É preciso compreender o que é Igreja. Com base no CIC 751-752, a palavra «Igreja» («ekklesía», do verbo grego «ek-kalein» = «chamar fora») significa «convocação». Designa as assembleias do povo em geral de carácter religioso. É o termo frequentemente utilizado no Antigo Testamento grego para a assembleia do povo eleito diante de Deus, sobretudo para a assembleia do Sinai, onde Israel recebeu a Lei e foi constituído por Deus como Seu povo santo. Ao chamar-se «Igreja», a primeira comunidade dos que acreditaram em Cristo reconhece-se herdeira dessa assembleia. Nela, Deus «convoca» o seu povo de todos os confins da terra.
Na linguagem cristã, a palavra «Igreja» designa a assembleia litúrgica, mas também a comunidade local ou toda a comunidade universal dos crentes. Esses três significados são, de fato, inseparáveis. «A Igreja» é o povo que Deus reúne no mundo inteiro. Ela existe nas comunidades locais e se realiza como assembleia litúrgica, sobretudo eucarística, vive da Palavra e do Corpo de Cristo, e é assim que ela própria se torna Corpo de Cristo.
Considerando os aspectos teológicos da Igreja, nos seus princípios constitutivos: Petrino – institucional e hierárquica; Paulino – missionárias, dos carismas e das revelações; Joanino – da vida consagrada, do amor e da contemplação; de Tiago (jacobino) – da tradição e da lei. Maria unifica os quatros princípios e a personaliza. Pela Anunciação, gerou o Verbo, de quem a Igreja nasce. Ela é a esposa que colabora com Cristo na redenção de todo gênero humano.
O convite para toda a Igreja
A vocação cristã, onde toda a Igreja é chamada à santidade, Maria é o modelo a seguir em relação a Jesus Cristo, para que Ele se forme em nós por meio do Espírito Santo. O centro da espiritualidade mariana está no seu Sim, livre e puro a Deus, um convite que se estende a todos da Igreja. O Concílio Vaticano II, confirmando o ensinamento de toda a tradição, recordou que, na hierarquia da santidade, precisamente a mulher, Maria de Nazaré, é figura da Igreja. Ela precede todos no caminho rumo à santidade; na sua pessoa, «a Igreja já atingiu a perfeição, pela qual existe sem mácula e sem ruga» (cf. Ef 5, 27). Nesse sentido, pode-se dizer que a Igreja é conjuntamente « mariana » e « apostólico-petrina ». (Mulieris dignitatem 27)
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São João Paulo II, numa Alocução aos Cardeais e Prelados da Cúria Romana, diz: “Esse perfil mariano é tão — senão mais — fundamental e caracterizante para a Igreja quanto o perfil apostólico e petrino, ao qual está profundamente unido (…) A dimensão mariana da Igreja antecede a petrina, embora lhe seja estreitamente unida e complementar. Maria Imaculada precede todos e, obviamente, o próprio Pedro e os apóstolos. ”
Inspirar-se em Maria
O rosto mariano da Igreja é impresso ou se caracteriza no mundo quanto mais se inspirar nas atitudes de Maria. E quais são essas atitudes? Escutar, meditar e se alimentar da Palavra de Deus (Lc 2,19); oferecer Jesus às nações; ir ao encontro do outro; anunciar a Boa Nova; ser comunhão com os irmãos; cantar os louvores a Deus (Lc 1, 46-55); viver a prática do amor em particular com os mais necessitados; viver uma vida de oração; servir com prontidão e na doação da vida (Lc 1,39); viver e caminhar na fé; ter sensibilidade ao Espírito de Deus em todos os acontecimentos da vida até aos que parecem imperceptíveis (Lc 1,40-45); na crise, no cansaço, no escondimento, no coração apertado, nos avanços; na humildade, na simplicidade e criatividade; como Mãe de todos, ser sinal na alegria, na resistência e na esperança com os que sofrem; sempre na ternura e profecia. Maria nos faz acreditar na revolução da ternura e do afeto.
Vemos também o rosto mariano na Igreja diante da perseverança na cruz, ao suportar os sofrimentos que lhe são próprias (Jo 19,25). Porém, um sofrimento redentor que não termina na morte, mas que participa da Ressurreição, do Pentecostes, e culmina na glória dos céus.