fé e razão

É possível provar a existência de Deus usando somente a razão?

A existência de Deus não é uma tese aceita por todas as pessoas. No mundo acadêmico, em especial no filosófico, esse é um dos temas mais debatidos. Se, para nós que temos fé não é um problema, para os não crentes o é. Dessa maneira, fica claro que: falar da existência de Deus não é tão simples como se pensa, embora seja possível constatá-la.

Você pode me perguntar: Elenildo, então é possível conhecer Deus sem os dados da fé? Conhecê-Lo apenas com a luz da razão? Para responder, recorrerei ao Compêndio da Igreja Católica, que afirma: “partindo da criação, ou seja, do mundo e da pessoa humana, o homem pode, simplesmente com a razão, conhecer, com certeza, Deus como origem e fim do universo e como sumo bem, verdade e beleza infinita” (Compêndio, n. 3).

Talvez, você tenha ficado surpreso com essa declaração do Compêndio em afirmar que o homem simplesmente com a razão pode conhecer Deus. Karl Rahner, teólogo católico, afirma que quem sinceramente busca a verdade entende que Deus é a melhor explicação para tudo que existe no mundo. Seja em relação às coisas materiais, isto é, que possui matéria, tais como: os planetas, as estrelas e a vida em geral. Como também aquilo que é imaterial, ou seja, coisas que existem sem conter matéria, isto é, que existem, mas não podemos ver ou tocar, mas que está aí e não podemos negar sua existência, tais como valores, inteligência humana, amor, perdão, essência das coisas etc.

É possível provar a existência de Deus usando somente a razão?

Foto ilustrativa: Liderina by Getty Images

Argumentos racionais sobre a existência de Deus

Em uma análise verdadeira da realidade, percebemos que existem mais argumentos que afirmam a existência de Deus do que os que O negam. Porém, vale ressaltar que nós católicos somos, muitas vezes, carentes de argumentos racionais sobre a existência de Deus. Sempre que conversamos com alguém que não tem fé, temos a tentação de falarmos de Deus a partir da fé. Quero dizer, a partir disso, da necessidade de investirmos também nos argumentos racionais. Precisamos dos argumentos racionais para defender nossa fé nos ambientes em que ela não é aceita. Mais ainda, para que a minha fé e a sua tenha mais razão de ser, ou seja, uma fé enraizada e não simplesmente superficial.

Quais são esses argumentos racionais? São aqueles que a nossa própria inteligência é capaz de compreender sem auxílio da fé. Santo Tomás de Aquino nomeia cinco argumentos, ou vias racionais, capazes de provar a existência de Deus.

Movimento

A primeira via é a do movimento. Diz Santo Tomás que tudo aquilo que se move é movido por outro, desse modo, é preciso admitir a existência de um movimento primeiro, logo este só pode ser Deus.

Causalidade

O segundo diz da causalidade. Não é possível que exista uma série infinita de causas. Existe uma primeira causa não-causada, que só pode ser Deus.

Contingência das coisas

A terceira diz da contingência das coisas. Diz Santo Tomás que as coisas existem e, em um determinado tempo, deixam de existir. Se assim fossem todas as coisas, o mundo deixaria de existir em dado momento. Com isso, entende-se que existe algo que sempre existiu e precisa existir para que as demais coisas continuem existindo.

Graus de perfeição

O quarto argumento refere-se aos graus de perfeição. Quando observamos detalhadamente, vemos a perfeição com que cada coisa no universo foi criada. Além do mais, constatamos que um ser é mais perfeito que o outro. Não resta dúvida ao dizer que uma pedra é menos complexa em entender que um animal, e um animal qualquer, menos complexo que um homem. Se existem diversos graus de perfeição, isso implica dizer que precisa existir o grau máximo de perfeição que só pode ser Deus.

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Fim último das coisas

Por último, Tomás fala do fim último das coisas. Todas as coisas criadas foram feitas com uma finalidade própria. Ninguém nunca presenciou uma laranjeira que se confundiu e produziu manga. Todas as coisas estão ordenadas para determinado fim.

João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, logo na introdução, diz: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecê-Lo, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”.

Como ilustrado pelo Papa João Paulo II, precisamos da fé, porém ela sozinha não é suficiente. O que a Igreja ensina é voarmos com as duas asas. Só com a asa da fé cairemos no fideísmo. Unicamente com a razão cairemos no racionalismo. A saída está exatamente em voarmos com as duas asas, a da razão e a outra da fé. Somente assim alçaremos voo e contemplaremos a verdade.

Que o Senhor aumente a nossa fé e ilumine nossa razão, para melhor Lhe servirmos e O amarmos.

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