Santa Cecília nasceu em Roma, no século II da era cristã, por volta do ano 150. Naquele tempo, a capital do império romano era também a capital do paganismo, da idolatria e do relativismo, o centro de todos os vícios de um mundo degradado; e os cristãos eram terrivelmente perseguidos. Santa Cecília pertencia a uma das mais ilustres estirpes romanas, que, desde 400 anos antes de Cristo, já contava entre seus membros: cônsules, pretores e senadores. Entre os seus antepassados, houve vários cristãos, mas seus pais eram pagãos.
Quando atingiu os 13 anos de idade recebeu o sacramento do Batismo, mas segundo se deduz das Atas do martírio dela, desde sua primeira infância ela já foi sendo instruída na doutrina católica pela sua tia que era católica. Por onde Cecília ia levava consigo os Evangelhos escondidos nas dobras de sua túnica, pois os cristãos não podiam expressar publicamente sua fé.
O voto de virgindade perpétua de Santa Cecília
Santa Cecília era muito bonita, rica e culta. Frequentava os mais brilhantes e luxuosos salões da aristocracia romana. Tendo chegado à idade de se casar, seus pais começaram a procurar um noivo para ela, dentro das fileiras da nobreza. Encontraram, então, Valeriano, um rapaz muito bem apessoado, de bons costumes, mas pagão. Pelas leis romanas, os pais de uma moça podiam obrigá-la a se casar. Cecília ficou muito aflita, pois, por um lado, ela não podia desobedecer aos seus pais; e, por outro lado, não queria violar o seu voto de virgindade perpétua.
À medida que se aproximava a data do seu casamento, aumentava a angústia de Cecília, preocupadíssima com a preservação de sua castidade. Começou, então, a fazer jejuns rigorosos e a rezar muito. Quando chegou o dia da cerimônia, as duas famílias se reuniram na casa da noiva. Valeriano estava muito contente. Cecília compareceu vestida com uma túnica de lã branca (que simbolizava a pureza e a simplicidade). Mesmo contrariada, Cecília participou dos rituais pagãos durante a cerimônia.
À noite, conforme os costumes da época, a esposa é conduzida à residência do marido numa espécie de procissão, com tochas e cortejo. Depois de toda a festa, Cecília foi conduzida às portas da câmara nupcial, ornado com todo luxo romano, Valeriano vinha atrás. Quando os dois ficaram a sós, Cecília explica a Valeriano sobre seu voto de castidade, dizendo do seu amigo, um anjo enviado por Deus para guardar sua pureza. Valeriano não acredita e diz que só aceitaria viver a castidade também, se o mesmo anjo aparecesse a ele. Cecília, ousadamente, convida Valeriano a ser batizado e se tornar um cristão, pois só assim ele veria o anjo. Valeriano aceitou, e sua experiência foi tão forte que, ao chegar no quarto para contar a Cecília, viu também o anjo da pureza. A partir daí, aceitou viver com ela a castidade.
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O martírio
Juntos viveram as perseguições aos cristãos; e Valeriano foi o primeiro a morrer. Foi martirizado junto com seu irmão que também tinha se convertido. Como Cecília era uma dama romana dotada de personalidade e nível social, decidiram que ela não morreria decepada pela espada. Ela seria colocada numa das dependências do seu palácio e morreria asfixiada por inalar vapores quentíssimos de um fogo violento que viria de uma caldeira. Este modo de se “desfazer” dela era o jeito de evitar o tumulto do povo, pois ela era muito amada.
Cecília foi conduzida ao local preparado para a sua morte, mas, para a surpresa dos seus algozes, ela passou no local do dia inteiro sem ser incomodada por aquele vapor. Um orvalho celestial refrescava a temperatura do local. Por mais que aqueles homens aumentassem a lenha para atiçar o fogo, mesmo assim, Cecília permanecia invulnerável. Então, Almachius, o homem que decretou sua morte, mandou que lhe cortasse a cabeça. O soldado lançou um forte golpe sobre ela, mas não conseguiu abater a cabeça de Cecília. Tentou três vezes, e a cabeça de Cecília não se separava do corpo dela. Cecília caiu por terra, derramando sangue, e aquele carrasco ficou aterrorizado com o que via.
Uma multidão de cristãos, que aguardavam fora da casa a consumação do martírio, vendo que o soldado foi embora, entraram respeitosamente no local onde ela estava. Eles contemplavam um espetáculo ao mesmo tempo sublime e lamentável: Cecília agonizando e sorrindo para esses pobres que ela mesma havia catequizado. Durante três dias inteiros, Cecília agoniza. Uma multidão rezava ao redor dela, pedindo que ela se restabelecesse, e ela os exortava a permanecerem firmes na fé. Num desses momentos, apareceu o bispo Urbano, seu grande amigo. Eles se entreolharam e ele contemplava Cecília, estendida como o cordeiro do sacrifício sobre o altar inundado de sangue. Cecília começou a orar e a cantar, pedia a Deus que cuidasse dos seus pobres. E, assim, cantando louvores a Deus, Cecília partiu para a vida eterna.
O cântico de Cecília
A tradição considera Santa Cecília a padroeira da música sacra, dos músicos, dos cantores e dos fabricantes de instrumentos musicais. Ao que parece, aquilo se baseia num trelho do Ofício de Santa Cecília: “Cantantibus organis, Caecilia Domino decantabat”. Frase alusiva a um episódio dela com Valeriano: enquanto os músicos tocavam e os convidados se divertiam, ela se pôs a cantar a Deus, dentro de seu coração, lhe pedindo graças especiais para preservar a sua virgindade. O cântico de Cecília era, pois, de uma natureza diferente das canções que os convidados ouviam. E não só diferente, mas era muito superior, era o canto do Céu.
Juliana Moraes – Missionária da Comunidade Canção Nova