Precisamos amar os filhos só 100%, o excesso de amor faz tão mal quanto a falta dele
Há filhos que são tão amados, que de príncipes viram os reis da família, definindo tudo: passeios, viagens, cardápio, canal da tv… Crianças assim, perdem a empatia, capacidade de sentir o que o outro sente, capacidade de perceber as necessidades do outro, as carências. Não sabem perder nos jogos, ditam as regras nas brincadeiras, e na medida em que crescem são rejeitadas pelos colegas. Na carreira terão dificuldade de seguir ordens. Tornam-se egoístas, não sabem ser gentis, não sabem mais amar ao próximo.
Se formos para o outro oposto, ou seja, crianças sem direito de escolha, com pais muito autoritários que repreendem duramente quando os filhos erram, tornam-se submissas demais.
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
O perigo do filho “bonzinho”
Podem parecer filhos “bonzinhos”, mas no fundo são fracos. Não sabem se defender das situações adversas com os colegas, fecham-se, engolem os sentimentos, preferem ficar isolados nos jogos individuais. Ouço mães dizendo: “Meu filho não dá trabalho nenhum, fica o dia inteiro no quarto!”. Como consequência disso, quando crescem, vão permanecer fechados em si mesmos, com medo de dar passos na vida, com medo de errar. Pensam que precisam ser perfeitas para serem amadas. Como só conseguem “vencer” no mundo virtual dos jogos, podem se tornar dependentes deles. Ou ainda se rebelarão na adolescência, querendo viver a liberdade que acaba se tornando libertinagem.
Crianças muito racionais, que se dedicam só aos estudos (“nerd” ou “cdf”), podem estar escondendo dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Elas se desenvolvem cognitivamente, tiram notas boas, no entanto são absolutamente analfabetas no desenvolvimento das emoções.
Essas crianças, geralmente vêm de famílias onde o trabalho e a carreira são os fatores mais importantes. Os pais esquecem de ensinar sobre a vida.
Ensinar sobre a vida
Neste caso, precisamos ajudá-las a desenvolver outras áreas do cérebro. Música e teatro ajudam no desenvolvimento da criatividade, sensibilidade, intuição e nos relacionamentos. Precisamos ajudá-las a sentir. Por exemplo, posso passear com eles em um parque, pedir para fecharem os olhos, sentir os aromas da natureza, o vento, os pés no chão, os sons da vida. Posso ensiná-las a prestarem atenção aos detalhes da vida: ver o amor entre as pessoas, a troca de carinho, o olhar de quem sofre.
Para ensinar sobre a vida, é preciso tempo. Questiono a frase: “O que importa não é o tempo, mas a qualidade do tempo”, penso que esta frase é para tentar diminuir a culpa dos pais. As perguntas de nossos filhos, sobre o sentido da vida, o amor, a morte… surgem em momentos inesperados do dia. E espero que quem esteja ao lado para dar as respostas sejam os pais.
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Sinal vermelho
Crianças tristes, ou agressivas, sinal vermelho. A tristeza e a agressividade em crianças pode significar depressão. Esses sintomas podem ser originários de traumas agudos, como abuso sexual, abuso verbal, abuso físico. Não só traumas agudos fazem as crianças sofrerem! Os problemas conjugais, traição, frieza, desamor entre o casal, geram dores profundas, levando inclusive crianças a adoecerem fisicamente e, no extremo, desejarem morrer. Em meu livro “Cura dos Sentimentos em Mim e no Mundo”(da Editora Paulinas), isto é explicado em detalhes.
Como saber se está tudo bem com meu filho
Criança é alegre, criança sorri, tem brilho no olhar. Perdoa, logo esquece. Tem empatia desde muito pequena, e chora ao ver outra criança chorando. Crianças são inteligentes, questionam, perguntam. Caem, choram, mas se levantam. Crianças confiam, creem mesmo sem ver. São intuitivas, capazes de sentir o que acontece na família, nascem sábias. Crianças não têm medo de viver, de abraçar, de beijar, de amar. Enfim, crianças são espirituais.
Adriana Potexki
Psicóloga, terapeuta certificada pelo EMDR Institute