Este é o terceiro artigo desta série sobre Santo Agostinho. No artigo anterior, tivemos a graça de conhecer um pouco mais sobre a vida apostólica do Bispo de Hipona, além disso, descobrimos alguns frutos de sua evangelização. Neste artigo, falaremos mais detalhadamente de sua batalha contra os pensamentos heréticos de seu tempo.
Anteriormente, vimos que Agostinho não tinha pretensões de ser ordenado padre, menos ainda, bispo. Queria apenas fundar um mosteiro e lá viver em profundo silêncio e oração. Porém, os planos de Deus não eram os mesmos que os de Agostinho. Assim, inspirados por Deus, o povo o aclamou sacerdote e, posteriormente, bispo. A Igreja apenas sacramentou a vontade de Deus que se manifestava pela aclamação do povo.
O que são os pensamentos heréticos?
A partir desse acontecimento que o levou a ser ordenado até o momento em que adormeceu no Senhor, não se passou um único instante em que não estivesse na trincheira lutando virilmente contra os variados e terríveis erros doutrinários que ameaçavam a fé católica. Agostinho precisou enfrentar, com caridade e fortaleza, pensamentos heréticos como o maniqueísmo, o donatismo, o pelagianismo e arianismo. Sua empresa foi tão bem sucedida que ele não apenas fez cessar a disseminação dessas falsas doutrinas, como recuperou as almas que haviam se desviado para tais erros.
Dentre essas heresias, tornou-se um dever de consciência para ele, combater o maniqueísmo. Diga-se isto pelo fato dele mesmo ter permanecido durante nove anos nesta seita. Agostinho havia se enveredado em direção ao maniqueísmo porque seu espírito jovem e inquieto andava em busca da verdade. Ademais, esta seita ousava responder os mais agudos questionamentos acerca do mal.
De modo geral, o maniqueísmo afirmava a existência de duas entidades antagônicas (o bem e o mal) e pregava a oposição entre a matéria e o espírito. Ao fim, Agostinho descobriu que a verdade não estava naquele lugar. Quando se deu conta disso, ele passou a redigir os grandes tratados sobre o livre arbítrio e a natureza do bem e, em resumo, ele mostrou que tudo aquilo que foi criado por Deus é bom na sua essência. A luta contra o maniqueísmo durou vinte anos e esta corrente herética saiu esgotada desta dura batalha.
Donatismo
O Bispo de Hipona também combateu uma heresia chamada de donatismo. No fundo, Agostinho sempre nutriu desprezo pelo pensamento donatista, mesmo antes de sua conversão. Nosso Bispo lançou-se com tenacidade em oposição a esta heresia devido ao gravíssimo erro a que ela poderia levar os cristãos da época.
De modo geral, os teóricos da seita donatista sustentavam que somente os santos poderiam fazer parte da Igreja e que os pecadores estavam impiedosamente excluídos. Até mesmo muitos bispos estavam sendo considerados indignos de dirigir os seus fiéis e de administrar os sacramentos. Este escrúpulo excessivo estava a ponto de provocar um cisma na Igreja.
Agostinho, percebendo a gravidade daquele movimento herético e movido pelo desejo de permanecer fiel à Doutrina da verdadeira Igreja, viu-se obrigado a fazer frente, praticamente sozinho, ao clã donatista. De fato, Agostinho precisou ser um leão da fé, uma vez que a igreja cismática talvez tivesse mais adeptos na África do que a verdadeira Igreja de Cristo. Foram, justamente, os adeptos desta seita que armou uma emboscada para assassinar Agostinho (fato narrado no segundo artigo). Em suma, Agostinho firmou a ideia de que a ação de Deus e a validade dos sacramentos não dependem da santidade do ministro.
A luta contra o donatismo ainda estava no seu auge, quando surgiu um novo perigo: o pelagianismo. Agostinho, não se esquivou de enfrentá-lo. Mesmo tendo razões para tal, ele não o fez. O pelagianismo proclamava a onipotência moral da vontade. Eles acreditavam que o pecado original não existia e que o homem pecava simplesmente pelo fato de querer pecar. Em outras palavras, não existia na natureza humana uma falha essencial ou uma força escondida que o empurrava para o mal.
Este pensamento era extremamente grave porque levava a pensar que o batismo, por exemplo, não era estritamente necessário. O que mandava, no fundo, era simplesmente a vontade do homem. Como grave consequência, a Redenção também perdia o seu sentido. Assim que Agostinho se inteirou dessa doutrina, não titubeou, colocando-se, imediatamente, na tarefa de produzir obras refutando ponto a ponto desta heresia. Escreveu, por exemplo, tratados monumentais do ponto de vista doutrinário sobre a graça de Cristo e o pecado original. Em suma, ele perseguiu o donatismo sem desanimar até que Roma condenasse este pensamento no Concílio de Cartago.
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Heresia ariana
Como se tudo isso não bastasse, nos últimos anos de sua vida, ele ainda teve que enfrentar a grave e complexa heresia ariana. Em resumo, esta heresia afirmava que havia uma diferença entre a pessoa do Pai e a do Filho. No raciocínio ariano, portanto, existia uma diferença de substância entre o Pai e o Filho. Somente mais tarde, o Concílio de Nicéia afirmou a consubstancialidade entre o Pai e o Filho, ou seja, eles têm a mesma substância embora sejam pessoas diferentes.
Nota-se, portanto, que a vida de Agostinho não foi tranquila ou isenta de preocupações, pelo contrário, certamente ele perdeu muitas noites de sono debruçado em seus escritos dogmáticos, morais, filosóficos, exegéticos, pastorais, sem nunca perder de vista as necessidades cotidianas de suas ovelhinhas mais próximas. O mais impressionante é que ele foi capaz de fazer tudo o que fez, mesmo possuindo uma saúde sempre debilitada.
No próximo artigo, abordaremos a importância do pensamento de Agostinho para a sociedade de hoje e o quanto os seus escritos tornaram-se sempre atuais.
Deus abençoe você e até a próxima!