Educação dos Filhos

A educação paterna de Deus

Compreendendo a disciplina na educação

Na carta de São Paulo aos Hebreus, nós conhecemos a educação paterna de Deus [1]. O texto nos ensina a sermos firmes diante das provações desta vida, pois Deus corrige a quem ele ama e castiga-nos em sinal de acolhimento como filhos.

Já os evangelistas Mateus e Lucas ensinam o valor e a confiança na oração, dizendo que, se nós, que somos maus, sabemos dar coisas boas a nossos filhos, quanto mais o Pai Celeste dará coisas boas aos que lhe pedirem [2]. E são essas medidas, entre dar coisas boas e castigar, que geram tantas dúvidas nos pais.

Se, por um lado, eu quero que meu filho seja feliz e tenha coisas boas (afetuosas e materiais), eu também não posso fazê-lo achar que o mundo está à disposição dele para tudo o que quiser. Então, qual é a medida correta da boa-educação?

O desafio do equilíbrio

Há muito eu tenho refletido sobre o assunto, especialmente depois de ouvir um episódio de podcast com o título “Dá pra educar sem castigar?”. Essa conversa causou uma mudança na minha forma de ver a paternidade. E em setembro de 2023, o podcast conseguiu, novamente, causar uma mudança de direção nas minhas reflexões enquanto pai com o episódio intitulado “Educação com limites: entre autoritarismo e permissividade”.

Fato é que o equilíbrio entre dar amor e alegria, mas também ensinar os limites e o respeito ao próximo, é um desafio. Para chegar à conclusão que compartilho nesse artigo foi necessário juntar um pouco de tudo que sei, muito estudo e reflexão e, claro, um pouco de prática.

Créditos: arquivo do autor

Transformando castigo em lição

Imagine que seu filho tem seis anos e já foi advertido várias vezes que ele não deve chutar a bola dentro de casa. A criança, que se diverte muito sempre que chuta a bola, ignora tantas advertências, até que o chute leva a bola à janela que se quebra.

Talvez o primeiro pensamento que venha à mente seja: “Eu já conversei e expliquei, agora é hora de castigar”. A reflexão é para que nossos filhos não sejam castigados excessiva e repetidamente, de modo a extrapolar o ensinamento e representar mera punição.

Aprendo com as consequências

A criança deve entender que as ações têm consequências, que ela não está sozinha no mundo e tudo o que ela faz afeta outras pessoas. Mas, para tanto, é necessário que a consequência seja proporcional e tenha relação com o comportamento da criança. Se entendermos bem o caminho de indicar as consequências e conseguirmos fazer isso de forma que uma criança de seis anos assimile completamente, converteremos o castigo em lição.

É necessário que exista uma correlação entre o mau comportamento e a consequência. Deixamos de lado aquela ideia de tirar o que criança mais gosta só porque é o que ela mais gosta. Ficar sem tela porque chutou a bola no vidro: mas, quando a bola foi chutada não tinha tela envolvida. Não receber sobremesa após o jantar porque quebrou a janela, mas o chute foi logo pela manhã.

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Traçando paralelos

Vamos traçar os paralelos aqui: um chute na bola dentro de casa quebrou a janela, a consequência é que ela deverá ser consertada, o que exige tempo e dinheiro; tempo que antes era para tela, agora é para consertar a janela, dinheiro que antes era para comprar sobremesa, agora é para pagar um vidro novo. Notou a diferença? Toda uma sequência de evento se desencadeou daquele chute desobediente.

O castigo não é aleatório, não é só para “sofrer” a consequência. No horário em que criança dispunha para assistir às telas, ela irá acompanhar o pai no conserto da janela e, quando pedir sobremesa, não terá, porque o dinheiro foi gasto com a compra do vidro. Claro, é importante que a criança acompanhe o pai desde a compra do vidro até o conserto da janela.

Evitar a injustiça

E o mais importante: nenhuma outra punição para aquele mesmo comportamento. Atenção, porque essa atitude injusta te afeta não só na criação dos filhos, mas na convivência em geral. Se a criança já entendeu que a consequência da quebra da janela foi o tempo e o custo, nada de cara feia, de ficar relembrando a desobediência, de rotular de “desobediente” ou “mal-educado”; não é para recusar um pedido de brincadeira, de colo, a convivência, de se mostrar chateado ou irritado.

A criança já percebeu as consequências relacionadas ao mau comportamento, nada mais justifica a constante punição. Tudo o que for além disso é castigar a criança duas (ou muitas) vezes pelo mesmo comportamento. Então, você passa da medida da educação, pois um chute que durou segundos afasta o pai por dias, e isso não é justo. Atos têm consequências, mostre-as de forma clara para a criança e continue sendo o bom pai de sempre.

Pode ser que você tenha se irritado muito, mas isso tem mais a ver com você do que com a criança ou a janela quebrada. Que possamos compreender e aplicar a educação paterna de Deus, explicada por São Paulo, aquela que “produz um fruto de paz e de justiça” [3]. Que assim seja!

Luís Gustavo Conde


CITAÇÕES DO TEXTO BÍBLICO
[1] (Hb 12, 5-13); [2] (Mt 7, 7-11; Lc 5, 5-13); [3] (Hb 12, 11).