O Advento: tempo de kenosis e mistério da encarnação
Comecemos compreendendo o tamanho, a grandiosidade daquilo que celebramos no Natal. São Tomás nos diz: “Esse mistério, entre todas as obras divinas, é o que mais excede a razão humana, pois nada pode pensar-se mais admirável entre todas as obras de Deus do que o fato de que seu Filho, verdadeiro Deus, tenha-se feito verdadeiro homem. E por isso é admirabilíssimo entre todas as coisas, segue-se que todas as outras maravilhas se ordenam a fé deste grande mistério, em virtude do princípio de que o primeiro em gênero é causa dos demais”( 2018, pg. 41).
Foto Ilustrativa: VanReeel by GettyImages.
Deus saiu do seu trono e vestiu a nossa humanidade, que significa impotência, miséria, pobreza e nudez. Àquele que criou todas as coisas. O verbo de Deus encarnou-se no seio da Virgem Maria e veio habitar no nosso meio.
Sempre que quero compreender melhor esse mistério, em virtude da pobreza da nossa imaginação, recordo-me de um filme antigo chamado “Um príncipe em Nova York”, uma comédia que narra a história do filho de um rei poderoso que deixa tudo e vem morar na sarjeta, abdicando de toda sua realeza e regalias que são próprias da sua condição real. Isso nos aproxima sorrateiramente desse ato realizado pela Santíssima Trindade, que enviou à Terra um deles por 33 anos, condicionado a nossa pobreza humana. Dores, fraquezas, necessidades: tudo Ele experimentou.
Começou naquele sim, quando se encarnou e chegou à plenitude vindo ao mundo nessa grande festa que chamamos de Natal. Natal é o nascimento de Deus no nosso meio, é a kenosis, o abandono de sua realeza para estar conosco. Essa festa nos diz muito. Diz São João Crisóstomo: “Nascendo o Filho de Deus, faz Deus uma pregação ao mundo”. E o que nos diz Deus: Eu amei o mundo de tal modo, que enviei meu Filho único para que todo que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Então, abandone a imagem que você tem de que o Natal é uma mesa farta e muitos presentes. Isso é apenas uma forma de celebrar o maior presente que o universo poderia nos dar – a Salvação – é Cristo Jesus, o Senhor.
E como nos preparar para receber a Salvação? Antes das duas grandes festas da Igreja, Natal e Páscoa, nossa Igreja se veste de roxo para nos dizer que estamos nos preparando para um grande momento. O Advento e a Quaresma são tempos de preparação, de penitência, de arrependimento, de vida nova. O domingo de Cristo Rei fecha um tempo litúrgico, e o Advento nos apresenta um novo ano que começa, uma nova chance de recomeçarmos.
Essa preparação nos remete à alegria do nascimento, da vida, mas não retira o convite à conversão para a chegada do Rei. Esse tempo nos garante que Aquele que veio como menino indefeso virá uma segunda vez como um Rei tenaz, majestoso, mas justo, que julgará a terra inteira.
Prepare-se para este dia: “Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros” (Malaquias 3,2). Preparar-nos para o Natal é preparar-nos para a segunda vinda do Senhor.
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A palavra Advento: o chamado à conversão para a chegada de Cristo
A palavra Advento vem do latim adventus, e significa “chegada” ou “vinda”. Por isso nos diz, mais uma vez, São Tomás sobre esse tempo: “Fazei penitência e arrependei-vos dos vossos pecados”. Sim, o Advento deseja nos preparar para o Natal, para a chegada do Cristo, e isso só acontece com o propósito de uma vida nova. Por isso, escolha uma penitência para esse tempo, procure um padre e confesse seus pecados, participe da Santa Missa mais vezes, reze o terço todos os dias, se possível com sua família.
Deseje ser como aqueles três reis magos que olharam para o alto e seguiram aquela estrela que os conduziu até a estrebaria onde estava o nosso Menino envolto em faixas. Eu sei que, nesta época do ano, somos assaltados por muitas preocupações, e elas também possuem seu lugar de importância. Estar com a família, viver uma noite de celebração, cabem até os presentes. Mas não permita que aconteça com você o que fez Marta, permitindo que tantas preocupações a arrancassem do essencial, que era estar aos pés do Senhor. Essa é a melhor parte, e eu lhe garanto que preencherá sua vida e seu coração mais do que qualquer outro presente material que esse mundo possa lhe oferecer.
Preparemo-nos, porque Ele chegará, e nós não sabemos o dia nem a hora. Enquanto isso, unamo-nos à Igreja dizendo: “Maranatha! Vem, Senhor Jesus”.
Um bom Advento para você!
Meiriane
Missionária da Comunidade Canção Nova
