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Solidão no fim de ano: como transformá-la em encontro com Deus

A solidão deve ser enfrentada como oportunidade de encontro com Deus

Ao findar o ano, muitos adentram num estado interior de solidão e isolamento, apesar do ritmo da sociedade que motiva o tempo todo à convivência com celebrações festivas e trocas de presentes.

A solidão em meio a tudo isso deve ser enfrentada com um caminho espiritual movido pelo Espírito Santo e como oportunidade extraordinária de encontro com Deus.

Uma mulher sorridente, com as mãos postas em oração, olha através de um vibrante vitral colorido, expressando fé e esperança.

Créditos: Arquivo CN

As três circunstâncias da solidão segundo São Tomás de Aquino

Para São Tomás de Aquino, estar na solidão é uma exceção à regra, pois o homem é um ser social por sua natureza, criado à imagem e semelhança de Deus Trindade, que é uma comunhão perfeita de pessoas. A solidão, da qual trataremos aqui, não é um vazio interior ou isolamento social, mas um lugar de silêncio e encontro com Deus.

Segundo o Santo Aquinate, a solidão é vivida em três circunstâncias: por má sorte – mala fortuna, infortúnio; por alguma doença ou deficiência física – corruptio naturae; ou por um nível de espiritualidade extraordinária – excellentia naturae, vivido por pessoas de espiritualidade elevada, as quais vivem a solidão como solicitude, introspecção e conexão profunda com Deus (Sententia Politic. I, lect. 1).

Muitos de nós experimentamos a solidão devido a uma doença – corruptio naturae. Esse tipo de solidão é uma visita de Deus, uma oportunidade para arrumar a casa interior e adentrar na solidão enquanto solicitude, que levará a um encontro com Ele.

Exemplo disso foi o que aconteceu com o rei Ezequias, que, estando gravemente doente, recebeu de Deus uma sentença pronunciada pelo profeta Isaías: “Põe em ordem a tua casa porque vais morrer, não escaparás!” (Is 38,1; 2Re 20,1). Tal mandato fez com que o rei se voltasse para a parede chorando e clamando a Deus; posteriormente, ele deu passos para organizar sua vida.

Sua oração sincera fez com que ele experimentasse o poder de Deus, que operou sua cura, confirmada com o milagre extraordinário do sol que retrocedeu (cf. Is 38,1-9).

O Advento e o caminho do batismo no Espírito Santo para a reconciliação

O Advento, entretanto, é um tempo oportuno para que, livremente, busquemos elevar nossa espiritualidade, tempo de arrumar a casa interior, de buscar essa solidão enquanto solicitude para encontrar-se com o Senhor que vem. Não sei como está sua casa, seu coração. Mas quero lhe apontar um caminho extraordinário que o impulsiona a pôr em ordem seu interior e promove o encontro pessoal com Deus: que é o Batismo no Espírito Santo.

Deixo aqui, para você, minha experiência pessoal: “Estando em desordem interior e afastada da Igreja, fui convidada a participar de um retiro espiritual chamado “Seminário de Vida no Espírito Santo”. Lá, participei das pregações, dos momentos de oração e da confissão sacramental. Tudo isso me preparou para o momento marcante, quando rezaram para que eu fosse “batizada no Espírito Santo”. Naquele momento, experimentei um profundo derramamento do amor de Deus em meu coração.

É impossível descrever essa extraordinária experiência de encontro pessoal com Deus com palavras, mas surge no interior uma certeza de fé de ser plenamente amado por Deus, uma convicção da filiação divina, um sentimento de capacitação para amar. Enfim, essa experiência pessoal deu início a um processo de transformação e um novo sentido para minha vida.

A Igreja nos incentiva a viver esses meios especialíssimos que são os retiros espirituais, pois eles proporcionam a ação do Espírito Santo, levando-nos ao encontro com Deus. Na vida da Igreja, temos um lugar propício para nos encontrarmos a Deus, que é a Liturgia. Por meio dela, temos, constantemente, acesso à graça de Deus, que atua especialmente por meio da Sua Palavra e dos Sacramentos. Além do Batismo, cito a importância da vivência do Sacramento da Reconciliação e da Eucaristia, “o poder vivificante do sacramento, que opera a
participação na vida de Deus uno e trino, porque confere a graça santificante ao homem, como dom sobrenatural. Por meio dela o homem é chamado e ‘tornado capaz’ de participar na imperscrutável vida de Deus”, ensina São João Paulo II (DeV, 9).

Meu irmão, minha irmã, repito: o Advento é tempo oportuno de “colocar a casa em ordem!”. Como diz as Escrituras: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55,6). Não tenha medo de buscar o Senhor no sacramento da Confissão, pois Ele tem poder para tirá-lo de toda solidão interior e de toda apatia espiritual.

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A reconciliação e a Eucaristia: as chaves para o encontro definitivo com Cristo

É tempo de despertar sobre o poder deste sacramento de Reconciliação com Deus, ele confere o estado de graça à alma. Ele é a chave para a graça do encontro pessoal com Deus. Como Paulo, eu lhe digo: É Deus mesmo que te exorta por meu intermédio. Em nome de Cristo te exorto: “reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 5,20). Deus em seu infinito amor te espera!

São inúmeros os lugares de encontro com Deus, concluo com a obra mais excelente do Espírito Santo para um perfeito encontro com Deus, que é a Santíssima Eucaristia. Ela contém o próprio Cristo, ensina o Catecismo (CIC, 1324). Toda vez em que se celebra uma Santa Missa, realiza-se, sacramentalmente, a vinda e a presença salvífica de Cristo na Eucaristia.

Assim explicou o saudoso Papa Bento XVI: Aproximar-se com fé deste Sacramento é “encontrar Jesus como uma Pessoa viva (…). Jesus não concede algo, doa-se a si mesmo: Ele é o ‘pão verdadeiro descido do céu’, Ele é a Palavra viva do Pai; e no encontro com Ele, acolhemos o Deus vivo” (BENTO, XVI, 2012).

Que, ao findar este ano, oremos para que todos cheguem, pela graça do Espírito Santo, à “solidão bem acompanhada”. Que sejamos todos agraciados com um poderoso encontro com o Senhor, até que chegue o Dia do encontro definitivo.

Rosa Maria Dilelli Cruvinel
Formada em Física pela Faculdade Filosofia, Ciências e Letras de Guaxupé (MG), em Teologia pela faculdade Canção Nova (SP) e leiga consagrada na Comunidade Canção Nova.