santos inocentes

As crianças martirizadas em nome de Cristo

Dentro da Oitava de Natal, a Igreja celebra, no dia 28 de dezembro, a Festa dos Santos Inocentes. Ela os considera os primeiros mártires por, ainda meninos, terem derramado o sangue por causa de Cristo. O objetivo foi de colocar as vítimas inocentes entre os companheiros de Cristo para circundar o berço de Jesus Menino de um coro gracioso de crianças, vestidas com as puras vestes da inocência, pequeno exército de mártires que testemunharão com o sangue o seu pertencer a Cristo.

Os primeiros mártires de Cristo

Quando os Magos chegaram à Belém, guiados por uma estrela misteriosa, “encontraram o Menino com Maria e, prostrando-se, adoraram-no e, abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes – ouro (para o Rei Menino), incenso (para o Deus Menino) e mirra (para o Cordeiro que um dia seria imolado). E, tendo recebido aviso em sonhos para não retornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para suas terras. Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: “Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para o matar. E ele, levantando-se, de noite, tomou o Menino e sua Mãe e retirou-se para o Egito. E lá esteve até a morte de Herodes” (Mt 2, 11-15).

mártires

Créditos: ruizluquepaz / GettyImagens

Esse acontecimento foi narrado somente pelo evangelista São Mateus, que escreveu principalmente aos hebreus com o objetivo de demonstrar que, de fato, Jesus era o Messias anunciado pelos profetas, como previam as antigas profecias: “Então, Herodes, percebendo-se enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou matar, em Belém e no seu território, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo de que havia se certificado com os magos. Então, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos, e não quer consolação porque não existem mais” (Jer 31,15; Mt 2,16-18).

Glória eterna!

Quanto ao número dos assassinados, os gregos e o jesuíta Salmeron, em 1612, falavam em 14.000; os sírios em 64.000 e o martirológio de Haguenau falava em 144.000. Mas, com os estudos mais avançados e precisos, calcula-se, hoje, que foram apenas cerca de 20 (vinte) ao todo. Foram muitas as igrejas que queriam ter relíquias deles.

A Igreja honra como mártires essas crianças, vítimas do terrível e sanguinário rei Herodes, arrancadas dos braços de suas mães para escrever com seu próprio sangue a primeira página do martirológio cristão. Elas merecem a glória eterna, segundo a promessa de Jesus: “Quem perder a vida por amor de mim a encontrará”. Para eles, a liturgia repete, hoje, as palavras do poeta Prudêncio: “Salve, ó flores dos mártires, que na alvorada do cristianismo fostes massacrados pelo perseguidor de Jesus, como um violento furacão arranca as rosas apenas desabrochadas. Vós fostes as primeiras vítimas, a tenra grei imolada, num mesmo altar recebestes a palma e a coroa”.

Leia mais:
.:Quem são os Santos Inocentes?
.:Aprenda com a inocência de cada criança
.:Por que Jesus manifesta preferência pelas crianças?
.:Qual é o papel dos santos da Igreja Católica no Céu?

A Festa dos meninos do coro e do serviço do altar

Esta celebração dos Santos Inocentes é muito antiga: já, no século IV, acontecia no calendário da Igreja de Cartago, e cem anos mais tarde em Roma, no Sacramentário de São Leão. Hoje, com a reforma litúrgica feita pelo Concílio Vaticano II, a festa passou a ter um caráter de júbilo, e não mais de luto como era antes, como a “festa dos meninos do coro e do serviço do altar”, que se celebrava antigamente.

Nesta celebração, os meninos, revestidos das vestes dos cônegos, dirigiam todo o ofício do dia. Na Idade Média, nos bispados que possuíam escola de meninos de coro, a Festa dos Inocentes ficou sendo a festa deles. Começava na véspera de 27 de dezembro e acabava no dia seguinte.

Tendo escolhido entre si um “bispo”, esses cantorezinhos, com as vestes dos cônegos, cantavam no lugar deles. A esse bispo improvisado competia presidir os ofícios, entoar o Invitatório e o “Te Deum” e desempenhar outras funções que a liturgia reserva aos prelados maiores. Só lhes era retirado o báculo pastoral ao entoar-se o versículo da Magníficat: “Derrubou os poderosos do trono”, no fim das segundas Vésperas. Depois o “derrubado” oferecia um banquete aos colegas, às custas do cabido, e voltava com eles para os seus bancos. Esta celebração foi elevada ao grau de festa por são Pio V (1566-1572), muito próxima da festa do Natal.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino