Qual é o sentido da penitência? Certamente, não é para nos punir física ou espiritualmente. A mortificação não é um fim, mas sim um meio de chegar à santidade.
A Igreja nos ensina que, “aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado; e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro” (Catecismo n. 1488).
Olhando para Jesus, desfigurado e destruído na Cruz, é que entendemos o horror que é o pecado. Por isso Jesus veio a nós como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1,29). A nossa luta é contra o pecado; e tudo o que a Igreja nos oferece é para nos livrar dos pecados. É nesse sentido que entra a penitência. Não é fácil vencer as nossas fraquezas, as paixões desordenadas e as tentações do demônio.
Se não fizerdes penitência…
Então, assim como Jesus jejuou e orou quarenta dias no deserto para poder vencer, humanamente, as tentações do inimigo, nós também precisamos disso. De modo especial, a Igreja recomenda o jejum, a esmola e a oração como “remédios contra o pecado”, para fortalecer o nosso espírito no combate espiritual. Jesus nos alertou: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis” (Lc 13,3).
O primeiro remédio contra os nossos males deve ser a oração. Sem a oração perseverante, não temos força para vencer o pecado, pois Jesus disse: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, dizia: “Quem reza se salva, quem não reza se condena”.
Sem a oração, a meditação da Palavra de Deus e a vida sacramental (Confissão e Eucaristia), não vencemos o pecado.
Qual a penitência ou mortificação que eu preciso fazer?
É aquela que me ajuda a vencer os meus pecados.
Se eu sou soberbo, então, minha penitência deve ser o exercício de humildade. Fugir do orgulho, da vaidade, do desejo de aparecer, de me exibir, de procurar aplausos, de querer fazer valer a minha vontade, de querer falar em primeiro lugar; deixar de ser arrogante, prepotente, autossuficiente e dado à presunção. Devo cultivar o silêncio, a obediência e o último lugar.
Se o meu pecado é o apego aos bens materiais e ao dinheiro, então eu preciso exercitar – e muito! – a boa esmola e o desprendimento do mundo. São Pedro diz que “a caridade encobre uma multidão de pecados” (1 Pe 4,8). “Tenhamos caridade e humildade, e façamos esmolas, já que essas lavam as almas das nódoas dos pecados”, dizia São Francisco.
Se meu mal é a luxúria, a impureza, então vou exercitar a castidade nos olhos, nos ouvidos, nas leituras, nos pensamentos, nos atos; vou fugir de tudo que possa me excitar. Jesus mandou vigiar e orar, porque o espírito é forte, mas a carne é fraca.
Se sou irado e raivoso, vou exercitar a mansidão, não vou dizer palavras pesadas ou ofensivas aos outros; serei tolerante com quem erra e terei complacência com quem me ofende.
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Se sou invejoso, vou exercitar a bondade, vou desejar o bem a todos e nunca torcer para que alguém se dê mal em seus negócios e em outras coisas. Santo Agostinho dizia que a inveja é uma característica do demônio. Se sou preguiçoso, vou trabalhar melhor e ser diligente em servir aos outros sem interesses.
Se eu tenho o pecado da gula, então vou fazer um jejum adequado às minhas necessidades e possibilidades. Pode ser, por exemplo, deixar de almoçar ou de jantar, cortar a sobremesa ou até mesmo um jejum a pão e água.
Aceitar de bom grado
São Francisco de Sales dizia que a melhor penitência é aceitar de bom grado o sofrimento que Deus permite que nos atinja, pois Ele sabe qual o remédio que precisamos tomar. “Os males dessa existência não são punições, e sim correções a filho que ofende”, dizia Santa Catarina de Sena.
Outra boa penitência é aceitar de bom grado as repreensões que recebemos, sem revolta; é sinal de que amamos as virtudes contrárias aos nossos defeitos. Saber aceitar uma correção fraterna, praticada com humildade e mansidão, é uma boa penitência. Há muitas formas de penitência, e cada um deve se exercitar naquela de que mais precisa.