Uma vez, São João Bosco teve um sonho significativo. O santo sonhou que estava no inferno, assistindo a uma reunião que os demônios faziam com o objetivo de destruir a obra salesiana, que se expandia para o mundo inteiro, arrancando das trevas do pecado a juventude mais carente e abandonada.
Dom Bosco assistia à reunião diabólica. Em dado momento, levanta-se um diabo e propõe aos demais arrasar a obra de D. Bosco através da luxúria, tentando os padres salesianos pelas obras da carne. Quando já havia um certo consenso, e todos achavam que era uma boa estratégia para destruir a Congregação de D. Bosco, eis que se levanta outro diabo e convence os demais que este caminho não teria sucesso. Disse a todos que estava convencido de que D. Bosco já tinha incutido nos seus filhos um grande amor à pureza e à castidade, e que de nada adiantaria tentá-los a cometer esses pecados. E acabaram todos se convencendo de que ele tinha razão.
Em seguida, levanta-se outro diabo e propõe derrubá-los pela gula, o excesso da comida e da bebida. Depois de alguma discussão, levanta-se outro espírito infernal e também convence a todos de que esse caminho também não teria sucesso, já que, segundo ele, D. Bosco soube incutir nos seus salesianos o amor à temperança, evitando comer e beber qualquer alimento nos intervalos das refeições. E todos desistiram da ideia. Logo levanta-se mais um endiabrado e sugere que se derrube os apóstolos de D. Bosco pela preguiça.
A tentação aos filhos de Dom Bosco
Após a discussão, acabaram todos chegando à conclusão de que também essa estratégia não funcionaria, já que o ‘pai e mestre dos jovens’ soubera formar os seus filhos no amor ao trabalho, acordando cedo e deitando tarde, não permitindo-se uma vida de comodismo, omissão e negligência no serviço de Deus. E, da mesma forma, desistiram. E a reunião continuou com várias propostas sobre a maneira de como tentar os filhos de Dom Bosco, fazendo-os deixar o apostolado dos jovens.
Nessa linha, foram propondo os pecados capitais: ganância, ódio, inveja, etc; mas nenhum deles parecia adequado ao intento do inferno, já que o grande Santo soubera bem prevenir os seus sobre os perigos desses pecados e a necessidade de manter a ‘oração e a vigilância‘ constantes.
Quando já estavam desistindo do intento maligno da reunião, eis que se levanta um diabo mais astuto que os outros, põe-se no meio de todos, e afirma saber qual a maneira de derrubar os padres : ‘Vamos tentá-los pelo orgulho’. E antes que os demais espíritos malignos conseguissem desistir da ideia, eis que D. Bosco acorda, suado e ofegante, como se saísse de uma batalha.
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O Santo então percebeu que essa seria a pior tentação para os seus filhos: ‘a soberba’. Logo na manhã seguinte, reuniu todos os seus religiosos, contou-lhes o sonho e advertiu-os deligentemente sobre o perigo da soberba, o amor-próprio que nos faz cheios de vanglória, desejo de aparecer, de se exibir, de se sentir melhor do que outros, de se revoltar, desobedecer etc. Sem dúvida é o pior pecado. Pela soberba, que é falta de humildade, os anjos maus se perderam; Adão e Eva lançaram a humanidade na perdição, pela qual Jesus teve que se humilhar e aniquilar-se até a morte de cruz (Fil 2,7-8).
O orgulho é um amor desordenado
Que preço! O orgulho é o amor desordenado ao próprio Eu, prestando a ele um verdadeiro culto idolátrico. São filhos da soberba: a presunção, o iluminismo, o messianismo, a autossuficiência, a arrogância, a prepotência, a vaidade, autopiedade, o desejo de aparecer e de se exibir, e outros. São Paulo pergunta aos coríntios: ‘O que há de superior em ti? Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o tivesses recebido?’ (1 Cor 4,7). E São Pedro nos adverte de que: ‘Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes'(1 Pd 4,5). Deus resiste ao soberbo, isto é, não lhe ouve, porque este está cheio de si mesmo, não têm espaço para Deus e os outros.
O inferno nada pode contra um homem verdadeiramente humilde, pois, segundo Sã0 Vicente de Paulo, ‘o demônio, que é soberbo, não sabe se defender contra a humildade’. Se, de um lado, a soberba é o pior dos pecados capitais, por outro lado, a humildade é a maior das virtudes.
Foi assim que fez Deus se encantar com Maria, e escolhê-la para Mãe do Seu Filho: ‘Ele olhou para a humildade da sua serva'(Lc 1,48).