Coisas extraordinárias aconteceram em Jerusalém naquela tarde de angústia e de dor. O céu se tornou trevas por causa de um surpreendente eclipse lunar, um violento terremoto atingiu toda a região de Jerusalém. Tão grande foi o tremor de terra, que muitos corpos sepultados na redondeza foram lançados para fora do túmulo, ficando expostos aos transeuntes. A longa e pesada cortina que separa o lugar mais santo do Templo dos demais espaços rasgou-se de alto a baixo. Tudo isso causou espanto e terror em muitos dos que presenciaram esses fenômenos.
Apavorados com tudo isso, alguns correram para as suas casas como se pudessem se proteger de alguma maneira. Outros foram para casa, não para se proteger, mas para esconder a vergonha de não ter feito absolutamente nada para ajudar aquele inocente homem que, morto, ainda estava pregado na cruz. O Calvário, que até alguns instantes estava agitado, tornou-se vazio e silencioso. Deus verdadeiramente estava morto.
Silêncio e contemplação do corpo morto de Jesus
Apenas a Virgem Maria, João e mais algumas mulheres permaneceram no local. O choro de Maria já havia cessado. Até o seu pranto, certamente, já havia ultrapassado o limite do soluço involuntário. Restara-lhe o silêncio absoluto e a contemplação do corpo sem vida de seu Filho. A tarde estava avançada e a noite já, já chegaria. Era preciso que os corpos daqueles homens fossem retirados de lá o mais rápido possível. Eles deveriam ser enterrados apressadamente antes que a primeira estrela brilhasse no firmamento, afinal, não poderiam permanecer lá no dia de sábado, que já se aproximava.
Cientes de tudo isso, José de Arimateia e Nicodemos desceram o corpo desnudo de Jesus com muito carinho e veneração. Para o mundo, um simples corpo morto e completamente mutilado. Para eles, um santuário que habitara um Deus verdadeiro. Depois de retirarem o corpo do madeiro, colocaram-no nos braços de Sua Mãe. Este abraço de dor precisava ser dado. A Virgem Santíssima tem, novamente, a posse de seu amado Filho e nenhum de Seus algozes nada mais pode fazer contra Ele. Aquele último abraço transformaram a angústia e a dor na suprema e bem-aventurada paz.
José de Arimateia precisou interromper aquele rito de despedida, e o fez com muita destreza e respeito. Por ser um homem rico e influente no Sinédrio, conseguira a autorização para retirar o corpo de Jesus e o sepultar. Um pequeno cortejo se formou e o corpo de Jesus foi levado ao honrado sepulcro que nunca tinha sido utilizado por ninguém.
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A graça de cuidar e perfumar Jesus
Chegando no local, lavaram, com extrema piedade, o cadáver mutilado de Jesus, perfumaram-no e o envolveram cuidadosamente em um lençol de puro linho comprado pelo próprio José. Nicodemos, aquele notável judeu e respeitável membro do Sinédrio que havia saído em defesa de Jesus, também estava presente e ajudava José de Arimateia nesse rito de preparação o corpo. A Virgem Maria, que acompanhava a meia distância todo o movimento, seguramente estava agradecida pela valentia daqueles homens generosíssimos.
Quem de nós não gostaria de ter estado presente nesses momentos ímpares para cuidar, com muito carinho, do corpo de Nosso Senhor? Embora não tenhamos tido a graça que tiveram José de Arimateia e Nicodemos, temos a extraordinária dádiva de poder cuidar, com muito zelo e devoção, do Corpo e Sangue de Nosso Senhor, feitos real e substancialmente presentes a cada dia sobre o altar. Dessa graça nem José de Arimateia nem Nicodemos puderam experimentar.
Então, fecharam-no cuidadosamente no sepulcro. Onde estariam neste momento os Seus discípulos? O que estariam fazendo? Talvez perambulassem sem rumo, desorientados e perdidos pelas ruas de Jerusalém. Ninguém é capaz de saber onde eles estariam, o que faziam e muito menos o que pensavam. Onde estavam os amigos de Jesus no momento em que Ele mais precisou? No fundo, não dá para julgá-los nem condená-los! Eles fizeram aquilo que muitos de nós fariam e fazem. A noite, enfim, caiu com a sua força esmagadora sobre todos os habitantes da Terra.
Deus abençoe você. Até a próxima!