Tudo quanto Deus criou é bom. E uma de suas criaturas, o tempo, talvez seja a mais implacável e impassível de todas. Contudo, por fazer parte da vontade de Deus, ele é bom. Não por acaso que o próprio Deus, ao entrar e viver durante trinta e três anos no tempo, Ele o santificou. Ao penetrar no tempo humano, Deus se encarnou revelando-se a si e, revelando-se, revelou o Seu plano salvador.
Existem dois tipos de tempo: o primeiro é denominado “kairos”, em grego, e o segundo é o “chronos”, o tempo humano-cronológico. Para os gregos, o cronológico é entendido como algo destrutivo, aquele responsável por acabar com a beleza, com as forças e, por que não dizer, com a vida. Os cristãos, por outro lado, veem o kairos, o tempo de Deus, como um período salvífico por natureza. O kairos é, portanto, sempre favorável à graça de Deus.
O tempo de Deus não é como o do homem, composto por presente, passado e futuro. Para Deus, o passado penetra no presente, e o presente desvela o futuro, possuindo assim um caráter transcendente. O homem, por graça de Deus, pode experimentar o kairos e o lugar por excelência, para que ele participe do tempo de Deus, a Sagrada Liturgia dignamente celebrada pela Igreja.
O ano litúrgico e o Advento do Senhor
Assim como existe o calendário civil que vai contando os dias e, pouco a pouco, percorrendo todos os meses do ano, existe, dentro da Igreja Católica, o calendário litúrgico em que a comunidade cristã celebra a vida e a obra de salvação realizada por Cristo. Sendo assim, o tempo litúrgico é também sinal da presença de Cristo no tempo dos homens.
Diferentemente do ano civil que se inicia no dia primeiro de janeiro, o ano litúrgico inicia-se no domingo mais próximo do dia 30 de novembro. O Advento, por sua vez, faz parte de um ciclo maior chamado ciclo do Natal. Esse ciclo do Natal, além das quatro semanas do Advento, comporta o dia de Natal propriamente dito (dia 25 de dezembro) e prolonga-se com a celebração de algumas festas como a da Sagrada Família, a Festa da Santa Mãe de Deus, a Epifania e o Batismo de Jesus.
Após essa breve apresentação do contexto geral em que se encontra o tempo litúrgico que estamos tratando, chegou o momento de fecharmos um pouco mais o foco nas quatro semanas do Advento.
A palavra “advento” significa “vinda” ou “chegada”. Cabe então a pergunta: “vinda ou chegada de quem?”. Obviamente, nós católicos, preparamo-nos para a chegada de Jesus. É Ele quem já está às portas! Acontece que essa vinda possui dois significados muito importantes. O primeiro é a chegada do Menino Deus, que dignou-se encarnar no gênero humano para nos dar a salvação eterna. Portanto, celebramos com muita alegria o nascimento do Menino Deus.
O segundo significado refere-se à sua vinda definitiva, aquilo que a teologia vai chamar de advento escatológico. Sendo assim, além de nos prepararmos para receber Jesus que vai nascer, devemos nos preparar para esperar Jesus que virá gloriosamente. Conforme podemos perceber, o tempo do Advento possui um significado profundíssimo e uma espiritualidade toda singular. Se nós vivermos com verdade e com devoção o que essa liturgia nos oferece, certamente teremos a nossa vida transformada por inteiro.
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O período do Advento é dividido em duas partes
Acima, vimos que o Advento possui dois significados, um escatológico (vinda gloriosa do Senhor no final dos tempos); e o segundo refere-se ao nascimento de Jesus (encarnação do Verbo). Partindo desse princípio, a liturgia do Advento foi dividida em duas partes: a primeira que vai desde o primeiro domingo do Advento até o dia 16 de dezembro. Nesse período, nós podemos observar que toda a liturgia nos coloca em estado de espera do Jesus glorioso, portanto, evidencia-se o sentido escatológico.
O segundo momento do Advento, por estar mais próximo do dia em que se celebra o nascimento de Jesus, que vai do dia 17 até o dia 24 de dezembro, a sagrada Liturgia passa a nos preparar com mais intensidade para o Natal do Senhor. Tanto a Santa Missa com as suas orações e leituras, quanto a Liturgia das Horas, coloca-nos na expectativa do grande acontecimento da humanidade, o nascimento do nosso Salvador e redentor.
Uma vez que o Advento é um tempo de expectativa, devemos vivê-lo num espírito de profunda esperança e alegria, mas também num estado de preparação e penitência. No Advento, a alegria e a penitência tornam-se grandes amigas. Há quem discorde, afirmando que o Advento não seria tempo para penitência, porém, a própria liturgia nos insere nessa dinâmica penitencial. Por exemplo, não se canta o “Te Deum” (hino de louvor a Deus) na Liturgia das Horas, o ornamento dos espaços litúrgicos tornam-se mais sóbrios, não se entoa o Glória (salvo exceções), a música torna-se menos ritmadas dentre outras.
Não se pode deixar de falar que este é um momento especialíssimo para conversão pessoal e mudança de vida, propício para irmos em direção daquele irmão do qual nos afastamos e buscarmos a reconciliação. Esses pequenos atos de conversão também devem fazer parte dessa preparação.
Ao longo desse caminho que acabamos de iniciar, teremos a possibilidade de mergulharmos mais profundamente na espiritualidade desse tempo litúrgico tão singular que nossa amada Igreja Católica nos oferece. Desde já, gostaria que você indicasse este artigo para alguém. Gostaria de saber o que você mais gostou nele comentando aqui embaixo.
Deus abençoe você e até a próxima!