Nosso Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento realiza um sacrifício novo, diferente dos sacrifícios realizados no Antigo Testamento, e esse sacrifício recebe inúmeros nomes durante os primeiros anos do cristianismo. O sacrifício instituído por Cristo era chamado de fração do pão (cf. At 2,42), ceia do Senhor (cf. 1Cor 11,20), eucaristia, sacrifício, mistério etc. Durante a Idade Média, o termo Missa designou esse sacrifício novo realizado por Cristo. E no decorrer dos anos, a Missa foi sendo estruturada até chegar a forma que temos hoje. Contudo, resta-nos uma pergunta: “O que é o ato penitencial?”.
Uma definição sobre o que é a Missa pode ser encontrada no Catecismo da Igreja Católica que apresenta a Eucaristia como “o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele” (CIC §1362). Logo no início da Missa, uma das partes é o que chamamos de Ato Penitencial. Esse momento é o reconhecimento de que ninguém é digno de estar diante do Altar de Deus, mas por graça somos inseridos nesse mistério.
No Ato Penitencial, expressamos o pedido de perdão e desejamos ser alcançados pelo Amor de Deus que nos salva. O pecado é sempre um erro, e pecamos porque não escolhemos pela verdade. Uma das falas de Jesus é que Deus nos perdoe, pois erramos por não saber o que estávamos fazendo: “Pai, perdoai-lhes: não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Dessa forma, no princípio da Missa, fazemos a nossa confissão e reconhecemo-nos pecadores. O venerável Fulton Sheen escreve: “A confissão é uma prece na qual confessamos os nossos pecados e pedimos a Nossa Mãe Santíssima e aos Santos para que intercedam junto de Deus pelo nosso perdão, pois apenas os limpos de coração poderão ver a Deus”. É necessário sermos perdoados para comermos do Corpo e bebermos do Sangue de Cristo.
O Ato Penitencial
A amizade com Cristo, a comunhão com Deus e com a Igreja é uma condição para se aproximar do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus e recebê-los. Sendo assim, a confissão sacramental dos pecados graves insere novamente o fiel nesta amizade e comunhão. Já o ato penitencial durante a Santa Missa é responsável por perdoar as faltas leves, ou seja, os pecados veniais. Além do que, a Eucaristia nos ajuda a prevenir de pecados futuros.
Sobre isso, o Catecismo nos ensina: “a Eucaristia nos preserva dos pecados mortais futuros. Quanto mais participamos da vida de Cristo e quanto mais progredimos em sua amizade, tanto mais difícil de ele separar-nos pele pecado mortal” (CIC §1395). E o Catecismo ainda continua esclarecendo sobre a unidade entre o Corpo místico de Cristo: “Diante da grandeza deste mistério, Sto. Agostinho exclama: ‘Ó sacramento da piedade! Ó sacramento da unidade! Ó vínculo da caridade!’” (CIC §1398).
Sendo assim, podemos entender que o Ato Penitencial é o momento para que cada um investigue sua consciência, percebendo onde errou; por isso não podemos nos aproximar de Deus para recebê-Lo. Essa consciência nos faz pedir perdão dos nossos erros e implorarmos a misericórdia de Deus para melhor participarmos do Seu banquete eucarístico. É uma ocasião importantíssima para que dentro da Santa Missa após pedir e receber o perdão de Deus, possamos viver a Liturgia da Palavra e, em seguida, comungar do Corpo e Sangue do Senhor.
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O Ato Penitencial não equivale ao Sacramento da Penitência
Antes de tudo, é importante definir uma grande diferença já sinalizada anteriormente, de que o Ato Penitencial é o pedido de perdão pelos pecados veniais; já o sacramento da penitência é o pedido de perdão dos pecados graves. Para isso, o Papa Francisco escreve uma catequese sobre o Ato Penitencial.
O Papa Francisco começa definindo para nós o que é o Ato Penitencial: “Na sua sobriedade, esse favorece a atitude com que se dispor a celebrar dignamente os santos mistérios, isto é, reconhecendo diante de Deus e dos irmãos os nossos pecados, reconhecendo que somos pecadores. O convite do sacerdote, de fato, é dirigido a toda a comunidade em oração, porque todos somos pecadores”. Somente aquele que reconhece as faltas e clama a misericórdia é que pode ser alcançado pelo amor de Deus, como está descrito na parábola do publicano e do fariseu em que o fariseu orava em pé e batia no peito orgulhoso, porque não cometia pecados como os outros homens, e o publicano humilhado não levantava o olhar e batia no peito pedindo perdão; este foi justificado por Deus e aquele outro não. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado (cf. Lc 18,9-14).
Dentre muitos ensinamentos que o Papa nos deu, por fim ele nos esclarece: “Por isso, no início da Missa, fazemos comunitariamente o ato penitencial mediante uma fórmula de confissão geral, pronunciada na primeira pessoa do singular. Cada um confessa a Deus e aos irmãos ‘ter pecado em pensamentos, palavras, atos e omissões’. Sim, também por omissões, ou seja, ter deixado de fazer o bem que poderia ter feito. Muitas vezes, sentimo-nos bravos, porque – dizemos – ‘não fiz mal a ninguém’. Na realidade, não basta não fazer o mal ao próximo, é preciso escolher fazer o bem aproveitando as ocasiões para dar bom testemunho de que somos discípulos de Jesus”.
A Igreja, ainda em sua sabedoria, faz com que depois de confessado o pecado, supliquemos a Virgem Maria, aos anjos e santos que rezem ao Senhor por nós. Também nisso é preciosa a comunhão dos santos: isso é, a intercessão destes “amigos e modelos de vida”.
Queridos leitores, que a experiência do perdão dos nossos pecados possa nos tornar mais compreensíveis com os erros dos irmãos e nos dê forças para mudarmos de vida em busca de uma vida nova em santidade. Vivamos bem a celebração eucarística que nos proporciona o perdão dos pecados veniais e a força para evitar pecados futuros.
Referências Bibliográficas:
BÍBLIA. Português. Tradução da Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 2206p.
CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
FRANCISCO. Catequese do Papa: reflexão sobre o ato penitencial da Missa. Canção Nova Notícias, 2018. Disponível em: https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/catequese-papa-reflexao-sobre-o-ato-penitencial-da-missa/. Acesso em 20 de julho de 2021.