✝️ Coragem na fé

São Cosme e Damião: faróis de caridade, fé e martírio

Caridade desinteressada: o amor que cura corpo e alma

A virtude que mais ardentemente irradia da vida de Cosme e Damião é a caridade desinteressada. Como médicos, eles não viam a profissão como um meio de enriquecimento, mas como um serviço a Deus e aos irmãos, especialmente os mais necessitados. O Catecismo da Igreja Católica nos recorda que “a caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus” (CIC 1822). Em uma época em que a medicina podia ser um privilégio, eles a democratizaram pelo amor.

“A cura do diácono Justiniano”, de Fra Angelico. Fonte: Wikimedia Commons

Cosme e Damião encarnaram essa verdade estendendo suas mãos curadoras a todos, sem distinção de crença ou condição social, refletindo a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37). Suas vocações perpassavam a cura física; eles eram instrumentos da graça de Deus também para a cura espiritual.

Ao aliviar o sofrimento do corpo, abriam portas para a mensagem do Evangelho, testemunhando o poder de Cristo que “curava toda doença e toda enfermidade entre o povo” (Mt 4,23). Eles compreendiam que a verdadeira saúde abrange a totalidade da pessoa, corpo e alma, e que o amor de Deus é o remédio mais eficaz.

Coragem e fé inabalável: o testemunho até o martírio

Diante da brutal perseguição aos cristãos no século III, São Cosme e Damião permaneceram firmes em sua fé em Jesus Cristo, recusando-se a adorar os ídolos pagãos, mesmo sob as mais terríveis torturas. Essa fidelidade até o martírio é o ápice da virtude da fé. Foram martirizados no ano de 303. São considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina.

Os irmãos médicos viveram a exortação São Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4,7), oferecendo suas vidas como sacrifício, transformando a dor em um hino de louvor a Deus.

O martírio nos lembra que “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”, como afirmou Tertuliano. A vida de São Cosme e Damião é um farol de coragem, exemplos vivos de que a fé verdadeira não se dobra diante das adversidades, mas se fortalece na tribulação. Diante dessa história, somos desafiados a examinar nossa própria fé: estamos dispostos a defender nossas convicções, mesmo quando isso nos custa caro?

Imitação das virtudes e o discernimento da fé

A vida de São Cosme e Damião oferece profundas lições para todos nós. Eles nos inspiram na:

1 – Praticar a caridade: estender a mão aos necessitados, a oferecer nossos talentos e tempo em serviço ao próximo, sem buscar reconhecimento ou recompensa.
2 – Viver a coragem cristã: diante dos desafios do mundo, vivermos a ousadia de testemunhar nossa fé, defendendo os valores do Evangelho com convicção e amor.
3 – Buscar a cura integral: compreendamos que a intercessão dos santos não se limita à cura física, mas nos convida e nos remete a buscar a cura integral, uma purificação mais profunda, buscando a reconciliação com Deus e a cura da alma através dos sacramentos.

A fé católica: esclarecimento à devoção e práticas não lícitas

É importante, neste ponto, fazer um esclarecimento fundamental à luz da fé católica. A devoção a São Cosme e Damião, como a todos os santos, é uma prática lícita e salutar, que nos convida a imitar suas virtudes e a recorrer à sua intercessão junto a Deus.

A fé católica, fundamentada na Sagrada Escritura e na Tradição, enfatiza que a adoração é devida somente a Deus. Aos santos, tributamos a veneração, honra e súplicas de intercessão, reconhecendo neles exemplos de vida cristã e nossos irmãos no céu que rogam por nós.

“Templo de Rômulo”, atual Igreja de Santi Cosma e Damiano, em Roma, foto de Anthony M.

No entanto, é crucial discernir as práticas que são conformes à doutrina da Igreja daquelas que não o são. Dentro deste contexto, é imperativo afirmar que a prática de distribuir doces ou “guloseimas” em nome de São Cosme e Damião, ou de qualquer outro santo, como forma de “pagar promessas” ou para “atrair bênçãos”, não é uma prática lícita nem coerente com a fé católica. Essa prática está associada a sincretismos religiosos e cultos populares que desvirtuam a genuína devoção aos santos.

A Igreja Católica nos ensina que a verdadeira promessa é um ato de fé e de amor a Deus, que se expressa em obras de caridade, oração, penitência e conversão de vida. “Quando alguém faz um voto ao Senhor ou um juramento que o obriga a uma abstinência, não violará a sua palavra; fará tudo o que prometeu” (Nm 30,3). O cumprimento de uma promessa é um compromisso espiritual, não uma troca material.

As bênçãos divinas não são “compradas” ou “trocadas” por ofertas materiais como doces. Elas são dons gratuitos de Deus, obtidos pela oração fervorosa, pela vivência dos sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Reconciliação, e pela prática da caridade. “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7,7).

Leia mais:
.:A verdadeira história de São Cosme e São Damião
.:O futuro da santidade passa por aqui
.:Martírio de São João Batista: cabeça e coração

Evitar o sincretismo é fundamental

A Igreja Católica, em sua pureza doutrinária, alerta contra a mistura de elementos de diferentes religiões ou cultos, que podem levar a práticas supersticiosas e desviar os fiéis da verdadeira adoração a Deus. O Documento de Aparecida, por exemplo, exorta os fiéis a “purificar a religiosidade popular de elementos contrários à fé e à moral cristã” (DA 260).

Portanto, a genuína devoção a São Cosme e Damião nos convida a imitar sua caridade, sua fé e sua coragem, e a buscar a intercessão deles com um coração contrito e confiante, sempre dentro dos preceitos da fé católica.

Que o exemplo desses luminosos mártires nos inspire a viver uma vida que seja, ela mesma, um testemunho vivo do Evangelho, curando, amando e perseverando na fé até o fim. E onde quer que estejamos, com uma caridade desinteressada, fidelidade inabalável a Cristo, possamos, através de uma reflexão profunda e convidativa, estar de ouvidos e corações atentos ao forte apelo de também servir sempre com generosidade amorosa ao próximo, e atentos aos mais necessitados.

Nilza Maia
Membro do Núcleo da Comunidade Canção Nova, Jornalista. @nilzamaiacn