Era dia de jejum para os fariseus e discípulos de João Batista. Daí, a pergunta a Jesus: “Por que Seus discípulos não jejuam?”. A resposta não nega a importância do jejum, mas sua oportunidade em certas circunstâncias. Assim, não tem sentido o jejum em dias de grande alegria e festa, como as núpcias de um amigo íntimo, que se prolongavam, naquele tempo, por sete dias.
Jesus se compara ao esposo, figura empregada no Antigo Testamento para Javé. Seus discípulos são seus amigos. Por isso, enquanto o Esposo estiver com eles, não podem jejuar (Mc 2,19). Seu Esposo está com eles até Sua Paixão. No entanto, com Sua morte, o Esposo vos será tirado (Mc 2,20). Então, o jejum será normal. E eles ficaram tristes por não contarem com a presença física do Senhor. O jejum será sinal dessa tristeza.
Jejum como prece
O jejum, durante séculos, teve grande importância na ascese cristã. Infelizmente, não é assim hoje. Julga-se que não contribui para o crescimento espiritual. Há, certamente, os que se privam do alimento por razões de saúde ou estética, por motivos sociais ou políticos (greves de fome). Há também cristãos que oferecem o jejum como prece segundo as intenções da Igreja.
O jejum não é um fim, mas um meio. É busca de Deus (prece) e preocupação com os outros (esmola). Tem, sem dúvida, um aspecto penitencial, mas este não é o mais importante. Embora seja louvável jejuar para obter o perdão de suas faltas e das faltas dos outros.
Contribui, sem dúvida, para a saúde física. Alexis Carrel escreveu que o jejum limpa e transforma os tecidos. E é um dever zelar pela saúde do nosso corpo. Mas para o cristão o jejum é, sobretudo, uma escola de domínio de si e combate espiritual. Jejuar por razões religiosas tonifica o espírito. A privação do alimento contribui para o domínio das tendências instintivas. Quem controla seu apetite domina seus desejos.
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O jejum é caridade e solidariedade
É um meio também de reagir contra o espírito materialista reinante hoje. Privando-se dos alimentos, as pessoas se convencem de que as nutrições terrenas não bastam. É preciso também estimular a fome dos bens espirituais. No mundo do bem-estar e do conforto, é necessário guardar o espírito disponível para Deus.
Numa sociedade em que há milhares e milhares de pessoas famintas, jejuar é partilhar a fome e a pobreza de nossos irmãos, se o jejum é acompanhado do gesto da caridade e solidariedade.
Dom José Freire Falcão
ex-arcebispo emérito de Brasília