Às vésperas do Santo Natal do Senhor, é possível sentir que algo novo há de acontecer. Até o mais insensível dos homens consegue perceber que, neste período do ano, Deus comunica a novidade que o mundo está esperando, mesmo que este não o saiba. A história da humanidade nunca mais foi a mesma, após o evento do Natal, porque o sagrado habitou o profano.
Agostinho de Hipona, em um dos seus sermões, grita a cada um de nós o que acontecerá no dia de amanhã: “Desperta, ó homem, por tua causa Deus se fez homem”. O mistério da encarnação de um Deus que, sem deixar de ser Deus, tornou-se homem. O grito pode servir para expressar medo, como também para aumentar a consciência de um evento urgente. Essa, sem dúvida, é a razão do grito de Agostinho para nós. Se soubéssemos a magnitude do que irá acontecer na noite de Natal, voltaríamos todo o nosso ser para este acontecimento.
Anterior ao dia do Natal do Senhor, muitos profetas tentaram narrar o que seria este grande acontecimento. São Paulo também escreve sobre esta data. A epístola aos Efésios 5,14 ajuda-nos para que entender o que está prestes a acontecer: “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá”. Jesus veio para nos tirar da morte que nos encontrávamos, continuaríamos mortos se Ele não nascesse da Virgem Maria. Por meio de Eva, a vida eterna esvaiu-se; então, toda a humanidade ficou à mercê da morte. Por meio de Maria, a humanidade recuperou a vida, quando ela concebeu o Filho de Deus. Com o nascimento de Cristo, a vida veio nos visitar.
Às vésperas do Natal, sabereis que o Senhor virá
Qual é o motivo da tua alegria e da tua glória? Meus queridos amigos, a alegria de todo cristão é o próprio Senhor. É Ele a nossa alegria, porque nos dá a alegria de entrarmos agora no mistério do seu Natal, para que Sua chegada nos encontre vigilantes na oração, celebrando Seus louvores. Ainda é São Paulo que nos diz:
“Quem se gloria, glorie-se no Senhor” (Cf. 1 Cor 1,31). A nossa glória é ter Deus conosco, o Emanuel. Qual outra religião tem seu Deus tão próximo, manifestando tamanho amor a ponto de encarnar-se em uma criatura e chegar a entregar a sua vida morrendo numa cruz?
Essa é a celebração que viveremos amanhã. Celebrar o nascimento do Menino-Deus, da paz, do amor, da justiça, da verdade e da vida. “Amanhã será varrida da terra a iniquidade. E sobre nós há de reinar o Salvador do mundo”, reza assim o responsório breve da Liturgia das horas, fazendo menção à noite Santa do Natal. Para quem estava preso, ferido e prestes a morrer, não há alegria maior que saber que se aproxima o dia e será amanhã que a liberdade, a cura e a vida surgirão. Amanhã, nascerá o remédio para toda a doença e a cura para toda a chaga. Que nosso coração se abra para receber o Salvador do mundo, e a alegria tome conta de cada homem de boa vontade.
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A exemplo de Maria e de José
A Igreja nos deixa os grandes exemplos de Maria e de José, como aqueles que abriram os seus corações e não só abriram, mas escancararam ao limite máximo do amor. Seus corações só poderiam acolher o Salvador, porque eles estavam cheios de amor por Deus. Além disso, podemos nos perguntar como, diante de uma cultura que pedia de José atitude diferente da que esse homem justo tomou, tanto ele quanto Maria deram tamanho testemunho de fé.
O segredo de Maria e José está no Recolhimento, na Oração e Humildade. Embora as Sagradas Escrituras narrem poucos fatos envolvendo os dois, podemos identificar que a base desse casal não poderia ser diferente dessa tríade. “Maria guardava todas estas coisas, ponderando-as em seu coração” (Lc 2, 19). Nessa afirmação do evangelista Lucas, encontra-se, ao mesmo tempo, o recolhimento e a oração. Maria é a mulher que, antes de gestar Jesus no seu ventre, gestou no seu coração. José também acolhe as palavras que o anjo dirigiu a ele em sonho, e com isso faz com que as escrituras se cumpram quanto à descendência de Jesus (cf. Mt 1,18-24).
Oramos também, porque somos frágeis e pecadores. A oração nos permite ser menos indignos para acolher, no nosso seio, no dia de amanhã, o menino que irá nascer. Ela nos dá forças para alcançarmos os ideais cristãos, manter a fé, a caridade, a superar as imperfeições e a ter um olhar de esperança que nos direciona para Deus. A oração sempre nos enriquece, mesmo que silenciosa, como fez Maria e José; mesmo quando não temos nada a dizer, o Senhor nos fala muito e diretamente ao nosso íntimo. Nossa oração precisa ser regada de humildade e fé.
A humildade é o alicerce
A humildade é o alicerce da oração. Precisamos nos aproximar de Deus diferentemente do fariseu que batia no peito e exclamava ser melhor que o publicano (cf. 18,9ss). Na parábola citada acima, o fariseu volta para casa sem ter feito verdadeiramente uma oração; já o publicano volta para casa com o peito aliviado, pois se encontrou com aquele que ele buscava. A oração precisa ser humilde, atenta e centrada na Pessoa a que se dirige, como fez Maria e José, dirigindo seu diálogo sincero ao Senhor, mesmo que sejam suas dores, tristezas e dúvidas, mas certos de que no centro de tudo está Deus.
Meus irmãos caríssimos, deixemos que amanhã, verdadeiramente, nasça em nossos corações e que cresça nas nossas vidas o Menino-Deus. Deixemos que o dia de hoje seja uma espera cheia de alegria, porque a certeza de que Ele virá é tão certa como o sol que brilha. Peçamos a intercessão de Maria e José, para que eles nos ensinem a sermos recolhidos, humildes e orantes, pois só dessa forma seremos a manjedoura adequada para Jesus nascer.
Um santo Natal a todos!