Deus nos ama com amor eterno e, por isso, quer relacionar-se conosco. A partir disso, devemos perceber qual é o verdadeiro sentido da religião. O que caracteriza o verdadeiro cristão não é a mera observância dos mandamentos, e sim a busca da perfeição que está no seguimento de Jesus, ou seja, no relacionamento com Ele. Porém, existem valores deste mundo que se tornam obstáculos para esse relacionamento, como é o caso dos bens materiais, que nos impedem de buscar a vida eterna e a perfeição.
Portanto, o medo de perder o lugar no mundo, nesta passagem aqui e agora, nos leva a encontrar tempo para lamuriar, ao invés de colocarmos os dons (que recebemos de graça) para o serviço de Deus. Quando compreendemos que não são nossos os talentos que recebemos, aí sentimos alegria em transmiti-los ao mundo. Portanto, nossa missão não somos nós quem escolhemos, segundo nossas capacidades e oportunidades, mas é Deus quem chama para realizar uma determinada missão.
Ser cristão e viver a fé não pode ser apenas cumprir preceitos
Na vivência bíblica, iluminada e dinamizada pela Palavra, Deus quer nos levar a mudar a nossa história com ações concretas de luta, de denúncia, mas também de esperança, na capacidade de conversão do ser humano e da sociedade. Dessa realidade desabrocha a caridade, amor que move a vontade na busca efetiva do bem, procurando identificar-se com o amor de Deus na forma como Ele se revelou a nós. Em Jesus formamos uma nova aliança que se fundamenta na solidariedade, na misericórdia, na compaixão, na unidade, na comunhão. Deus que nos amou por primeiro, na total gratuidade (1Jo 4,19), espera que nossa resposta, ao seu amor, seja também de gratuidade e de livre opção. Isso exige de nós compromisso social, ou melhor, engajamento profético.
Hoje, não se concebe mais prática religiosa como mero exercício de devoção ou práticas de piedade, mas é necessário conceber como um modo de ser e de viver do cristão comprometido com o Reino de Deus. Ela marca todas as dimensões do nosso ser e do nosso agir. Portanto, Palavra de Deus e comunidade são elementos inseparáveis. Mas como encontrar o caminho comunitário de uma verdadeira espiritualidade marcada pela palavra?
O caminho
A Bíblia é a fonte da nossa espiritualidade pessoal e comunitária. Pela força transformadora dela, nos tornamos capazes de mudar critérios de discernimento da realidade, de confronto da nossa vida com a vontade de Deus. Pelo aprofundamento das escrituras, nos fortalecemos na prática da caridade e da justiça. “Traze sempre na boca as palavras deste livro da lei; medita-o dia e noite. Cuidando de fazer tudo o que nele está escrito; assim prosperarás em teus caminhos e serás bem sucedido” (Josué 1,8).
“Ora, tudo o quanto outrora foi escrito, foi escrito para a nossa instrução, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança” (Romanos 15,4).
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Deus sabia que o homem precisaria de Sua Palavra. A Bíblia é o livro inspirado que dá as diretrizes para o cristão. Nela está toda a vontade de Deus para o homem e tudo o que Ele quer nos dizer. Nas Escrituras encontramos consolação e esperança, profecias e histórias. Sua leitura deve ser diária. Assim como o corpo precisa de alimento e sentimos sede todos os dias, o espírito precisa ser alimentado. Tenhamos sede da Palavra. Meditemos-a dia e noite, pois, quando a meditamos, Deus nos fala ao coração. A Bíblia é um livro de instrução.
A pureza das crianças
A maneira como devemos nos aproximar mais de Deus está sabiamente expressa no parecer de São Francisco de Sales: “Cuide para não se esquecer de Deus enquanto trabalha. Imite as criancinhas quando caminham: elas seguram na mão de seus pais… Preste atenção em seu trabalho, mas, de vez em quando, pense no Senhor para pedir-Lhe ajuda, e para ver se o que está fazendo é do seu agrado. Desse modo, você realizará melhor e mais facilmente até as tarefas mais difíceis”.
Eduardo Rocha Quintella
Fraternidade S. J. da Cruz – O.C.D.S