Sou mãe de três filhos, sendo dois mais velhos já na faculdade, e o menor, de 4 anos, nascido com Síndrome de Down. É especificamente dele que quero falar, do André Lucas, essa pessoinha que nos desafia e nos leva a aprender mais todos os dias. Durante a pandemia e esses meses de quarentena, às vezes, eu me sinto sobrevivendo em meio ao caos e, outras vezes, encontro-me agradecendo pelas coisas novas que aprendi e pelo jeito mais simples de resolver as situações.
Quando entramos em quarentena, eu estava no último semestre da minha graduação, fazendo TCC e outros trabalhos que a faculdade exigia. Além, é claro, do trabalho, filhos etc. As contradições da vida, as coisas acontecendo de modo confuso, acelerado, porém tudo encaixado em seu horário, de certa forma organizado e andando.
Quando a quarentena chegou, desestabilizou-nos e arrancou-nos as rotinas com as aulas paradas, sem poder sair, sem contato com as pessoas, só dentro de casa. Uma readequação à nova rotina, pois os “pratos não podem cair”. Sei que muitos de vocês se identificam com esse pensamento. Cada um, a seu modo, vivenciou e vivencia ainda essa louca novidade do dia a dia em uma quarentena, principalmente quem tem crianças em casa.
Como mãe, senti-me perdida
Em relação ao André, como sua rotina envolvia a escolinha, com as atividades específicas e a convivência com os coleguinhas, e também as idas à fonoaudióloga, no primeiro momento me senti um pouco perdida, sem saber como agir, pois paramos com tudo de uma vez. Ele sentiu e sente até hoje. Percebo em seu comportamento.
Graças a Deus, a escolinha que ele frequenta, que trabalha com crianças especiais, deu todo o suporte possível enviando as atividades via WhatsApp, apostila impressa para eles fazerem as atividades, além do suporte à disposição com os profissionais que atendem as crianças como psicóloga, fisioterapeuta, fonoaudióloga.
Tentamos, como família, deixar o André o máximo possível próximo da rotina de horários e atividades que ele vivia na escolinha. Priorizamos isso para ele se ocupar e não perder o ritmo da estimulação que ele precisa viver. Confesso que não consegui por em prática todas as atividades propostas. Tentei. Juro que tentei. Ele fez de bom grado muitas atividades, mas não tem como fazer igualzinho lá na escolinha. Vocês sabem… É complicado! E ainda tem a questão da falta de convivência com outras crianças. O André ficou bem agitado com isso.
Rotina da casa
Por isso, partimos para atividades extras dentro de casa, colocando nosso jeito… Fizemos corda para ele puxar e brincar com as cachorras. Montamos uma cestinha de basquete para ele brincar. Mudei a configuração da sala, abrindo espaço para ele correr e pular enquanto assiste TV ou brinca. Selecionei alguns desenhos que achei que iria estimular na fala e que fizesse ele se mexer e não ficar vidrado e parado em frente a TV; comprei coisinhas mais
baratas como tinta guache, lápis de cor, cola, giz de cera para desenhos e pinturas; juntei tampinhas de garrafa pet coloridas para ele separar por cor.
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Inserimos o André na rotina da casa, como ajudar a por a mesa do café, catar os brinquedos do chão, ajudar a molhar as plantas…essas coisas simples que os pais fazem para educar a criança, mas que agora na quarentena cria também o sentido de estimulação e convivência. O sentido de cuidar, ajudar, manter a organização.
Relação familiar
A relação com a família também se intensificou. Encontramo-nos mais, portanto, aparecem mais conflitos, mais conversas, mas risadas, mais momentos em família. É algo extremamente bom, necessário e que precisamos tirar proveito positivo. Aprendi que precisamos aproveitar melhor esses momentos mais simples. Em alguns momentos, realmente pensei que não daria conta, mas a gente sempre dá conta.
E há essa pergunta que milhões estão fazendo: Será que a quarentena vai acabar este ano? Meu Deus! Espero que sim. Toda essa experiência nos ajudou a crescer, a repensar, a viver coisas novas, aproveitar o que nos foi dado, enfim, tiramos verdadeiras lições de vida. O ‘equilibrar pratos’ é bom, fortalece-nos, mas chega um momento que precisa parar. Descer os ‘pratos’ e as ‘varas’ e voltar para a rotina. Deus do céu… e como queremos nossa rotina de volta! As escolas, os amigos, as viagens, o lazer, o ir e vir.
Tenho esperança como você. E agradeço a Deus, desde já, pelo tempo novo que virá.