Maria Santíssima, nossa Mãe, é Bem-aventurada porque acreditou, isto é, porque viveu de fé, peregrinou na fé. Santa Teresinha de Lisieux, após ter participado de um retiro no Carmelo, disse um dia que: “Um sermão para lhe agradar e lhe fazer bem, deveria mostrar-lhe a vida real da Virgem, não aquilo que se poderia supor e que essa vida real da Virgem deveria ter sido muito simples”. Ela também disse que: “As pessoas apresentam a Virgem Maria como inalcançável e seria preciso mostrá-La imitável, fazendo aparecer as Suas virtudes, dizendo claramente que Ela viveu de fé”.
Como nós, dando como provas o Evangelho, onde lemos: “Eles não compreenderam o que Ele ( Jesus) lhes disse”; e esta outra frase (não menos misteriosa): “Seus pais se admiravam do que se dizia d’Ele”. Nós sabemos perfeitamente que a Santa Virgem é a Rainha do Céu e da Terra, mas Ela é mais Mãe do que Rainha (Últimos Colóquios -21.10.1897). Seguindo a orientação de Santa Teresinha, Doutora da Igreja, vamos meditar sobre a vida de Maria Santíssima, tendo como apoio um texto da revista francesa “Carmelo Secular”, n° 60/ 95, que, com base no Santo Evangelho, nos leva a considerar Maria na Sua “peregrinação na fé”:
O “rosto” de Maria revelado no Evangelho
O Evangelho nos mostra Maria como contemplativa, “a que meditava as palavras e os fatos no seu coração” e, como diria São Paulo, “como um justo que vive da féé”. São Lucas resume, nestas palavras, a atitude interior da Virgem: “Quanto à Maria, Ela conservava cuidadosamente todas essas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc. 2,19) e também, “Jesus desceu com eles, regressando à Nazaré e lhes era submisso. Sua Mãe guardava todas essas coisas em seu coração”(Lc. 2,51). Vê-se claramente que a vida de Maria se situa na aventura da fé, na peregrinação da fé. Sua atitude fundamental é “meditar”, ‘conservar todas as coisas em Seu coração”. Meditar é procurar em profundidade o sentido interior dos acontecimentos que nos chegam, vendo-os segundo a lógica do Deus vivo, que intervém na história pessoal, como o fez na história do povo de Israel.
Em uma palavra, Maria se deixa “habitar” pela graça do Acontecimento, não importa o quanto obscuro esse seja, pois o acolhe como uma “passagem”, ou um “dom” de Deus na sua vida. Podemos entender que Maria caminhou, como nós, na aventura da fé além de não se desencorajar ao longo de Sua difícil caminhada. A vida real de Maria nos mostra “o lugar onde o Senhor vê e se faz visto” e, como deseja Santa Teresinha, o mesmo deve acontecer na vida de cada um de nós. Maria nos ensinará, com seu modo materno, como adquirir a primeira atitude da vida espiritual: “crer na Luz, como se víssemos o Invisível”. Esse é o desafio da fé.
O “rosto” de Maria no Carmelo
Maria é invocada como “Rainha e esplendor do Carmelo”. Também, no Carmelo, Maria é inseparável de Seu Filho Jesus; Maria é a “perfeita adoradora do dom de Deus”.
Os primeiros monges que se estabeleceram na montanha do Carmelo, construíram uma pequena e bela Igreja dedicada ao culto de Nossa Senhora, vendo na Virgem o perfeito modelo de vida contemplativa, de intimidade com Deus. Eles vieram para a solidão do monte para “ver” a Deus com Maria, Aquela que eles acabaram por invocar como sua “irmã”, de tal modo viviam familiarmente unidos a Ela. Vestir o hábito da Virgem do Carmelo, é escolher colocar-se no coração de Maria, para viver no coração de Deus.
A beata carmelita Elisabeth da Trindade diz assim, em uma carta a uma amiga, postulante ao Carmelo:
“(…) Ame a oração e o silêncio, que são a essência da nossa Regra; peça à Rainha do Carmelo, nossa Mãe, que lhe ensine a adorar Jesus, no profundo recolhimento; porque amar, é imitar a Maria”. Porque Ela é nossa mãe e deseja ser nossa Mestra, levando-nos pela mão. Ela está sempre perto de nós, para reviver conosco os Mistérios de Seu Filho, este Jesus que Ela deseja ver nascer de novo, em nossos corações e brilhar sempre em nossas vidas.
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A Ordem do Carmelo permanece fiel à sua missão na Igreja, de se enraizar na graça das origens, para o “serviço perpétuo do Senhor Jesus Cristo e de Sua Mãe, a Santa Virgem Maria”. O Carmelo nos mostra Maria como um modelo imitável, de recolhimento e de silêncio, permitindo-nos unificar o coração pela palavra de Deus, tornando-nos por ação da Divina Graça, pouco a pouco mais transparentes e vulneráveis a este Deus, que nos “persegue” com o Seu Amor Eterno, pedindo-nos tão somente uma resposta fiel e amorosa de nossa vida, ofertada e aberta ao sopro do Espírito Santo.
Imitar e orar a Maria, por meio das atitudes da nossa vida
O “rosto” de Maria no Evangelho nos indica as suas atitudes, ao longo do quotidiano, em sua vida de fé “orientada” para Deus, Sua disponibilidade à vontade divina e Sua vida de simplicidade, confiança e abandono. Maria, modelo de fé no Evangelho, aparece na tradição carmelitana como Mestra de vida contemplativa e espelho de silêncio e recolhimento interior. Inspirando-nos constantemente em Maria, chegaremos ao momento em que nos deixaremos “formar” por Ela, para melhor vivermos “lá”, no centro de nossa alma (na nossa cela interior, como dizia Elisabeth da Trindade), onde está nossa vida de oração, “lugar por excelência onde o Senhor vê e se faz ver”.
Diz-se que Maria viveu a aventura da fé, porque foi somente pela fé que ela se sustentou durante toda a Sua vida, até a Ressurreição de Jesus. São Bernardo explica melhor, dizendo que “a base necessária à vida de oração é uma fé viva, habitada pela esperança”. Maria, para ele, é a Estrela de nossa noite. Assim, Ele nos convida a implorar o socorro de Maria nas tempestades do orgulho, da ambição e do ciúme, dizendo-nos: “Olhem a Estrela, invoquem a Maria!”.
Por fim, aqui fica uma pequena e bela oração de Frei François Dominique, OCD:
“Santa Virgem Maria, a cada dia Vós tereis tido de inventar a vossa nova maneira de dizer “Sim” a Deus; cada dia Vós tivestes de recomeçar a descobrir Deus em Vossa vida, de um modo que Vós não haveis podido prever. Ensinai-nos, pois, a não sermos mais uma coleção de páginas já impressas e acabadas, mas, a cada dia, nos apresentarmos diante do Bom Deus como uma página em branco, em que o Espírito Santo possa livremente desenhar as maravilhas que Ele quer fazer em nós. Também nós queremos viver cada dia como um novo dia de fé. Nós vos pedimos esta graça, apenas para hoje. Amém.”
Deixo também um pensamento de um monge, que viveu há muitos e muitos anos:
“Deixa o Filho de Deus crescer em ti, porque Ele já nasceu em ti, pelo Batismo; deixa que Ele se torne para ti, um imenso sorriso, uma constante exultação e uma alegria perfeitíssima, que nada nem ninguém te possa roubar” (lsaac de l Etoile).
Eduardo Rocha Quintella
Fraternidade S. J. da Cruz – O.C.D.S – B.H.