No Natal, a manifestação do Verbo neste mundo é uma manifestação de luz: uma claridade surge no céu, uma estrela guia os magos, os anjos cantam na terra “paz aos homens, objeto da benevolência divina” (Lc 2,14); e nessa manifestação simbólica de luz, iluminados também por ela, nós encontramos São José e a Santíssima Virgem.
A vida que a habitou não deixa a Virgem; essa vida está, daqui em diante, no Verbo encarnado que ela contempla e que as almas poderão agora contemplar como ela, sob o doce véu da carne que ela lhe deu. Nós gostamos de vê-la, a primeira a inclinar-se sobre o olhar que se abre do Menino Deus. Nós pensamos nas fontes cristalinas de São João da Cruz, nas cavernas de pedra; é a Virgem a primeira a conhecê-las.
Todas as luzes do Natal, os acontecimentos as confirmam: eis os pastores e eis os magos que tornam verídicas as palavras do anjo. Eis ainda, no dia da Apresentação, o canto de Simeão e as palavras da profetisa Ana. Tudo isso é para a Virgem um comentário do que ela sabia sem dúvida, mas jamais se sabe bastante dessas coisas.
A Virgem dá graças a Deus!
Mas outras palavras confirmam uma segunda luz: “Uma espada de dor transpassará vossa alma” (Lc 2,35). Ela conhece também o anúncio que faz do profeta Isaías o homem de dor, e ela já encontrou nos olhos de seu Filho o mistério da Redenção. Eis, pois, a confirmação.
Qual será essa espada? Ela não o sabe em detalhe, mas a palavra basta para fazer brilhar, em sua oração, o mistério da Redenção.
A oração de Maria do Natal até a vida pública de Jesus
A Virgem sabe que ela dá seu Filho, depois de ter dado completamente a si mesma. Ela sabe que O envia ao sofrimento e à morte, que Deus lhe dará isso. Toda a sua oração de Nazaré aí está: silenciosa, misteriosa, com luz e sofrimento, já sob o véu da Paixão, sem detalhes precisos: um conjunto de sofrimentos onde domina aquele do peso do pecado. A participação da Virgem na Paixão será, aliás, como a nossa, somente interior; é o Getsêmani.
É por esse sofrimento da Mãe do Verbo que ela gera os homens.
Virão em seguida as realizações, primeiro com o ministério público de Nosso Senhor. Maria vibra com os sucessos obtidos na Galileia, e sofre com as dificuldades na Judeia. Eis, enfim, a hora anunciada de Jerusalém. É preciso que a Virgem esteja lá, que ela cumpra sua missão de corredentora.
A oração de Maria na Paixão e na Ressurreição de Jesus
Maria sobe a Jerusalém, onde verá com seus próprios olhos os sofrimentos aos quais é preciso se unir. Notemos as disposições da Virgem nesse momento da Paixão. Mãe dos homens, é a esta segunda graça que ela sacrifica tudo; mãe de Deus, deveria defender seu Filho. Ela não o faz, pois vê os desígnios de Deus; não é somente mãe da Cabeça do Corpo místico, mas dos membros também. Maria oferece, então, seu Filho e O dá completamente, pois a segunda graça exige e comanda tudo nesse momento; poder-se-ia dizer, então, que ela nos ama mais do que a seu Filho.
A Virgem dá também a si mesma, assistindo, visivelmente e com os olhos bem abertos, à Paixão sobre o Calvário.
Quem poderá conhecer o sofrimento de Jesus? Só a Virgem o pode, pois só ela foi ao fundo da alma do Cristo, em todos os instantes, e sobretudo naquele. Maria vê em Jesus a oposição dolorosa do pecado e da pureza divina; ela ressente toda a rudeza dos golpes que caem sobre essa sensibilidade delicada e vigorosa. Entretanto, não há nela fraqueza, nem desmaio. Não. A graça da maternidade a sustenta. Ela conhece o porquê de tudo isso, e não fraqueja, nem ao grito de Nosso Senhor, nem ao seu último suspiro.
Eis teu filho!
A Virgem sabe, como o saberão os santos, que ela gera almas pelo sofrimento, e Nosso Senhor quer confirmar exteriormente essa luz interior. Ele lhe apresenta São João, em quem ela vê a humanidade regenerada: “Eis teu filho” (Jo 19,26).
