A grandeza da Palavra de Deus
Quando pensamos na Igreja, é fundamental reconhecer que sua subsistência, expressa na integridade, na unidade e na continuidade não se radicam, antes de tudo, em nossos pensamentos, ações ou mesmo em nossa fidelidade ou infidelidade.
A razão profunda da permanência da Igreja ao longo do tempo repousa, acima de tudo, numa promessa, aquela feita pelo próprio Senhor Jesus Cristo, que declarou: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Assim, quando nosso pensamento se põe a refletir sobre a Igreja, devemos ter sempre diante dos olhos a perenidade, a grandeza e a veracidade da Palavra de Deus, que ainda hoje e sempre ressoará com vigor: “E eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).

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O modo como Deus sustenta a Igreja em sua existência se dá pela ação incessante do Espírito Santo. O Senhor não se mantém indiferente ao que nela acontece; ao contrário, sua presença é contínua e vivificante. Se no Antigo Testamento Deus manteve-se fiel à aliança com Israel, mesmo diante das repetidas infidelidades do povo, quanto mais agora, sob a Nova Aliança selada no sangue de Seu Filho, Ele se mostra firme e constante na condução da Igreja através da história. Pensar na Igreja é, portanto, contemplar a fidelidade de Deus, operante e manifesta pela ação do Espírito Santo.
Precisamos olhar para o futuro com outra perspectiva
Entretanto, quando se trata do futuro da Igreja, especialmente no que diz respeito à escolha do próximo Papa, muitos se entregam a expectativas ansiosas: uns imaginando quem será o novo Pontífice, outros temendo que seja este ou aquele. Tais inquietações, no fundo, são vãs e revelam um desejo velado de usurpar o lugar de Deus, querendo moldar o futuro da Igreja aos próprios caprichos por meio da inversão de papeis. Ora, não foi exatamente esse o pecado primordial do homem, querer ser como Deus? São Paulo advertia que o orgulho é a raiz de todo pecado, e o próprio Senhor, ao repreender Pedro, deixou claro o perigo de querer guiar os planos divinos: “Afasta-te de mim, Satanás! Tu és para mim um escândalo, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as dos homens” (Mt 16,23).
Aquele que realmente compreende que a Igreja é sustentada pela fidelidade de Deus, atuante no Espírito Santo, olha para o futuro com outra perspectiva. Os horizontes se abrem para o verdadeiro crente.
Quanto ao futuro Papa, alguns nomes são sussurrados nos bastidores e nos corredores dos corações humanos, uns com convicção, outros com esperança, não passam de ecos passageiros. O céu, que não participa dos conclaves, já conhece o eleito. O coração de Deus, que ultrapassa todas as previsões humanas, guarda em silêncio o nome daquele que conduzirá a barca de Pedro. Quanto ao favorito de Deus… só Ele conhece e, como é de Seu costume, não antecipa spoilers.
É preciso viver o luto
Há, ainda, um dever humano e cristão a ser observado: é preciso viver o luto. A normalidade espiritual exige que se viva cada momento com a intensidade e a dignidade que lhe são próprias. É, no mínimo, estranho e, portanto, preocupante ver pessoas mais ansiosas com o próximo Papa do que gratas e reverentes em relação àquele que partiu. Nesta vã preocupação, reinam não apenas a indiferença em relação a quem partiu para a casa do Pai, mas também a desconfiança na ação de Deus.
Papa Francisco tantas vezes nos pediu: “Rezem por mim”. Em gratidão por tudo o que ele fez pela Igreja e pelo mundo, somos agora convidados a rezar por ele, a recordar suas palavras, seus gestos, sua entrega, e a colocar em prática os seus ensinamentos.
Uma alma ingrata torna-se exigente e mimada, vive a reclamar e espera receber tudo sem estar disposta a oferecer nada. Rezemos, portanto, em sinal de gratidão, pelo Papa Francisco, que nos conduziu a uma liberdade interior enraizada no serviço. Viver o luto e rezar pelo Papa é também uma maneira de reconhecer a mão providente de Deus, que concede à Igreja o pastor certo para cada tempo. Além disso, o quarto mandamento da Lei de Deus nos ordena: “Honrar pai e mãe”. Ora, o Sumo Pontífice é, para nós, um pai espiritual. Independentemente de quem tenha sido ou de quem venha a ser o próximo Papa, somos chamados a amá-los, honrá-los, obedecer-lhes, venerá-los e rezar por eles.
Caminhar na presença do Senhor com a cruz d’Ele
Ao falar da Igreja, da promessa de Cristo e da ação do Espírito Santo, é impossível não recordar a Cruz do Senhor. Na Basílica de Santa Cruz em Jerusalém, em Roma, encontra-se uma relíquia preciosa: parte da madeira da Cruz, mais especificamente, o braço horizontal, além da inscrição colocada sobre ela, um dos pregos da crucificação, um espinho da coroa e o dedo de São Tomé, aquele que tocou o lado aberto de Cristo. É curioso que apenas a parte horizontal da Cruz tenha sido preservada; talvez como um sinal de que a parte vertical, a elevação ao alto, deva ser construída por nossa própria vida espiritual. Cabe a nós ser essa verticalidade que falta, edificados no Espírito Santo por meio de uma vida crucificada.
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Sobre a cruz na vida da Igreja, o Papa Francisco, na homilia de 14 de março de 2013, no primeiro dia após sua eleição papal, dizia aos cardeais: “Coragem! Caminhar na presença do Senhor com a cruz do Senhor; edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor derramado na cruz; e confessar como única glória: Cristo Crucificado. E assim a Igreja irá para frente”. É pela cruz que abrimos caminho ao Espírito Santo para habitar em nós e nos edificar como Igreja viva. Fugir da cruz é, portanto, fechar-se à ação do Espírito Santo.
Servir no silêncio da cruz
Renunciar à vã curiosidade e ao desejo de manipular os rumos da Igreja é, sem dúvida, uma forma de mortificar a própria vontade, e essa mortificação é uma cruz que abre o coração para acolher a vida nova no Espírito. Tentar controlar a Igreja por meio da revolta, desobedecendo aos legítimos pastores ou deixando de amá-los com respeito, veneração e oração, é também uma recusa da cruz, pois silenciar, amar e obedecer exige uma profunda renúncia de si mesmo.
O Papa Francisco iniciou seu ministério pontifício sob o sinal da cruz: aceitou a missão de ser Papa, um desafio e um pesado fardo, e carregou essa cruz ao longo de todo o seu caminho. Finalmente, no Domingo de Páscoa, em 20 de abril de 2025, mesmo debilitado e fragilizado pela doença, escolheu estar no meio do povo, pois sabia que o povo queria ver o Papa. E ver o Papa é experimentar a presença e o amor de Deus; receber o afeto do Papa é acolher o próprio afeto de Deus. Francisco, com muita insistência pessoal, fez aquele gesto, consciente de que servir a Deus no Espírito é, muitas vezes, servir no silêncio da cruz: na oração, na obediência e na entrega generosa, até as últimas consequências. Amém.
Padre Leandro Rodrigues dos Santos
Arquidiocese de Curitiba – Mestrando em teologia na Universidade Salesiana de Roma