Testemunho

O nascimento prematuro e as vitórias e lutas diárias na UTI Neonatal

Pais de gêmeas contam com foi o nascimento e os três meses que viveram na UTI Neonatal

Por Alessandra Borges
       Rebeca Astuti

O nascimento de um filho é algo que traz para a família uma alegria enorme, pois, durante nove meses de gestação, a criança é esperada com carinho e amor. No entanto, algumas vezes, acontecem situações inesperadas, que fogem do alcance das mãos dos pais, mas não da graça de Deus.

É o que conta o casal Lucas e Marília Ferreira, casados há um ano e quatro meses, pai das gêmeas Beatriz e Helena. Eles nos contam como foi a descoberta de que seriam pais de dois bebês, a expectativa para o nascimento e também o período em que as gêmeas precisaram ficar internadas, pois nasceram prematuras.

“A incubadora era o ventre da Marília, e elas ficaram três meses na UTI”, contou Lucas em seu testemunho.

Confira o testemunho

cancaonova.com: Como foi a reação de vocês quando descobriram que seriam pais de gêmeas?

Lucas e Marília Ferreira: Nós engravidamos na lua de mel, porque fazíamos o acompanhamento do método Billings; e, no diagrama, batia exatamente que o dia fértil seria durante a lua de mel.

Quando descobrimos a gravidez, ficamos loucos de alegria, muito felizes, porque era um desejo do nosso coração ser pais o quanto antes. Após casarmos, nós pedimos essa graça para Deus. No momento em que ficamos sabendo que estávamos grávidos, foi uma explosão de alegria; e quando ficamos sabendo que eram gemelares, trememos, mas respiramos fundo e não tivemos medo.

Ficamos sabendo que era uma gestação gemelar quando fazíamos um ultrassom na cidade de Lorena (SP). Após essa notícia, fomos rezar no Santuário de Aparecida e agradecer, porque esse ultrassom foi feito de emergência, quando houve um pequeno sangramento. Fomos à médica, e ela pediu esse exame, para ver se o bebê estava bem.

Depois disso, fomos ao Santuário de Aparecida para rezar e pedir a proteção de Nossa Senhora, a fim de que, durante toda a gestação, corresse tudo bem. Na hora em que estacionamos, na Basílica, e saímos do carro, passou uma família com carrinho de gêmeos; então, percebemos o toque sutil de Nossa Senhora para nós. Como nada é coincidência, entendemos o recado dela e o que estava acontecendo.

Quando uma pessoa engravida, planeja uma gravidez, ela nunca acha que serão gêmeos. Normalmente, as pessoas que esperam gêmeos são aquelas que têm muitos casos na família – e na nossa quase não tem –, além das pessoas que fazem algum tratamento. Então, nós não fomos esperando essa notícia, mas foi engraçado que, no momento em que fizemos o exame, o médico entrou na sala e falou brincando se era o dia em que descobriríamos que eram dois.

O médico colocou o aparelho e viu que haviam dois sacos gestacionais. Olhamos um para o outro e seguramos firmes as mãos um do outro. A partir dali, começamos a fazer todo o acompanhamento e fomos entregar tudo nas mãos protetoras de Nossa Senhora Aparecida. Houve toda aquela felicidade da família ao descobrir que seriam dois. Foi uma alegria muito grande para nós!

cancaonova.com: Existiram desafios durante a gestação? Por ser uma gravidez de gêmeos, os cuidados eram dobrados?

Lucas e Marília Ferreira: Os cuidados foram dobrados devido ao quadro de pressão alta. Foi preciso ter cuidado com a pressão, a medicação e sempre escutar o coraçãozinho delas, porque, pelo fato de serem gêmeos, tínhamos que fazer o ultrassom todo mês.

Existia um cuidado maior, e por trabalhar na área da saúde (Marília é parteira), era tudo muito mais fácil, porque tinha muito mais informação. O lado negativo é que ter muita informação também não ajuda.

cancaonova.com: As gêmeas nasceram prematuras. Como aconteceu o nascimento delas e por que foi necessário adiantar o parto?

Lucas e Marília Ferreira: Fomos fazer um ultrassom de rotina com 28 semanas, porque, nesse período, é feito alguns exames como a curva glicêmica, e teria que fazer uma bateria de exames.

Em um desses exames de rotina, no ultrassom com 23 semanas, a Helena já havia se mostrado bem menor que a Beatriz. Nós já sabíamos que uma era maior que a outra desde o começo, mas, nesse ultrassom de 28 semanas, era preciso medi-las e ver todo o fluxo de sangue para os bebês.

A médica fez, primeiro, as medições; então, ela se levantou e disse: uma é maior e outra é menor. Após dizer isso, ela já estava saindo da sala quando disse que precisava fazer o doppler, que mede o fluxo de sangue. Depois de fazer todo o procedimento, ela disse que não estava gostando do doppler da pequena. Na hora que ela disse isso, eu já perguntei direto o que era e se ela estava com centralização (durante a centralização, há menor quantidade de fluxo sanguíneo para a musculatura, como forma de economizar energia), porque já sabia o que poderia ser.

