Uma falsa visão da mensagem bíblica

Uma falsa visão da mensagem bíblica é que se percebe na declaração de muitos sobre a Igreja no atual contexto histórico. Quem estuda a História verá que, em todos os tempos, há aqueles que contemplam a Instituição estabelecida por Cristo à beira do abismo. São os alarmistas aos quais falta uma análise profunda dos acontecimentos desde a era apostólica.

Não se pode julgar a situação da Igreja apenas a partir desta ou daquela região e daí se concluir sobre o seu futuro sombrio, mesmo porque em tantas outras regiões o surto religioso é intenso, multiplicando-se, inclusive, nelas as vocações sacerdotais e religiosas. Isso sem se ter em conta que o apostolado dos leigos é hoje também uma realidade fulgente. Dizer que a linguagem da Igreja é moralizante é querer abolir os Dez Mandamentos.

Quem penetra fundo nos escritos do saudoso Papa João Paulo II e do Papa Bento XVI jamais dirá que empregam uma maneira de se comunicar obsoleta, anacrônica e repetitiva, pois são escritos de Papas sadiamente modernos em suas expressões e colocações teológicas. Reformular o Evangelho é impossível e os sucessores de Pedro são fiéis ao que disse Nosso Senhor Jesus Cristo: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram” (Mt 7,13). Dizer que a fé atualmente é na Igreja muito cerebral, abstrata, dogmática e se dirige muito pouco ao coração e ao corpo é um grave equívoco. Com efeito, por ser a fé firme adesão à Palavra de Deus, supondo aceitação, obediência e fidelidade, ela guia o agir humano, mas não a partir de um sentimento cordial.

Cristo foi muito claro: “Não é aquele que diz Senhor, Senhor, que entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus” (Mt 7,21). São Tiago é taxativo: “Que aproveitará, irmãos meus, se alguém tem fé e não tem obras?… Poderá mesmo alguém dizer: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2,18). A fé não é um ato isolado, mas determina a vida moral do homem.

A fé é exigente. Crer na Palavra de Deus é aceitar sem restrições o que Ele revelou e isso requer uma decisiva opção moral firme, decidida. A conduta deve ser coerente com aquilo que se crê. Observa padre Leonel Franca: “O obstáculo principal à fé não está nas dificuldades intelectuais que ela suscita, mas nos sacrifícios que impõe”. Uma das causas do ateísmo no mundo de hoje é exatamente o paradoxo que existe entre aquele que se diz crente e o que ele pratica. O fato de muitos migrarem para cultos orientais ou seitas que não exigem a obediência da fé é justamente porque muitos são os que querem uma religião pão-de-ló e não aquela pregada por Cristo: “Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 15,24).

Então os ditames do Magistério, repetidos à saciedade, sobre o matrimônio, a contracepção, o aborto, a eutanásia, a homossexualidade, as segundas uniões matrimoniais, não dizem mais nada àqueles que aboliram por conta própria os Mandamentos de Deus e os claros ensinamentos de Cristo. Não é possível dar um tratamento pastoral, sociológico, psicológico e humano a estas questões batendo de frente com as determinações divinas. Os cristãos é que devem se adaptar ao Evangelho e não o Evangelho aos cristãos e isso em qualquer parte do mundo. O fenômeno do ateísmo no mundo moderno não pode ser tratado de uma maneira epidérmica e hoje a religiosidade é um fato inegável por parte daqueles que não procuram na negação de Deus um apoio para seus desvios morais e uma licenciosidade calamitosa.

Os profetas do caos inclusive anunciam que a vitalidade incontestável da Igreja no Terceiro Mundo é equívoca e já prenunciam sua derrocada. Ao contrário, estas novas realidades eclesiais são expressão viva da perene juventude da Igreja, desta Igreja cuja perenidade está, de fato, garantida por seu Fundador: “As portas do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt 15,18).