Maria fica de pé após a morte do Cristo, no Calvário, e é aí que ela é a mais formosa. Parece que sua obra está destruída. Por que ficar lá? Para guardar e representar a esperança.
Tem o corpo de seu Filho entre seus braços, tem à sua disposição o sangue de Cristo, que vai poder dispensar. E porque ela é Mãe do Cristo morto, é também Mãe da Vida, Mãe do Corpo místico que vai se construir pelo mérito da morte de Nosso Senhor.
Desaparece por isso a angústia? Não. Os contrários se unem na vida espiritual. A Virgem continua firme na luta dos dois amores: a maternidade dos homens feriu a maternidade divina com um inefável sofrimento. Santa Teresa de Ávila diz que Nosso Senhor veio muito rapidamente fazer cessar essa dor da qual a Virgem teria morrido seguramente, pois pensemos que, em Maria, a oração continua sempre, todas as suas faculdades estão orientadas em Deus, para a luz, quer sejam de alegria quer sejam luzes dolorosas.
Toda a alma da Virgem vai participar também da Ressurreição.
Que alegria e que glória contemplar esta humanidade transformada, este triunfo da vida divina no corpo do Cristo, pois é também a vida que triunfa no Corpo místico; os Apóstolos lá estão. É a realização, o começo das grandes esperanças.
Sua oração sempre pacífica é, no entanto, triunfante durante os quarenta dias após a Páscoa.
Assim, toda a sua vida é de oração: receber cada coisa e as conservar em seu coração para as repassar na contemplação (cf. Lc 2, 19.51).
A oração de Maria da Ascensão ao Pentecostes
Depois é a Ascensão, a partida de Nosso Senhor. A tristeza que invade os Apóstolos teria podido invadir também a Virgem. Mas não importa que Jesus não esteja mais aqui, pois ele tem a glória nos céus; e, portanto, sua obra está lá. Os Apóstolos não o compreenderam ainda; é Maria que os prepara para receber a luz na oração e na paz, antes da chegada do Espírito Santo. Ei-lo, e ele a enche, ela, em primeiro lugar, para a ação.
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Este é o natal do Corpo místico. O Espírito que cumula a Virgem a fecunda uma segunda vez até a consumação dos séculos, e sua presença nela se une à do Verbo. É aí, nesse momento, que ela se torna Mãe de Vida. Até então, a luz lhe tinha sido velada; hoje, essa luz transborda. Compreende-se então o desejo que teve Maria de se retirar na solidão e no recolhimento, para receber em plenitude o Espírito Santo e o difundir com mais abundância sobre Pedro, Paulo, João, e sentir que a vida nascia ao redor do amor.
A oração da Virgem se aproxima então da oração de Nosso Senhor para a união do Corpo místico (cf. Jo 17, 20-26).
“Que eles sejam um comigo, pode ela dizer também, como o Verbo o é comigo, e que eles tenham toda a luz que vós me tendes dado. Eu vos peço por eles, para que eles tenham a iluminação e o amor que vós tendes derramado sobre mim”.
Eis, pois, a oração da Virgem
Nós gostamos de ver assim a Virgem, não somente na pura luz de sua irradiação de glória, mas também nos detalhes, nas modalidades exteriores que tomava sua oração.
A Virgem foi humana mais do que nós; sentiu mais profundamente do que nós, porque era mais sensível. Sofreu mais do que nós podemos sofrer.
A Virgem é também mais mãe do que todas as mães: ela é unicamente mãe.
Após Pentecostes, ela não é verdadeiramente senão Mãe, toda entregue à sua graça maternal pela qual deu seu Filho. Também nós devemos nos sentir envolvidos em seu amor maternal imenso. Maria nos amou a ponto de nos sacrificar seu Filho; ela nos restou depois dele, aumentando ainda sua graça: por isso, sempre para nós, suas capacidades de amor. Prestemos a esse amor uma homenagem também de confiança e de abandono. Entreguemos-lhe toda a nossa alma, todo o nosso corpo, pois nossa Mãe não faz distinção entre nossas necessidades: a maternidade espiritual envolve tudo. Abandonemos tudo a esse amor, quaisquer que sejam as circunstâncias em que nos encontremos.
Sejamos filhos, verdadeiramente, dessa Mãe de Deus: ele vem a nós por ela.