✝️ Santo Inácio de Loyola

Vencer a si mesmo, ordenar a vida e os afetos

O jovem Iñigo, antes de se tornar Inácio de Loyola

O jovem Iñigo (1491), antes de se tornar Inácio de Loyola, viveu intensamente uma vida como a maioria dos jovens rapazes do seu tempo. Iñigo, antes da conversão, arriscou a vida toda por suas paixões e pela meta que ele tinha, ser grande, alcançar a glória do mundo. Mas foi na batalha de Pamplona (1521) que a vida dele deu uma guinada.

Santo Inácio de Loyola.

Uma bala de canhão foi suficiente para redimensionar tudo em sua vida. Acamado e impossibilitado de voltar às batalhas e defender o reino ao qual servia, iniciou uma grande batalha de volta à sua própria vida e história. Pouco a pouco, ele foi sendo conduzido ao que hoje chamamos de primeira conversão a partir da leitura espiritual da vida de Cristo e dos Santos. Percebeu o quão vazia e desprovida de sentido estava a sua vida. Entrou em crise e optou por ir atrás de responder as perguntas que bateram à sua porta naquele momento da vida: qual o sentido da minha vida? O que posso fazer por Cristo? Se alguns santos fizeram tanto, por que eu também não posso? E assim, deixou tudo para trás e saiu meio manco em busca de si mesmo e de Deus.

A profunda experiência mistica de Inácio de Loyola

Em Manresa, à beira do Rio Cardoner, ele fez uma profunda experiência mistica, quando percebeu que tudo vinha de Deus e para ele voltava. Viu, aí, o movimento da sua vida, e que esta deveria voltar para Deus como serviço e amor. Serviu aos pobres, mendigou, mas nunca mais abandonou a sua vida interior.

Foi sentado à beira do rio da sua vida que ele se abriu à nova etapa da peregrinação interior, a qual chamamos de segunda conversão. Ele percebeu que era necessário sair do centro, sentir e saborear o modo como Deus trabalha sempre e como cuida de tudo e de todos. Percebeu como todas as coisas brotavam do alto, e também que tudo o que tinha e era, assim como os dons particulares, provinha de Deus.

Passo a passo, Inácio de Loyola vai anotando tudo o que vivia internamente e, assim, nasceram os Exercícios Espirituais e o Diário Espiritual. Dois registros fundam então uma escola nova, conduzindo homens e mulheres na direção daquele que tudo habita.

As duas etapas da conversão de Inácio

As duas etapas da conversão de Inácio fizeram brotar para a Igreja um vasto material escrito e, ao mesmo tempo, prático, uma vez que Inácio aplicava o que escrevia na vida de várias pessoas. O seu ministério, primeiro como leigo e depois como padre, foi a escuta profunda e a pregação de Exercícios espirituais.

Inácio inaugurou alguns novos modos de orar a partir da atenção e da respiração, ao mesmo tempo, do encontro com o Senhor “como um amigo fala a outro amigo”, fazendo brotar uma oração que criava relação da criatura com o Criador.

Essa nova relação, em silêncio e escuta profunda, ajudou que fossemos em direção àquilo que nos falava dentro, ajudando-nos a perceber que o que sentíamos tinha nomes: consolação e desolação. Essa identificação, silêncios, orações, atenção plena na vida e na palavra, nos ajudariam a tomar decisões e fazer escolhas, “eleições” para a vida, ou mesmo reformá-las, mas sempre a partir da ordenação dos afetos e da vida interior, para que não nos deixássemos decidir por afetos desordenados. Sendo assim, a espiritualidade inaciana é fruto da experiência vivida por Inácio, aplicada por ele na vida de outras pessoas, e que hoje figura como um tesouro cada dia mais atual.

Inácio de Loyola, o santo do discernimento

Inácio de Loyola, o mestre dos desejos, é o santo do discernimento. Ele aponta para esta mais do que nunca necessária vida interior e, ao mesmo tempo, aponta para uma fé acompanhada, ou seja, potencializou o papel fundamental da orientação espiritual, mostrando que Deus fala e se relaciona, mas que é necessária uma terceira escuta, a de uma pessoa que ajuda a discernir as “moções interiores” em busca da tão desejada vontade de Deus. Imaginemos que estamos falando do século XVI, quando tudo estava se abrindo ao mundo moderno e que, ao mesmo tempo, estava a Igreja vivendo um momento de mística profunda com os tão grandes místicos espanhóis, como Teresa e João da Cruz.

Neste caminho, Inácio de Loyola torna-se referência para quem quer entrar neste caminho de peregrinação interior, afinal, ele mesmo se intitulou de o Peregrino em sua autobiografia. Ele tinha muito claro que habitava um momento da história em que era necessário lucidez, discernimento e generosidade para servir e amar a Cristo e a Igreja de Cristo.

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Vencer a si mesmo, ordenar a vida e os afetos

A história de Inácio de Loyola é um hino de gratidão ao modo como Deus trabalha em nossa alma, mesmo que não tenhamos a clareza suficiente, mas ele nos revela na história de tal santo que o seu amor nunca nos abandona, e que sempre é tempo de voltar para casa, habitar a sua casa interior e não ter medo de fazer as perguntas fundamentais para a vida e para vencer as batalhas mais profundas: o que fiz por Cristo? O que faço por Cristo? O que devo fazer por Cristo? Com estas perguntas, nunca estaremos longe de conhecer a Sua vontade.

Vencer a si mesmo, ordenar a vida e os afetos será sempre um convite para quem deseja ir na contramão de uma sociedade sem espírito, sem alma e sem eternidade, que valoriza o estético, o tétrico e a falta de empatia com os irmãos e irmãs, de modo especial os preferidos do Reino, os mais pobres.

O Exemplo de Inácio de Loyola nos ajuda, hoje, a entender que sem a oração pessoal, sem o silêncio e sem o discernimento, não estaremos prontos para escutar o Espírito que fala à Igreja, como nos lembrava tanto o Papa Francisco em seu caminho sinodal, sendo hoje, aprofundado pelo Santo Padre Leão XIV. A santidade hoje passa pela vida interior, pelo serviço e pela generosa abertura ao “Espírito que ora em nós”, para que aprendamos dele, “pois não sabemos orar como convém”.

Santo Inácio, interceda por nós. Amém.

Pe. José Laércio de Lima SJ