeminente na liturgia, na espiritualidade e na teologia católicas, e isso se dá não por mérito dela. Compreendemos a importância de Maria quando a situamos e a interpretamos do mistério salvífico de Deus. O autor da Carta aos Gálatas diz que quando se completou o tempo, Deus enviou o seu Filho nascido de mulher (cf. Gl 4,4). Desde a eternidade, a Trindade escolheu Maria para fazer parte de um plano que teria, por objetivo, operar a restauração integral do ser humano corrompido pelo pecado. Logo, pode-se afirmar que a antiga Eva contribuiu para a perdição e a nova Eva para a salvação.
Então, Maria é escolhida pelo Pai e pelo poder do Espírito Santo, ela se torna a mãe do Filho que se encarnou. Maria é importantíssima, porque, abrindo-se ao mistério de Deus, tomou parte na história da salvação de um povo inteiro.
A esse respeito, São Paulo VI assim se expressou aos 15 de agosto de 1971: “Ela é a porta pela qual Jesus salvador entra no mundo, é ela a causa da nossa alegria”.
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Maria e a Trindade
Por causa da sua relação com a Trindade e da sua participação na obra de restauração do ser humano, Maria ocupa um posto eminente dentro do mistério da Igreja. A esse respeito, discorre o capítulo 8 da Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II. No número 53 desse documento conciliar, Maria é interpretada dentro do mistério da Igreja. Seria um grave equívoco interpretar Maria apartada da Igreja! Os padres conciliares citam Santo Agostinho para dizer que ela é o membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e modelo excelente na fé e na caridade.
Maria entrou numa relação singular com a Trindade que resultou num benefício de salvação para toda a humanidade. Logo, só compreendemos a sua relevância quando a contemplamos dentro do mistério de Deus. Essa inserção de Maria no mistério divino não pode ser confundida com o estabelecimento de uma espécie de quarta pessoa da Trindade. A sua união com a Trindade é a inauguração de uma experiência que seria possibilitada a todos nós. Maria nos ensina que a nossa vida cristã só se realiza, no sentido pleno, quando nos colocamos no mistério divino para experimentar a comunhão que nos possibilita a salvação.
Que a Beatíssima Virgem Maria, Senhora do Rosário e da Conceição Aparecida, primeira e mais bela flor da primavera cristã, interceda por nós a fim de que alcancemos o grande objetivo da vida cristã: a comunhão perfeita com a Trindade Santíssima.
Pe Robison Inácio de Souza Santos, Diocese de Guaxupé-MG, doutorando em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.