Jesus Cristo é muito popular. Mesmo entre os não cristãos, seu nome, sua imagem, suas palavras têm um apelo quase irresistível, seja para homenageá-lo, seja para criticá-lo. O cinema, a literatura, o teatro, a música, praticamente todas as artes não se cansam de se debruçar sobre o Filho de Deus, ainda que não o chamem assim. É justamente por isso que praticamente todo mundo que você conhece tem uma “opinião bem formada” sobre Jesus. Isso passa por generalidades como “Jesus era um pacifista” ou “Jesus jamais faria isso ou aquilo” para coisas mais específicas como “Jesus não era Deus, só um grande profeta”. Mas vamos sair da abrangência geral e fechar mais o círculo para nós, que nos declaramos católicos. Cremos que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida e que ninguém chega ao Pai se não for por Ele. Dizemos no Credo em cada Santa Missa de que participamos e em cada Santo Terço que rezamos que cremos que Jesus é o Filho único do Pai, que nasceu da Virgem Maria, morreu crucificado, ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus, onde está à direita de Deus Pai e de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Mas na nossa vida cotidiana de fé, na vida prática, concreta, que Jesus nós seguimos? Qual foi o Jesus que alcançou o meu coração e me fez levar a sério minha vivência religiosa?
Como Jesus te conquistou?
Você pode ter se encantado com “Jesus, o maior psicólogo que já existiu”, como diz aquele livro. Talvez num momento de oração ou ao ouvir uma pregação sobre como Jesus compreendia nossas dores, como Jesus sabia acolher-nos em nossas misérias, você tenha se sentido amado ou amada como nunca anteriormente. Talvez Jesus tenha ajudado você a superar um problema sério de autoestima, de aceitação ou mesmo o curou de um trauma de infância, e por isso você tenha esse sentimento de gratidão a Ele. Pode ser que o Jesus que tenha conquistado você seja o “mestre da inteligência”, como diz o outro livro. As multidões do tempo de Jesus também ficaram impressionadas com seu ensinamento e se perguntavam de onde vinha tanta sabedoria. Quantas pessoas desenvolvem essa “devoção intelectual” pelo Jesus que desconcertava os fariseus com frases tão inspiradas que se tornaram proverbiais, como “dai a César o que é de César” ou “aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra”. Outro Jesus que está na moda seguir é o “Jesus líder”, assim retratado em muitos livros, que ressaltam como Ele soube conciliar os egos de um grupo tão heterodoxo como o dos apóstolos e se sacrificar para manter a unidade do seu grupo e alcançar a sua meta. Esse Jesus líder também sabia o momento de ouvir e valorizar a opinião do outro, mas sabia perfeitamente quando era hora de corrigir. Enfim, não faltam frases de efeito para transformar Jesus praticamente num coach, talvez “o maior coach de todos os tempos”.
Há muitos Jesus por aí, mas no meio religioso talvez nenhum esteja tão em voga quanto o “Jesus médico” ou o “Jesus dos milagres”. Bastou uma palavra e o servo do centurião foi curado. A hemorroíssa tocou suas vestes e seu sangramento parou. Esse Jesus médico ou dos milagres cura todas as feridas, faz maravilhas, dá a vitória e a bênção sobre tudo em sua vida. Se você está desempregado, Ele abre as portas para um novo emprego. Se você não consegue engravidar, Ele lhe dará a vitória e seu ventre gerará um filho. Se é sua empresa que está quase falindo, Jesus abençoará as suas finanças e você prosperará. Quantas multidões perseguiam incansavelmente Jesus em busca desses milagres! Houve um momento crucial em que o povo não queria deixá-lo partir, trazendo doentes, pessoas afligidas por diversos males, para que Ele curasse a todos. Chegou ao ponto de Jesus sair para um lugar deserto e, diante da insistência da multidão, dizer que ele precisava partir para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus, pois foi para aquilo que Ele veio.
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Qual Jesus é o verdadeiro?
São muitos “retratos” de Jesus, mas São Paulo deixa bem claro que Jesus ele conhecia e por isso anunciava: “Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1 Cor 2, 2). Um grande psicólogo pode me ajudar a ter mais amor próprio; um homem muito inteligente pode me fazer pensar dias e dias a respeito de alguma frase profunda e cheia de significado; um líder carismático pode me ensinar a usar melhor os meus talentos e a ter um olhar mais realista sobre as minhas limitações; um milagreiro pode restaurar a minha saúde ou mesmo ressuscitar um morto. Mas Lázaro continuou mortal após ter sido trazido de volta à vida por Jesus. Com autoestima baixa ou alta, você vai morrer. Com inteligência ou sem, sabendo ser líder ou não, também. Jesus não veio por causa de nenhuma dessas coisas, mas para anunciar: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). E que Evangelho é esse? É a grande notícia de que o Filho de Deus se tornou homem para sofrer e morrer em pagamento por nossos pecados. Pagando esse preço, nós herdamos a vida eterna. Temos agora um lugar no céu para nós e esse lugar custou as lágrimas, o suor, o sangue, as dores e a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. É por esse motivo que devemos seguir Jesus. É por esse Jesus que uma moça larga tudo para viver enclausurada, não por causa de um psicólogo. É por esse Jesus que um sacerdote como São Maximiliano Kolbe aceita morrer no lugar de um pai de família, não por causa de um Jesus filósofo.
Algum desses muitos Jesus retratados antes é falso, mentiroso? Não, certamente não. Jesus é o médico dos médicos, curou as doenças de muitos e continua a curar e fazer prodígios, abençoar, realizar milagres. Jesus sabia liderar como ninguém, tinha uma inteligência afiadíssima e entendeu a condição humana em sua plenitude, mais do que qualquer psicólogo. Então qual Jesus é o “verdadeiro”? Todos eles e nenhum deles. Jesus não é uma ideia, uma filosofia ou um conceito que façamos dele. Jesus é uma pessoa, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, e é crer nessa pessoa que leva à conversão que ele mesmo nos exorta a viver. O que acontece hoje é que eu recorto o pedacinho de Jesus que me convém. Sempre que faço isso, de alguma forma acabo tirando a Cruz de Cristo, e não há Cristo sem Cruz, assim como não há conversão sem Cruz. Se não quero me comprometer com o reconhecimento das minhas misérias nem quero abraçar a minha Cruz, é muito mais conveniente ficar com um “Jesus terapeuta”, um “Jesus filósofo” ou um “Jesus bonzinho”, de quem só ouço palavras de consolo e aceitação. Mas o mesmo Jesus que disse “vinde a mim, vós que estais cansados”, chamou Pedro de Satanás e de pedra de tropeço, porque ele não estava pensando nas coisas de Deus, mas dos homens. Jesus sabia que o que importava de verdade era que Pedro se convertesse e alcançasse a vida eterna, ainda que naquele momento ficasse triste e até um pouco chateado com as palavras do Mestre.
Examine-se e veja qual Jesus você tem seguido. Não há atalho, não há caminho para o céu que não passe pela cruz e pela renúncia de si mesmo. Não molde Jesus conforme os seus gostos. É justamente o contrário. Somos nós que temos que nos deixar moldar pelo Senhor. O nome disso é conversão. O nome disso é cruz.