Nasce o filho e com ele nascem: o pai e a mãe. E nesse pai e nessa mãe nasce uma avalanche de sentimentos. Um mix de seguranças e incertezas, coragem e medo. Queríamos uma cartilha que nos ajudasse no sono, na amamentação, nas cólicas, nas febres, nas viroses, na introdução alimentar, no engatinhar, no andar, no falar, no pensar, no amar, no e na (…). “Ufa!”. São tantas demandas. E existem muitas “cartilhas” de como “adestrar” seus filhos. Métodos e mais métodos “infalíveis” para transformar aquela folha em branco chamada filho no “ideal de homem/mulher” que está dentro dos pais.
Até o título desse texto foi de propósito, pois, quem não quer as 5, 10 ou 20 dicas de como formarem crianças para serem emocionalmente fortes e equilibradas? Certinhas e que nunca mostrem fraquezas ou certo desequilíbrio? Quem não quer um filho que não “dê problema”? Quem não quer um “deus” em vez de uma pessoa?
Depois de muitas provocações precisamos pensar: “Quero ser para meu filho alguém que o ajude a ser o melhor de si mesmo ou o melhor que acho que ele deve ser?” Estou preocupado com ele ou comigo mesmo?”.
Como formar as crianças?
Por exemplo, muitos pais não querem entender o porquê do choro do filho, que não permite que ele durma; mas querem a receita infalível para que o bebê pare de chorar e durma. O que está por trás não é a necessidade do filho que chora por uma causa, e sim a necessidade do pai/mãe de dormir.
Por vezes, corremos o risco de “idealizarmos” tanto o filho “perfeito” que não permitimos que ele exista, entretanto, insistimos para que ele “exista” da maneira que julgamos a mais apropriada. Que violência! Colocamos padrões desumanos como, por exemplo: “meu filho tem de andar com 5 meses porque tem de ser o primeiro em tudo. Deve ler com 1 ano pois o da vizinha aprendeu com 2 anos e o meu não pode ficar para trás. Não pode chorar; tem de ser forte e mais forte do que o filho dos outros”.
Gosto do sentido da palavra educar, ela vem do latim: “educere”, que significa “tirar de dentro”. Educar não quer dizer colocar coisas como se não tivesse nada lá dentro dele, muito pelo contrário, educar é um processo que oportuniza sair o que em potencial já existe. Todos nós nascemos com um ser bom, justo, amável etc. O que precisamos, como pais, é oferecer o melhor ambiente para que isso possa vir para fora; para que possa aparecer e ser. Nosso trabalho não é o de colocar coisas, e sim sermos “gatilhos” de identificação para nossos filhos.
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Como ter um filho equilibrado emocionalmente?
Se quero que meu filho seja uma pessoa “equilibrada emocionalmente”, preciso pensar no quanto eu “ofereço para ele um ambiente equilibrado nas emoções”, para que ele se identifique e tire de dentro dele aquilo que ele viu fora.
Contudo, entenda que equilíbrio emocional não quer dizer não ter conflitos, não é isso! Equilíbrio supõe-se presença de opostos, logo, conflitos. E esses opostos podem aparecer sem medo e sem desajustar a relação. Podem até trazer tensão a ela (relação), mas não polariza-la. Isso gera no filho a oportunidade de tocar dentro de si, nos próprios sentimentos ambivalentes que existem e, assim, assumi-los, integra-los e os colocar no mundo das relações de uma maneira mais saudável.
Hoje, acompanhamos vários adolescentes, jovens e até adultos que não conseguem lidar com as próprias emoções. Não toleram a frustração e partem para atitudes desequilibradas baseadas no rancor, raiva e ódio. Pensemos no quando, durante a infância, foram “formados” por um ambiente instável e agressivo. Agem no hoje com aquilo que internalizaram lá na infância.
Qual é a fórmula certa para educar?
Se me perguntarem:
– Então, como educar os nossos filhos? Primeiro, pense no quanto você de fato está “educado”. O quanto você se conhece, se aceita e se integra. Que referencial você é para o seu filho e como ele assimila isso? Muitas vezes, colocamos fardos sobre eles, os fardos das nossas idealizações. Mas digo a você: “Seu filho estrutura-se na linha das idealizações que ele faz de você”. Ou seja, o quanto você se torna o “ideal” que está dentro dele. Exemplo: se falo para o meu filho que ele precisa respeitar aos outros, ser honesto e gentil, mas, no primeiro sinal vermelho do semáforo eu acelero, não paro carro, estou dando a ele o “ideal da desonestidade”, porque, entre o que falo e faço, ele ficará com o que eu faço.
Eles nos veem; nos idealizam. Não há métodos infalíveis e livros de receitas para a educação dos filhos, podem até ajudar, mas sempre será no relacionamento de pais e filhos que o “educere” acontecerá. Acredite nisso!