O ano de 2011, terceiro milênio, situa a sociedade, de novo, diante da contagem do tempo. Mais um ano começa. A queima de fogos, os brindes, shows, danças e folguedos familiares nos clubes, nas ruas e em todo lugar não permitem a ninguém se safar da inexorabilidade do tempo que passa. A chegada do novo ano, portanto, não pode ser saudada simplesmente como o começo de uma nova contagem do tempo.
Vale, pois, dar consideração não só festiva ao tempo do ano de 2011, mas também elaborar uma consciência mais refinada de que se está no terceiro milênio, e que dele já se passou uma década. Discernimento que remete os cidadãos todos a se confrontarem com seus valores, e a aceitarem o desafio de uma avaliação a respeito de tudo que estamos vivendo na segunda década do século XXI, no terceiro milênio. Um milênio que teve sua virada marcada não por simples mudanças, como é inevitável no tempo que passa, mas também por grandes transformações afetando a vida de todos, levando ao já conhecido refrão de que esta não é só uma época de mudanças. Trata-se do desafio da mudança de época. Na verdade, estão desafiadas a humanidade e suas sociedades num discernimento particular dos sinais dos tempos.
Essas transformações, diferentemente das ocorridas em outras épocas, são mudanças que têm alcance global.
O tempo é um desafio enorme emoldurando o dom da vida, as responsabilidades confiadas à sociedade, os serviços prestados e o modo de viver de grupos, de culturas. E também de cada indivíduo, na sua condição de sujeito de processos, responsável por escolhas e desafiado por atitudes que pautam a vivência de sua cidadania em todas as circunstâncias. O tempo não é, portanto, um dia após o outro, revelando a impotência humana para detê-lo ou controlá-lo com a soberba contemporânea, em que pesem os avanços científicos e tecnológicos, que têm dado uma configuração fantástica, revolucionária e surpreendente, em dinâmica e interação aos cenários atuais.
A realidade fugaz do tempo é uma complexidade que não se explica e não se entende por um conceito apenas. Só a simplicidade que desveste o coração humano de toda pretensão, cria a possibilidade de não ter o tempo como um aguilhão que adverte ou como mecanismo que revela a verdade de cada um. Só a singeleza comprova os enganos das escolhas ou desmascara as farsas que enganam até as mais aguçadas inteligências, rompendo o cerco de estratégias miméticas nas suas metas.
A peculiaridade do tempo é tratada sob diversas concepções e investigações, têm ponto de vista metafísico, ontológico, histórico, epistemológico, psicológico, biológico ou físico, e também sob o olhar do senso comum. O problema do tempo, portanto, pode e deve ser abordado e entendido sob vários aspectos.
Não é fácil, talvez seja impossível, agrupar sistematicamente as concepções e investigações sobre o tempo e alcançar um conceito unificado que valha para as intuições do senso comum e ajude a sustentar o desafio de enfrentar o tempo. Vale, às vésperas do ano de 2011, na segunda década do século XXI, no terceiro milênio, ter presente que o tempo é nossa dimensão existencial fundamental. Reconhecer, com nova consciência, que é preciso banhá-lo com valores, conceitos e perspectivas que permitam a contemporaneidade do tempo atual e não dos velhos tempos que não voltam mais. Os valores do Evangelho de Jesus Cristo, riqueza ética, moral, inesgotável e insubstituível, garantem a referência para fecundar o tempo no qual se tem a graça de estar vivendo.
É anacrônico ver pessoas emitindo juízos, pautando suas vidas, conversando e percebendo as coisas do mesmo lugar de um tempo que passou. O prejuízo é grande, compromete a cultura com retrocessos, numa política enfadonha e nefasta. Aprisiona instituições em atendimentos de necessidades mesquinhas, alimentando alienações perversas.
Os votos são para que, a partir desta reflexão, tenhamos consciência apurada de que tudo e todos sejam, deste tempo em 2011, do terceiro milênio.