Gula é comer além do necessário para se alimentar. Para alguns, o prazer de comer passou a ser um fim em si mesmo, mas isso é um erro. E se frustram quando a refeição não é suculenta e variada.
Escrevendo aos filipenses, São Paulo se refere àqueles cujo “deus é o ventre” (cf. Fl 3,19), isto é, o alimento. Se a Igreja nos aponta a gula como um vício capital, é porque ela gera outros males: preguiça, comodismo, paixões, doenças etc. Podemos comer e beber com moderação e gosto, mas não podemos fazer da comida um meio só de prazer porque isso desvirtua a alimentação.
Um corpo pesado debilita o espírito. Santo Agostinho dizia que temia não a impureza da comida, mas a do apetite. Ele escreve uma página sábia sobre isso: “Vós me ensinastes a ingerir os alimentos como se tratasse de remédios”. Santa Catarina de Sena dizia que “o estômago cheio prejudica a mente”. E Santo Ambrósio afirmava: “Aquele que submete o seu próprio corpo e governa sua alma, sem se deixar submergir pelas paixões, é seu próprio senhor: pode ser chamado rei, porque é capaz de reger a sua própria pessoa”. E o líder pacifista indiano Gandhi afirmava que “a verdadeira felicidade é impossível sem verdadeira saúde, e a verdadeira saúde é impossível sem o rigoroso controle da gula. Todos os demais sentidos estarão, automaticamente, sujeitos ao controle quando a gula estiver sob controle”.
Temperança: virtude para combater a gula
A virtude oposta à gula é a temperança: evitar todos os excessos no comer e no beber. Para destruir as raízes da gula, é preciso submeter o corpo à mortificação. E essa haverá de ser sob a ação do Espírito Santo, nosso Santificador. São Paulo ensinou aos Gálatas e aos Romanos que somente o Espírito pode destruir em nós as paixões. “Conduzi-vos pelo Espírito Santo e não satisfareis o desejo da carne” (Gl 5,16). “Se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis” (Rm 8,12). A ação poderosa do Espírito Santo, aliada à nossa vontade, vem em auxílio da nossa fraqueza e nos dá a graça de superar os vícios.
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O jejum como remédio contra a gula
Como remédio contra a gula, a Igreja propõe também o jejum; não como um valor em si mesmo, mas como um instrumento para dominar a paixão. E Santa Catarina de Sena ensina que a mortificação deve ser feita de acordo com a necessidade e na exata medida das forças pessoais. Visto que não se pode impor a todos a mesma mortificação como uma norma rígida, já que nem todos são iguais.
Não é possível querer levar uma vida pura sem sacrifício. O corpo foi nos dado para servir e não para gozar; o prazer egoísta passa e deixa gosto de morte; o sacrifício gera a vida. Não foi à toa que Cristo jejuou quarenta dias, no deserto da Judeia, antes de enfrentar as ciladas terríveis do tentador, que queria afastá-Lo do caminho traçado por Deus para Ele seguir a fim de salvar a humanidade.