Anunciação

O Arcanjo Gabriel: o mensageiro da encarnação

“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um Varão chamado José da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria” (Lc 1,26-27).

O Arcanjo Gabriel é conhecido por nós por meio das Sagradas Escrituras e da sua ligação com o Verbo de Deus. Mensageiro por excelência, ele é o arauto dos céus. Mas de todas as missões que qualquer outro anjo recebeu, Gabriel se destaca por, de alguma forma, ter preparado o caminho do Senhor anunciando, por primeiro, o nascimento de João o Batista; e, por conseguinte, a concepção de Jesus no seio da Virgem.

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Foto Ilustrativa: sedmak by Getty Images

Nas sagradas escrituras, no livro de Daniel, capítulos 9 e 10, o seu nome, pela primeira vez, é mencionado explicitamente onde o arcanjo vem anunciar os acontecimentos futuros para o povo de Israel no exilio, por meio do profeta Daniel. No novo testamento, ele aparece para Zacarias quando esse servindo no templo em sua classe sacerdotal, o vê de pé à direita do altar do incenso (Lc 1, 5-25).

O Arcanjo Gabriel é o portador da mensagem salvífica

Seu nome significa Fortaleza de Deus e, em algumas traduções, também homem forte de Deus. Seja qual for a tradução, aquilo que entendemos é que ele está profundamente ligado ao mistério da salvação e, sobretudo, da encarnação do Filho de Deus feito homem. Usarei uma linguagem simples no contexto da teologia espiritual. Pense comigo: desde a criação do mundo, Deus onipotente rodeado por anjos, que eternamente cantam e o adoram, e que está acima de todas as coisas, e é relação por excelência, se relaciona com seus anjos e busca a face de Adão, a ovelha perdida, que se feriu em sua queda no éden. Portanto, depois de ter mandado profetas e mensageiros, na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu próprio Filho para nos salvar (Hb 1,1-2).

Foi justamente nesta plenitude dos tempos que Gabriel foi chamado diante do trono de Deus, para entregar a maior de todas as notícias: Deus, em um gesto kenotico (esvaziamento de si), desceria das alturas para assumir a natureza corrompida dos filhos de Adão. Que mistério grande! E, certamente, o mistério faz sim que o Arcanjo Gabriel, mensageiro desses, se torne grande diante de Deus e dos Homens. Ele que sempre, desde a eternidade, tem o Verbo divino como o centro de sua adoração, agora O vê em meio aos homens de “boa vontade” (Lc 2, 14). É um mistério que nos ultrapassa e que somente somos chamados a vivencia-lo em nossa vida.

No mistério da encarnação, vemos que o processo da anunciação acontece aos poucos e, como que em uns quebra-cabeças, vai tomando forma aos poucos. A sua presença e a sua mensagem celeste à direita do altar do incenso dentro do templo de Jerusalém (Lc 1, 11) faz-nos refletir que, por meio de seus anjos, Deus escuta e responde às nossas orações que sobem até Ele como um perfume de agradável odor. Gabriel é a resposta da oração de uma geração que gemia sobre o peso da opressão estrangeira. Ele traz em sua mensagem a esperança de dias melhores, ou melhor, de dias sem fim, uma vez que a esperança que a mensagem contém é a vinda do Salvador do Mundo.

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Por que Gabriel foi o anjo escolhido por Deus?

Mas por que Gabriel? A resposta a isso encontramos pelo fato dele ser um arcanjo. Os arcanjos são os chefes dos anjos de Deus e, assim sendo, eles entregam as mensagens mais importantes. Mas Gabriel entregou a maior de todas. A esse respeito São Tomás de Aquino nos ensina: “Nada há de tão grande nos serviços divinos que não possa ser exercido por ordens inferiores. Por isso Gregório diz que “aqueles que anunciam as coisas mais elevadas chamam-se Arcanjos, assim à Virgem Maria foi enviado o Arcanjo Gabriel”. Este foi o mais elevado entre todos os serviços divinos, como aí se acrescenta” .

Normalmente, nas iconografias antigas, vemos o arcanjo ajoelhado em posição de serviço frente a Virgem Maria. No ato da anunciação, Gabriel, ao anunciar a Virgem, também está, em seu íntimo, adorando o Verbo da vida, que descerá no seio daquela Jovem de Nazaré. É o Céu que se curva frente a uma criatura, que é chamada a ser a mãe de Deus a Teotokos.

Num  artigo anterior, falei sobre como esses nossos irmãos celestes estão profundamente ligados a nós. De fato, esta plenitude de convívio de homens e anjos aconteceu por meio do anúncio que Gabriel fez soar na casa da Virgem. Eles cooperam para a nossa salvação e, por assim dizer, são nossos irmãos também no chamado. Sobre esse aspecto belíssimo, o Papa Francisco afirma: «Um aspecto que chama a atenção desde o início é que nós e os anjos temos a mesma vocação: cooperar com o desígnio de salvação de Deus; somos, por assim dizer; “irmãos” na vocação ».

Os anjos estão sempre do nosso lado

A presença do Arcanjo Gabriel como mensageiro celeste nos ajuda a refletir o quanto precisamos estar atentos à realidade desta família celeste que, pelo sacramento do batismo em Jesus, possuímos. Se você quiser crescer em um relacionamento com o arcanjo, saiba que ele sempre está perto da Virgem e do Menino em seus braços.

Que, neste tempo em que vivemos a carência da virtude da esperança, possamos olhar para os céus com os pés profundamente plantados no chão, lembrando de que não caminhamos nesta vida sozinhos, mas que estão a olhar por nós e a levar nossas orações até o trono de Deus, esses amados irmãos, servos de Deus e nossos irmãos. A família no céu, em Jesus desceu na terra, hoje, homens e anjos caminham juntos.

São Gabriel Arcanjo, mensageiro do verbo de Deus, rogai por nós!

Referências: 

1 SÃO TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica II, Edições Loyola, São Paulo 2005, Q. 112, Art. 2, p. 813.

2 PAPA FRANCISCO, Meditações matutinas na santa missa celebrada na capela da casa Santa Marta, 29 de setembro de 2017.