A presença de quase dois mil anos de Maria na vida dos cristãos multiplicou as festas, as orações e as invocações em todo o mundo.
Um ponto é fundamental na devoção dos católicos a Maria: saber que toda oração é sempre dirigida ao Pai, por Jesus Cristo, nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo.
O primeiro ponto a comentar sobre a devoção a Maria é a existência das festas marianas, que existem porque, em todo o mundo, a figura de Maria é lembrada com alegria, como extraordinário exemplo de vida. Um segundo ponto também muito importante é o caráter do culto dedicado à Mãe de Jesus: um culto de veneração, nunca de adoração, pois católicos e evangélicos só adoram a Deus. As festas em honra de Maria, portanto, podem ser vistas como uma homenagem de carinho e gratidão àquela que colaborou no projeto divino da salvação, exemplo magnífico de amor a Deus e ao próximo. Além disso, como aconteceu durante a vida de Jesus e de Sua Mãe, os cristãos sempre estiveram junto com Maria, e ela sempre os leva a Cristo. Assim acontece com as festas marianas hoje.
Qual o lugar de Maria no culto cristão?
Recordar e trazer à memória homens de Deus e mulheres notáveis do passado é uma tradição bíblica, já presente no Antigo Testamento. Nomes como Abraão, Moisés, Aarão, Davi e de “santas” mulheres, como Sara, Ruth e Raquel, não foram esquecidos pelo povo judeu. Para os católicos, tanto Maria quanto os “santos” são pessoas exemplares no amor a Jesus Cristo e aos irmãos, como esses homens e mulheres do Antigo Testamento haviam sido anteriormente.
É evidente que só Deus é Santo. É em outro sentido que São Paulo chama os cristãos batizados de “santos”, ágioi em grego. Na carta aos Romanos, esse termo aparece cinco vezes; em 1 e 2 Coríntios, aparece sete; em Efésios, “santos” aparece seis vezes; em Filipenses, uma vez; em Colossenses, mais uma vez; em Hebreus, duas vezes; aparece também nas cartas aos Tessalonicenses e na carta a Tito; e também cinco vezes no Apocalipse. Santos, consagrados (ou separados) são títulos frequentemente dados aos cristãos com um componente ético (cf. Cl 3,12; Ef 5,27). Nada proíbe que sejam chamados de santos alguns homens ilustres, de Deus, amigos do Altíssimo.
Esses homens e mulheres de Deus continuam vivos entre nós, continuam evangelizando pelo exemplo de sua vida de fé. Assim ocorre com a Mãe de Cristo. O culto a Maria é muito antigo entre os cristãos e foi renovado na Igreja Católica no século XX, no Concílio Vaticano II.
O lugar de Maria no culto cristão é rico de conteúdo bíblico, tem uma enorme eficácia pastoral e o reconhecido valor exemplar. As festas litúrgicas que celebram o mistério de Cristo são distribuídas ao longo do ano, e em muitas delas também está presente Sua Mãe: no Advento, no Natal, no Tempo Pascal e no Pentecostes, na Anunciação de Jesus (25 de março), na visitação de Maria a Isabel (31 de maio), na celebração das dores de Maria (15 de setembro) entre outras datas.
Mãe de Deus e nossa
Essas festas recordam fatos bíblicos. A Igreja Católica recorda e celebra o exemplo de Maria em múltiplas atitudes de sua vida: na meditação e escuta da palavra (cf. Lc 2,19.51), no Magnificat (cf. Lc 1,40-55), no qual ela agradece a Deus por sua vida, na oferta do Filho no templo, ao lado Dele no Calvário. Maria é assim, mestra de vida espiritual para cada cristão.
