Em 13 de maio de 1982, João Paulo II, peregrino em Fátima, um ano após o atentado de que fora alvo na Praça de São Pedro, exprimia-se da seguinte forma a respeito da mensagem transmitida pela Virgem Maria a Jacinta, Francisco e Lúcia: “Se a Igreja acolheu a mensagem de Fátima, foi sobretudo porque ela contém uma verdade e uma chamada que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e a chamada do próprio Evangelho”.
Parece que podemos dizer que Fátima e o Rosário são quase sinônimos. Sabemos que as três crianças, depois do seu encontro com um Anjo do Senhor, seguiram fielmente as instruções que ele lhes havia dado e intensificaram o seu recurso à oração de acordo com o que tinham recebido. A recitação frequente do Rosário tornou-se para eles uma necessidade interior que os estimulou a fazê-lo com fidelidade precisa, mesmo quando a situação se tornou para eles trágica e até cheia de apreensão e receio.
Com efeito, estando naquela época Portugal dominado por governos maçônicos e abertamente antirreligiosos, o Administrador do Município de Vila Nova de Ourém (área na qual viviam as famílias das três crianças), decidiu pôr fim àquele movimento religioso que se tinha desenvolvido por causa deles.
Na manhã de 13 de agosto, ele foi a Fátima e levou embora consigo os três pastorinhos para Vila Nova de Ourém. Ali, aprisionou-os alternadamente na sua casa, ou na prisão municipal, ameaçando-os seriamente também de os matar, tudo isso com a intenção de obter que eles lhe revelassem o segredo que Nossa Senhora lhes confiara. Na prisão, os detidos deram aos Pastorinhos o seguinte conselho: “Dizei ao Presidente da Câmara esse segredo! Que vos importa se aquela Senhora não quer!”. “Dizê-lo, não!”, respondeu Jacinta com vivacidade; “prefiro morrer!”.
Decidiram, então, recitar o nosso Rosário. Jacinta mostra uma medalha que trazia ao peito, e pede a um preso que a pendure num prego da parede. “De joelhos diante da medalha, começamos a rezar. Os presos rezaram conosco, como sabiam; pelo menos permaneceram ajoelhados. Quando Francisco se apercebeu de que um dos presos estava ajoelhado com o boné na cabeça, aproximou-se dele e disse-lhe: “Você, se quer rezar, deve tirar o boné”. E o pobre homem deu-lhe imediatamente, e Francisco o colocou sobre um banco.”
Foram precisamente as crianças que guiaram a recitação do Rosário. Do que até agora recordamos a propósito dos fatos que aconteceram nos meses de maio e agosto de 1917 emerge um fato que deve ser realçado, que é o seguinte: tratava-se de três crianças, e foi a elas que Nossa Senhora se quis manifestar. Não há nada de estranho nisto, se se considera que Nossa Senhora é a Mãe d’Aquele que, tendo-Se feito homem, tendo-Se tornado pequenino para viver entre nós, demonstrou abertamente o Seu amor pelas crianças e manifestou também claramente que apraz a Deus revelar-Se aos pequeninos.
Apraz-me concluir com a observação que Lúcia nos transmite no seu último livro “Os apelos da mensagem de Fátima”, quando diz: “Para ir para o céu, não é condição indispensável recitar muitos Rosários no sentido estreito da palavra, mas sim, rezar muito”. Naturalmente, para aquelas pobres crianças, recitar o Rosário, todos os dias, era a forma de oração mais acessível, assim como é ainda hoje para a maior parte das pessoas, e não há dúvida de que dificilmente alguém se salva se não rezar” (Irmã Lúcia, em Os apelos de Fátima, Libreria Editrice Vaticana, 2001, pág. 116-117).
Artigo extraído da reflexão intitulada – FÁTIMA E A RECITAÇÃO DO SANTO ROSÁRIO