É pura erudição saber que a palavra “quaresma” era, antigamente, um simples adjetivo em latim. Ela encontrava-se no início de uma frase e passou a denominar um período todo do ano litúrgico. Eis a frase em questão: “Quadragésima die Christus pro nobis tradétur”, que se traduz assim: “Daqui a 40 dias (no quadragésimo dia), Cristo será entregue por nós” para a nossa salvação. Quaresma é abreviação de quadragésima. Na frase latina, em questão, quadragésima está no feminino porque, em latim, dia, além de masculino, é também feminino. A língua portuguesa manteve a palavra no feminino.
Quaresma é, portanto, a palavra utilizada para designar o período de 40 dias, no qual os católicos realizam a preparação para a Páscoa, a mais importante festa do calendário litúrgico cristão, pois celebra a Ressurreição de Jesus, a base principal da fé cristã. Nesse período, que começa na Quarta-feira de Cinzas e termina na Quarta-feira da Semana Santa, os fiéis são convidados a fazerem um confronto especial entre suas vidas e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Esse confronto deve levar o cristão a aprofundar sua compreensão da Palavra de Deus e a intensificar a prática dos princípios essenciais de sua fé.
Quando surgiu a Quaresma
Por volta do ano 350 d.C., a Igreja decidiu aumentar o tempo de preparação para a Páscoa, que era de três dias, que permaneceram como o Tríduo Sagrado da Semana Santa: Quinta feira Santa, Sexta-feira Santa (Paixão) e Sábado Santo. A preparação para a Páscoa passou, então, a ter 40 dias. Isso aconteceu porque os cristãos perceberam que três dias eram insuficientes para que se pudesse preparar adequadamente tão importante e central evento. Surgia, assim, a Quaresma.
O número 40
O número 40 é bastante significativo dentro das Sagradas Escrituras. O dilúvio teve a duração de 40 dias e 40 noites, além disso, foi a preparação para uma nova humanidade purificada pelas águas. Durante 40 anos, o povo hebreu caminhou pelo deserto rumo à terra prometida, tendo atravessado o mar vermelho. Antes de receber o perdão de Deus, os habitantes da cidade de Nínive fizeram penitência por 40 dias. O profeta Elias caminhou 40 dias e 40 noites para chegar à montanha de Deus. Preparando-se para cumprir sua missão entre os homens, Jesus jejuou durante 40 dias e 40 noites. Moisés havia feito o mesmo. Os povos antigos atribuíam ao número 40 diversos significados. Um deles tem importância especial para os cristãos: um tempo de intensa preparação a acontecimentos marcantes na História da Salvação.
Quaresma no Brasil
A partir da década de 70, a Igreja no Brasil colocou na devoção dos fiéis que tradicionalmente acompanham, com muita piedade, a caminhada de Jesus para a Páscoa, um reforço à vivência do amor, da caridade que liberta, visto que Jesus deu Sua vida para nos salvar. Ao colocar a Campanha da Fraternidade no período da Quaresma, ela quer que sua organização e realização sejam uma mediação muito prática para a vivência da caridade, desenvolver e aprofundar a fraternidade, segundo o mandamento do amor: amar o próximo como Jesus nos amou.
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A cada ano, um tema é tratado no espírito quaresmal de conversão, por meio da meditação, da oração, do jejum, da esmola, no sentido de caridade que liberta. Para facilitar, a Igreja oferece um texto base no esquema “Ver, Julgar, Agir” e diversos subsídios de apoio, motivando e estimulando os fiéis a levarem a meditação sobre Jesus perseguido e sofredor, e as demais práticas da Quaresma para atitudes concretas em favor do outro, privilegiadamente os sofredores.
O foco da Quaresma sempre foi e continuará sendo a nossa conversão ao Senhor e ao que Ele quer de nossa vida e do mundo. Nossa conversão pessoal e institucional, porém, deve sempre se concretizar, ser visível.
Irmão Nery, FSC
Fonte: CNBB