segunda-feira santa

A negação de Pedro: o choro amargo de um amigo arrependido

Enquanto isso, um julgamento cheio de maldade e falsas acusações acontecia no Sinédrio. O acusado: um homem inocente. Seu único crime: ser Deus. No coração de todos os que O acusavam, e também no daquele que O julgava, notava-se a frieza de homens sem liberdade, cativos pelo pavor de perder o conforto e o prestígio que o mundo pode oferecer. Parecia que o vento gelado que cortava o rosto dos que lá estavam tratava-se apenas de uma reverberação da gelidez que se encontrava no interior deles mesmos, cheios de raiva e rancor.

Como a temperatura caíra repentinamente, mais que depressa, ainda durante a sessão de julgamento, alguns guardas acompanhados por servos do Sumo Sacerdote Caifás acenderam uma fogueira para se aquecerem. Mal sabiam eles que a fogueira que acabaram de acender no centro do pátio seria capaz de aquecer apenas os seus corpos, porém, não os seus corações. Quem seria capaz de aquecer perenemente o coração daqueles homens estava tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante deles.

A poucos metros, tentando entender o que estava acontecendo, encontravam-se alguns que participavam da intimidade do homem que era acusado de ser blasfemo. Dentre eles, Pedro, um simples pescador que havia deixado tudo para seguir Jesus, e vira tantos milagres realizados por Seu Mestre, que ali estava sendo humilhado. Certamente, nas pontas dos pés, ele tentava enxergar melhor o que acontecia a poucos passos dele. Talvez, tivesse até mesmo girado o pescoço algumas vezes para ouvir com mais nitidez o que estava sendo dito naquele infeliz julgamento.

A negação de Pedro: o choro amargo de um amigo arrependido

Foto ilustrativa: MicroStockHub by Getty Images

Pedro negou o sentido mais profundo de sua existência

Pedro estava tão envolvido por tal situação que mal pôde perceber que uma criada do Sumo Sacerdote aproximara-se dele. Ao fitar os olhos em Pedro, que buscava acompanhar tudo o que estava acontecendo, ao mesmo tempo em que se aquecia próximo à fogueira, imediatamente ela o reconheceu. Ao ser interpelado pela mulher, Pedro se desesperou. Ele foi reconhecido como alguém da intimidade do réu, e poderia, com ele, ser também acusado. Sentindo-se desnudo diante do olhar daquela criada, Pedro negou conhecer Jesus. Ele não se contentou apenas em negar, mas praguejou e jurou não O conhecer.

Acabara de acontecer o episódio mais triste da vida daquele discípulo de Jesus, alguém que havia recebido do Mestre tantas provas de afeto e de carinho. Ao negar que conhecia Jesus, Pedro negara o sentido mais profundo de sua existência e de sua vocação: amar a Cristo de todo o seu coração e ser pescador de homens. Como ele foi capaz de negar Aquele que o fez experimentar andar sobre as águas e, no momento em que estava afundando no meio da tempestade, agarrou-o pelas mãos e o conduziu seguro para o barco?! A fraqueza humana mais uma vez traiu Pedro, assim como trai cada um de nós.

Todo pecado, em menor ou em maior grau, é sempre uma negação de Cristo e, por conseguinte, de nós mesmos. Assim, todo pecado é uma ruína para o homem. Diante dessa realidade, a luta diária contra os pecados graves e, deliberadamente os menos graves, jamais pode cessar. E se porventura acontecer a queda, enquanto estivermos vivos, existe a possibilidade de nos reerguermos, assim como Pedro foi reerguido por Jesus enquanto afundava nas águas.

Pedro chorou

Depois da negação, Pedro chorou amargamente. Decerto, tudo o que ele vivera com Jesus passara diante de seus olhos como num espetáculo cinematográfico. As lágrimas que aquele homem derramou por causa de seu mais recente pecado, uniram-se às lágrimas que Jesus derramou ao entrar em Jerusalém ainda quando estava montado no lombo do jumentinho. Em meio aos gritos de “hosana”, Jesus chorou por causa do pecado do povo. E em meio aos gritos de “crucifica-o”, Pedro chorou por causa dos seus próprios pecados. Porém, o discípulo de Jesus logo se arrependeu!

O arrependimento sincero é sempre ocasião de reencontro com o Senhor. Embora Pedro tenha descido aos mais baixos patamares, haja vista sua negação a Jesus, seu arrependimento o fez alçar patamares ainda maiores do que ele se encontrava antes da queda. O céu, a propósito, está repleto de grandes pecadores que souberam reconhecer o seu pecado. O caminho que leva ao arrependimento possui sempre a companhia de Jesus. Assim, aquele que se arrepende jamais caminha sozinho.

Não foi por acaso que logo depois de arrepender-se, seu olhar se cruza com o olhar de Jesus. Naquele instante, em meio à vergonha que Pedro estava sentindo, o caminho com o Mestre pôde ser retomado. Um único segundo, mas que reverberou por toda a vida do pescador de homens. Não foi necessário nenhuma palavra, contudo, houve todo o entendimento.

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Aliança de perdão

Não durou muito o cruzamento entre aqueles dois olhares, que na realidade era sinal de uma aliança de perdão. Os olhares desviaram-se depois de uma forte bofetada sofrida por Jesus da parte de um dos guardas do Sinédrio. Desconcertado, Pedro entendeu tudo. Todos os que fizessem a opção de seguir Cristo não teriam uma sorte diferente da do seu Mestre. Porém, apesar da bofetada, a aliança de perdão que havia se estabelecido instantes antes não mais poderia ser quebrada por qualquer violência física. Ela extrapolava toda jurisdição material, por mais agressiva que fosse.

Diante de todo esse ocorrido, uma lição importante pode ser aprendida: a esperança adquire força especialmente no coração de quem se arrepende verdadeiramente e se volta para Deus. Eis, aliás, uma diferença entre Pedro e Judas: ambos se arrependeram de seu pecado, porém apenas Pedro retornou para Deus. Assim, a contrição do coração sempre atrai a misericórdia divina.

Pedro sofreu uma dor de amor e convida-nos a mesma coisa. A dor de amor é aquela que nos leva a sofrer por ter pecado, por ter nos afastado da amizade com Deus. Assim, ela se transforma numa dor gozosa e serve como alicerce para que Deus construa, com a nossa vida, um edifício espiritual.

Assim, que todo o nosso arrependimento jamais de transforme em desespero, mas em impulso de retorno para Deus por meio da face misericordiosa de Jesus.

Deus abençoe você e até a próxima!

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