Vimos, no post anterior, que a vida eterna tem início em nós, nos habita. Por isso ela já é objeto de posse, hoje, e torna-se performativa, habitual. Essa presença e habitação cria a certeza racional que nos impele a buscar e esperar aquilo que não se vê, a vida eterna com Deus Senhor e Redentor. Toda essa percepção é confirmada na pessoa de Cristo encarnado, então ele é o fundamento essencial da esperança, é a demonstração da existência futura.
Continua o Papa Emérito Bento XVI na Encíclica Spe Salvi: “esta realidade presente constitui para nós uma « prova » das coisas que ainda não se veem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro « ainda-não ». O fato de este futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes nas futuras” (BENTO XVI, SS, n.7).
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Com o presente transformado pela posse do futuro, inicia-se um transbordar em desejo de salvação comunitária. E por isso, a esperança cristã não é individualista. Fazer a experiência com Deus não implica exclusão do outro, pelo contrário, implica inclusão e doação daquilo que recebeu: O amor de Deus doado dia após dia. Esse amor provoca a construção do reino aqui e agora, mesmo em meio à clareza da deformidade e fraqueza do mundo. É um amor-esperança que move e forma.
Interessante notar que a Encíclica Spe Salvi de Bento XVI vai concluindo e amarrando alguns aspectos propostos no texto, dentro dos números 24 ao 31, para depois apresentar os lugares onde devem ser exercitados a esperança. São conclusões que valem a pena serem ressaltadas porque apontam um fechamento do pensamento por parte do Papa, demonstrando seu teor educativo e formativo como de um bom professor e catequista. Realmente, um modo peculiar apresentado por Bento XVI, uma novidade diante das Encíclicas.
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A base sólida da esperança
Em princípio, nota-se um comentário a respeito da liberdade. Para o Papa, ela deve ser sempre conquistada comunitariamente por meio de uma convicção, uma adesão pessoal. Diante desse contexto, havia sido proposto diversas formas de estrutura que levariam o ser humano a um desenvolvimento ético e por fim conclui-se que essas estruturas são necessárias mas não suficientes para esse avanço, não podem ser fundamento último da esperança.
As estruturas que realmente funcionam são as que propõem uma livre adesão por meio de uma convicção pessoal e comunitária. Por outro lado, é ilusão acreditar em um reino do bem estritamente consolidado, já que a liberdade humana é frágil e sempre livre.
Por isso, não se pode colocar as esperanças finais em amores humanos, estruturas políticas, científicas etc. Quem realmente tem um fundamento sólido de esperança é quem conhece a Deus e nele espera. Mesmo assim, somos necessitados de esperanças maiores ou menores, entretanto, sem a grande esperança que vem de Deus as outras não bastam, são insuficientes. Na experiência do amor divino, acontece a garantia daquilo que se espera, recebe-se o futuro no qual existe a aptidão para possuí-lo, e assim viver e vencer os sofrimentos presentes como foi dito nos itens anteriores.
Link para a Encíclica Spe Salvi: https://bit.ly/3J4TTrh
Continuaremos a falar deste tema na próxima publicação.