Se ela não tivesse feito esse exame, no próximo, se fosse tentar escutar o coração da neném, ela já estaria morta. Se eu fosse uma pessoa totalmente leiga, o bebê teria morrido. Nessa hora, minha faculdade salvou a vida do meu bebê. Tenho uma amiga que me diz isso, que eu fiz a faculdade só para salvar a vida do neném.

Na hora que perguntamos se ela estava com centralização e a médica confirmou, bateu um desespero muito grande, porque tinha 28 semanas de gestação. Na verdade, eu sempre falava que, depois de 28 semanas, estaríamos mais tranquilos, porque a chance de nascer um bebê prematuro era maior.

A médica não nos deixou sair da clínica. Refizemos o exame mais duas vezes e recebemos o resultado na hora. Então, ligamos para a nossa médica e para a pediatra. Elas pediram que enviássemos uma cópia do resultado do exame e pediu que fôssemos para Jacareí (SP), porque o estado era grave e de internação.

Nós viemos para Cachoeira Paulista (SP), fizemos a mala correndo e fomos para Jacareí (SP). Planejávamos ter as meninas lá, porque era o hospital que a nossa médica atende, e confiávamos nela.

Fizemos a mala bem rápido. No dia 3 de novembro de 2016, demos entrada no processo de internação. No momento em que chegamos, a médica viu os exames, porque, teoricamente, era para elas nascerem no dia seguinte, pois a ideia inicial era chegar e fazer um ultrassom, e a cesárea seria feita no outro dia pela manhã. Mas, no momento em que ela viu o ultrassom, disse que daria para esperar. Para nós foi muito difícil, pois havia o medo de que acontecesse alguma coisa na estrada, porque estava anoitecendo e chovendo.

Durante todo o trajeto, fomos rezando e entregando a Deus, para que nada acontecesse com elas até o momento em que chegássemos ao hospital. Rezamos e pedíamos para elas aguentarem mais um pouco. Com a graça de Deus, conseguimos segurar ainda mais uma semana.

Nessa semana de internação, foi preciso tomar medicações para amadurecer o pulmão das gêmeas, e deu tempo de tomar todas as doses, porque, se nascessem no dia seguinte, seria apenas uma dose. Então, era preciso desse tempo para elas.

Nesse período de internação, de 3 a 11 de novembro, foram feitos exames diariamente. O ecodoppler era feito dia sim e dia não, mas escutávamos o batimento cardíaco das gêmeas a cada três ou quatro horas, para verificar se estava tudo bem. Até que, no dia 11 de novembro, por volta das 17 horas, foi feita a ecodoppler, e o médico diagnosticou que tinha parado o fluxo sanguíneo do cordão umbilical. Isso significava que havia chegado a hora de fazer a cesárea.

Beatriz nasceu às 20h47; a Helena, às 20h51. A Beatriz nasceu e a médica a trouxe para vermos; já a Helena não vinha de jeito nenhum, e ficamos olhando para a médica e vivemos um momento de muita tensão naqueles quatro minutos de diferença de um nascimento para o outro. Fiquei observando a médica e, no momento em que ela fechou os olhos para se concentrar e franziu a testa, percebi que havia algo errado. Ela disse ao anestesista que precisaria de algum medicamento, porque o útero contraiu com a neném lá dentro. Aí o médico disse precisaria entubar a Marília. Nesse momento, começamos a rezar. Na terceira Ave-Maria, a Helena nasceu. Não foi possível vê-la naquele momento, porque ela havia nascido muito branca, e foi levada direto para a incubadora.

Eles me chamaram para ver a Helena, e ela estava com um plástico envolta dela, para não perder calor de maneira nenhuma. A Beatriz nasceu respirando, mas a Helena não. Assim, fui orientado, por amigos, a batizá-la no momento em que nascesse, para não ter perigo de ela falecer sem ser batizada. Lá na UTI, na sala ao lado, a Marília já estava terminando os procedimentos cirúrgicos, e eu estava batizando as duas na sala ao lado, pois pedi um pouquinho de água e coloquei na mão, e com a outra mão fiz o batismo delas.

As meninas nasceram e agradecemos a Deus pelo nascimento das duas garotinhas. Após o efeito da anestesia passar, fomos juntos ver as meninas. A Helena nasceu muito pequena, com 840 gramas; e a Beatriz com 1,30 quilogramas.

Olhando para elas, era como se fosse um feto, porque elas pararam de se desenvolver na barriga para desenvolver fora, porque ela tinha 30 cm. Nesse momento, começou a história delas, porque a nossa luta, graças a Deus, já tinha sido vencida, e a luta das meninas estava apenas começando.

cancaonova.com: Quais foram os riscos e os cuidados especiais que as gêmeas passaram após o nascimento? 

