Quantos já “caíram” voluntariamente ou involuntariamente nos grupos de mensagens como o WhatsApp ou outros aplicativos, onde se compartilham “zueiras”, post pornô entre amigos e amigas! Alguns têm a coragem e saem logo, outros permanecem no grupo por se compactuarem com o que é compartilhado ou mesmo por vergonha de sair e ser criticado pelos outros; outros já permanecem como forma de sentir-se aceito pelas pessoas ali presentes ou com a intenção de serem considerados pelos membros do grupo.
Os aplicativos de mensagens possibilitam a criação de “grupos fechados” e adicionar quem desejar. A pessoa adicionada não recebe um convite, mas é inserida no grupo, podendo continuar no grupo ou abandoná-lo. O nome da pessoa pode ser listado como um participante, mesmo não tendo aceitado o convite. A partir do momento que você permanece no grupo é como se fosse um click no “permitir” ou “aceitar”, tudo está liberado; tudo está disponível na palma da mão e depende unicamente de alguns cliques.
As fotos e vídeos pornográficos que chegam nestes grupos de aplicativos parecem inofensivos, desprovidos de qualquer sentido moral. A normalidade dos compartilhamentos leva as pessoas ao entendimento também da “normalidade moral”; como alguns dizem: “só dou uma olhadinha e pronto”; enquanto outros afirmam: “meus amigos me enviam sem eu pedir”. Em se tratando da internet, das páginas sociais e, sobretudo, dos “grupos fechados”, a impressão que se passa é que não há mais assuntos-tabu ou informações proibidas, quase não existe mais o privado.
Existe pornô leve? Como assim?
Este tipo de pornografia é chamada pornografia leve (‘soft core’), pode paralisar progressivamente a sensibilidade, afogando gradativamente o sentido moral dos indivíduos até ao ponto de torná-los moralmente e pessoalmente indiferentes aos direitos e à dignidade dos demais. A pornografia, como a droga, pode criar dependência e move à busca de material cada vez mais excitante (‘hard core’) e perverso.
Estudos da neuroquímica já comprovaram que, fisiologicamente, a dependência da pornografia nos meios de comunicação é muito parecida com a dependência química de qualquer droga, ou seja, o prazer gerado pelo uso dos vídeos pornográficos, aumentam no cérebro os níveis do neurotransmissor chamado Dopamina; e acostumadas com esse nível elevado as pessoas alimentam mais a dependência.
Estes tipos de dependências das drogas, álcool, jogos compulsivos, comportamentos de alto risco, de sexo são caracterizadas como “excitantes”. No caso da dependência sexual, é mais destrutiva, pois, aparentemente parece “menos inofensiva”, “não causa mal para a saúde” da pessoa, no entanto, a pornografia afeta a vida das pessoas em várias áreas. O impacto destes vídeos, fotos pornográficas depende do grau de vulnerabilidade da pessoa envolvida.
“A pornografia favorece insalubres preocupações nos terrenos da imaginação e do comportamento. Pode interferir no desenvolvimento moral da pessoa e no amadurecimento das relações humanas sãs e adultas, especialmente no matrimônio e na família, que exigem confiança recíproca e atitudes e intenções de explícita integridade moral.”
“A pornografia, além disso, questiona o caráter familiar da sexualidade humana autêntica. Na medida em que se considere a sexualidade como uma busca frenética do prazer individual, mais do que uma expressão perdurável do amor no matrimônio, a pornografia aparecerá como um fator capaz de minar a vida familiar em sua totalidade.”
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Como devo me posicionar?
O que fazer? Como agir? Qual é a melhor atitude? Será que vivemos o que Aristóteles chamava de situação aporética? Ao estudo das aporias chama-se aporética. Aristóteles definiu a aporia como uma “igualdade de conclusões contraditórias”.1 Portanto, Aristóteles descreveu a aporia como a dúvida, dificuldade ou incerteza resultante da igualdade de escolhas contrárias: não se sabe mais o que fazer. A aporia é a situação sem saída, beco sem saída.
Não estamos diante de uma situação sem saída. Existe saída. O que difere o uso adequado do uso inadequado da internet está no impacto provocado pelo uso de tais instrumentos tanto na saúde física quanto na saúde psicossocial e espiritual da pessoa. Dependência de “imagens pornôs”, “vídeos pornôs” compartilhados nos grupos, pode criar situações de desagregação familiar e provocar sentimentos de traição, isolamento etc.
A pergunta que você deveria se fazer a partir dos seus valores é esta: é certo o que eu estou fazendo neste grupo? Isso vai contra tudo que acredito, seu filho, sua filha, esposa, esposo, pai, mãe teriam orgulho de saber o que você recebe e muitas vezes compartilha? Afirma o magistério, “nenhum material de natureza erótica deve ser apresentado a crianças ou a jovens de qualquer idade, individualmente ou em grupo”.2
E você que não se identificou com este ambiente, tenha a coragem de quebrar esse ciclo, não é o seu ambiente, mesmo se você não for comprometido com alguém, seja com você mesmo, você não precisa disso para se sentir mais homem, mais mulher ou aceito. “Esse lugar não é para mim, vai contra tudo o que acredito, e não preciso estar em um ambiente errado para alguém “gostar de mim”, simplesmente saí do grupo sem dar explicações. Não precisamos de justificativas para sairmos de um ambiente que depõe contra nossos valores, o próprio local já é a justificativa” (Caio Carneiro, via Instagram).
Conforme o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, no documento intitulado “Pornografia e violência nas comunicações sociais”, nos números 10 e 11, lemos:
“Ninguém pode considerar-se imune aos efeitos degradantes da pornografia e da violência, ou a salvo da erosão causada pelos que atuam sob sua influência. As crianças e os jovens são especialmente vulneráveis e expostos a serem vítimas. A pornografia e a violência sádica depreciam a sexualidade, pervertem as relações humanas, exploram os indivíduos – especialmente as mulheres e as crianças -, destroem o matrimônio e a vida familiar, inspiram atitudes antissociais e debilitam a fibra moral da sociedade.”
Referências:
1 ARISTÓTELES. Tópicos. 6.145.16-20.
2 CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA. Sexualidade humana: verdade e significado. 3ed. São Paulo: Paulinas, 2002, n. 126.