A Igreja Católica acolheu também no seu calendário litúrgico algumas festas populares celebradas em toda a Igreja, como a Festa da Mãe de Deus e do nome de Maria; algumas outras festas são de culto local ou regional, como Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro); Nossa Senhora de Fátima (13 de maio); Nossa Senhora Auxiliadora dos cristãos para os salesianos (24 de maio); Nossa Senhora de Guadalupe, no México (12 de dezembro); Nossa Senhora de Lourdes, na França (11 de fevereiro) etc. É sempre a mesma Mãe de Cristo que recebe nomes diferentes e reúne os filhos em sua casa para orações e conversão do coração.
A oração mais importante dos católicos, celebrada diariamente, é a ceia do Senhor, chamada Eucaristia ou Missa. Pois bem, do começo ao fim das festas, as orações e ofertas são dirigidas ao Pai, por Jesus Cristo, no Espírito Santo. A lembrança que se fizer de Maria e dos “santos” cristãos surgem como se eles fossem convidados especiais à celebração do Senhor, à Missa.
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E a oração do terço ou rosário?
Mesmo entre os católicos, nem todos entendem bem o alcance desta oração.
Constituída da meditação de um fato bíblico – do Pai-Nosso, da Ave-Maria e do Glória ao Pai –, essa oração é profundamente cristológica, um modo que os cristãos encontraram para recordar e viver as mensagens evangélicas e alguns fatos importantes da vida de Jesus.
Li uma carta apostólica do Papa João Paulo II, de 16 de outubro de 2002, e exponho aqui alguns pensamentos a respeito do terço: Sobre o fundo das palavras da Ave Maria, passam diante dos olhos da alma os principais episódios da vida de Cristo. […] A contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável. […] A contemplação de Maria tem o sentido bíblico de memória (Zakar), que atualiza as obras realizadas por Deus na história da salvação.
O rosário é um “compêndio do Evangelho”, fatos e mensagens fáceis de ser recordados também pelas pessoas que mal sabem ler a Bíblia. Recorda a encarnação do Verbo com os mistérios da alegria, os sofrimentos da Paixão de Jesus com os mistérios da dor, o triunfo da ressurreição com os mistérios da glória e mistérios da vida de Jesus e de Sua Mãe com os mistérios da luz. Não são recordados todos os fatos da vida de Cristo, mas alguns julgados importantes à espiritualidade do homem cristão.
Os mistérios da vida de Cristo e de Sua Mãe Maria estão ligados à vida do homem na terra, às suas dificuldades e alegrias. Jesus e Sua Mãe passaram por problemas que hoje vivemos: sofrimento, dor, perseguição. Pela meditação do rosário, passamos à assimilação e tudo isso, do mistério de Deus em Cristo.
O rosário, diz ainda o Papa, é um tesouro a ser descoberto. Torna-se uma caminhada pelos fatos da vida de Cristo, para que Ele se afirme na vida dos Seus discípulos como Senhor do tempo e da história.
Oração
Em meu livro ‘A vida tem a cor que você pinta’, transcrevo a oração de um grupo de jovens que rezava o terço nos mistérios da alegria, aplicando-os à própria vida.
1º mistério: “O anúncio do anjo a Maria (Lc 1,26-38). Maria apresenta-se como uma mulher pronta para colaborar. Você responde sempre sim a Deus?”.
2º mistério: “Maria visita sua prima Isabel (Lc 1,39-56). Maria foi servir sua prima Isabel, já idosa. Hoje, a quem eu vou servir?”.
3º mistério: “Natal de Jesus (Lc 2,1-21). O Cristo nasce fora da cidade, marginalizado pelos homens. Eu recebo as pessoas que precisam de mim? Os pobres?”.
4º mistério: “Apresentação do menino Jesus no templo (Lc 2,22-39). Maria e Jesus se submetem às leis de seu povo. Eu sou um privilegiado ou um homem do povo?”.
5º mistério: “Jesus é reencontrado no templo (Lc 2,41-52). Aos doze anos, Cristo tinha consciência de Sua vocação. Eu também ponho a minha vocação, meu ideal, acima de tudo?”.
Trecho extraído do livro “Maria Mãe dos Cristãos”, padre Mário Bonatti