Lucas e Marília Ferreira: A médica já havia explicado para nós que elas não estavam prontas para nascer, porque ainda não era o momento; mas, por causa do problema do fluxo sanguíneo, tiveram de nascer antes para não morrer, pois, se a gestação continuasse, uma hora o fluxo sanguíneo pararia de uma vez e elas morreriam; então, elas nasceram naquele dia para não morrer.

Os cuidados que eles tiveram após o nascimento foram os medicamentos, para que os órgãos continuassem a se desenvolver. A respiração delas acontecia por meio da ventilação mecânica.

A Beatriz nasceu respirando, mas a respiração ficou ruim e precisou ser entubada; assim, as duas ficaram entubadas. Então, elas tinham a medicação, para o pulmão continuar aguentando, para o coração e os rins continuarem se desenvolvendo. A Helena começou a receber o soro, mas não fazia xixi de maneira nenhuma, porque o rim não estava pronto ainda; e ela começou a reter líquido. Foi preciso dar um medicamento para que ela pudesse fazer xixi.

Todos esses procedimentos eram importantes para o desenvolvimento delas. Portanto, tudo era calculado e preparado especialmente para cada uma delas, de acordo com a necessidade, porque exigia um soro que tem proteína, e outros específicos para que elas pudessem se desenvolver.

No segundo dia de vida, a Beatriz, por estar na respiração mecânica, o pulmão dela não aguentou; talvez, se ela tivesse respirando sozinha, isso não aconteceria. Descobrimos que a ventilação mecânica, que fazia ela respirar, mandava ar para o pulmão a ponto de perfurá-lo, e o ar ir para o tórax dela; portanto, ela precisa do ar, mas a sobra dele ficava no tórax. Foi preciso perfurar o peito da Beatriz. Ela passou por uma cirurgia com menos de 48 horas de vida.

Foi o primeiro momento que vivemos um período de muita dor em relação à Beatriz, porque, até então, a preocupação maior era com a Helena, que nasceu menorzinha. A cirurgia me deixou no chão. Eu, Lucas, sentava ao lado da incubadora e chorava por ver uma neném tão pequena com um cano no peito.

A Beatriz teve alta da UTI, no dia 26 de dezembro de 2016, e foi para o alojamento conjunto, tendo alta definitiva no dia 30 de dezembro de 2016.

A médica da UTI pediu uma avaliação cardíaca para a Helena, porque, dentro da barriga, o coração do bebê tem um buraco, e se este se fechar, ainda na barriga da mãe, o bebê chega a falecer; então, ele precisa nascer com esse buraquinho aberto. O coraçãozinho da Beatriz, após um tempo, fechou-se, mas o da Helena não fechava de jeito nenhum! Por isso, a médica me procurou, para dizer que havia pedido a avaliação do cardiologista, que era cirurgião, para ver se a Helena teria a necessidade de fazer essa cirurgia, porque o quadro dela não evoluía e ela não ganhava peso.

O cardiologista foi até lá e constatou a necessidade de fazer a cirurgia, portanto, foi preciso fazer várias transfusões de sangue e dois procedimentos no coração. Os médicos que chegavam para fazer o plantão de fim de semana se assustavam com a Helena, porque ela não ganhava peso e tinha um corzinha amarelada.

Nesse tempo, nós nos apegamos ainda mais na oração e na graça de Deus, pois, por diversos momentos, contamos com a providência de Deus, porque, mesmo tendo plano médico, alguns honorários precisaram ser pagos.

No dia que saiu a autorização do plano de saúde para fazer a cirurgia, a Helena foi diagnosticada com pneumonia, e precisava ficar bem antes de os médicos realizarem o procedimento cirúrgico. Entramos em oração e pedimos a Deus que pudesse deixá-la bem, para que pudesse ser feita a cirurgia. Após refazer os exames, que a havia diagnosticado com dois problemas no coração, um deles, o que trazia mais risco, havia desaparecido.

Diante disso, a equipe médica fez a cirurgia e, aos poucos, ela foi se recuperando da cirurgia e da pneumonia. Conforme os dias foram passando, ela foi ganhando peso e se desenvolvendo, até que começou a respirar sozinha. Depois de um tempo, a Helena foi se recuperando e evoluindo, mas permaneceu no hospital até fevereiro de 2017.

No dia 3 de fevereiro, saímos com ela do hospital. Por mais que existisse o medo, em nenhum momento nós entregamos, e achamos que aconteceria algo com elas.

Até chegar esse momento, foram dias de intensa oração, cansaço e muita angústia, mas Deus é a nossa força. Elas terão cicatrizes para sempre desses procedimentos, mas foram essas marcas que salvaram a vida delas.

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