Por falta de conhecimento, muitos cristãos aceitam as ideias da reencarnação
A reencarnação é a crença segundo a qual a alma volta à carne ou ao corpo, tendo animado outro corpo na vida anterior. Essa alma se desencarnou pela morte e, após certo intervalo, retorna à terra em outro corpo. Essas reencarnações são regidas pela lei do Karma, que obriga os indivíduos a pagar (expiar), em encarnações posteriores, as falhas cometidas na vida presente (hinduísmo) ou para aperfeiçoar-se na vida após esta vida (espiritismo).
Em uma primeira impressão, parece que a reencarnação responde a algumas perguntas existenciais do ser humano, como o motivo do sofrimento e as desigualdades entre as pessoas. Textos bíblicos descontextualizados são usados para defender essa crença, como, por exemplo, Mt 17, 10-13, quando os judeus julgaram ser João Batista uma forma de retorno de Elias. Porém, um estudo mais profundo de textos como esse mostra a inconsistência dessa afirmação. Em Jo 1,21, João Batista nega veementemente ser Elias. Ademais, na Transfiguração (cf. Mt 17,3), João Batista já tinha morrido; nesse caso, quem deveria ter aparecido não era Elias, mas João Batista.
Fenômenos psicológicos como a paramnésia (quando a pessoa tem a impressão de já ter vivido uma determinada situação) e a “terapia de vidas passadas”, também são usados como argumento a favor da reencarnação. No entanto, especialistas explicam facilmente esses fenômenos no campo da psicologia e psiquiatria.
Na verdade, a reencarnação se choca frontalmente com o Cristianismo, porque centra a salvação do homem nele mesmo, negando a salvação por meio de Jesus Cristo e a misericórdia do Pai com o mal do homem. Na reencarnação, o homem é seu próprio salvador, pagando pelos seus males em outras existências. Se todo mal deve ser autorredimido por sofrimentos, à pessoa de má índole, que praticou muitas maldades, só resta o desespero de saber que terá de pagar implacavelmente por tudo isso. Talvez essa crença, para aqueles que se acham puros, seja interessante, mas para aqueles que se sabem devedores do bem, só resta a angústia. Por isso, a reencarnação coloca em xeque a misericórdia de Deus, que perdoa e redime o mal do homem, tantas vezes pregada e testemunhada por Jesus, como o perdão de Jesus, a promessa do Paraíso imediato ao ladrão arrependido (cf. Lc 23,43) e o perdão do pai dado ao filho pecador na parábola do “Filho Pródigo” (cf. Lc 15, 11-32).
A reencarnação coloca a bela e complexa existência humana sob as leis quase mecânicas e implacáveis do Karma. Embora, aparentemente bem montada, duas contradições nessa teoria me parecem chamar à atenção. Após milhares de anos de gerações humanas, era de se esperar que o mundo estivesse bem evoluído. Ao contrário, embora a humanidade avance a passo largos no campo científico, no campo humano e espiritual, nos últimos 100 anos decaiu desastrosamente. Testemunham isso os massacres e assassinatos de centenas de milhões de pessoas pelas guerras e ideologias do séc. XX, a violência, a ganância individualista pós-moderna e as atuais leis contra a vida e a família disseminadas pelo mundo.
Outra contradição está em que, se o sofrimento tem o valor intrínseco (independente da liberdade da pessoa) de purificar e redimir, então, não se deveria ajudar e atenuar os sofrimentos das pessoas, que estão sendo preparadas para novas existências mais felizes. A caridade com os pobres e sofredores passa a ser um bem para quem o faz (porque o purifica), mas um mal para quem o recebe.
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Com a reencarnação, dogmas cristãos tão claramente expressos na Sagrada Escritura não têm sentido, como a vida e o juízo após a morte (cf. Mt 13, 24-30; 13, 37-40; Lc 14, 16-24; Mt 25, 1-12; Mt 25, 33-46, dentre tantas outras) e a ressurreição da carne, tão enfatizada por São Paulo, como por exemplo, em 1Cor 15. Talvez o texto bíblico que mais contradiga a reencarnação seja Hb 9,27, em que se lê: “Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o julgamento”.
Embora pareça dar respostas, a reencarnação usa de premissas gratuitas, como a que todo o homem começa a existir em condições físicas e psíquicas iguais. Ela tem uma visão pessimista da matéria como cárcere ou sepulcro da alma. Ao contrário, o Cristianismo tem uma visão positiva da matéria, tida como criatura de Deus e parte integrante do ser humano. Muitos reencarnacionistas apregoam que o Cristianismo, em sua origem, acreditava nessa crença e que se trata de um princípio religioso muito antigo. Essas são outras declarações gratuitas e sem fundamento.
Os cristãos acreditam na ressurreição
Os cristãos sempre acreditaram na ressurreição; a Bíblia e a Tradição cristã estão repletas dessa verdade. Tampouco o grande escritor eclesiástico, Orígenes, acreditava na reencarnação, como dizem alguns deles. Na verdade, ele acreditava que as almas pré-existiam, mas não que se reencarnavam. Quanto à antiguidade da reencarnação e sua unanimidade entre as religiões, é importante esclarecer que essa crença só aparece no hinduísmo após o séc. VII a.C. e antigas religiões chinesas (taoísmo e confucionismo), egípcias e da Pérsia não acreditavam nela.
Em tempos de Nova Era, ocultismos e espiritualismos apregoados por filmes, novelas, autores de autoajuda etc, muitos cristãos pouco esclarecidos acabam por aceitar ideias reencarnacionistas. Não sabem, no entanto, que, aceitando a reencarnação, deixam de ser cristãos, porque negam o significado essencial de Cristo na vida do homem, a verdade fundamental de nossa fé pregada pelos apóstolos desde o início: “Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12).