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Papa Francisco: sua resiliência diante da dor e do sofrimento

Resiliência: Ponto chave para a fé e o crescimento da humanidade

Pensar no Papa Francisco e, mais precisamente, no final da sua vida diante de sua doença e fragilidade humana, é também pensar no quanto ele foi resiliente, ou seja, o quanto ele foi capaz de superar, vivenciar e nos ensinar mesmo diante da dor e da fraqueza. Sim, o Papa também sofreu e, como cada um de nós, ele também teve que superar muitas situações de enfermidades e até mesmo pressões decorrentes da sua missão e da vida cotidiana. A resiliência do Papa é um ponto chave para o nosso aprendizado na fé e crescimento no que diz respeito à humanidade.

Créditos: Domínio público

Mas o que é resiliência? E qual a relação dessa palavra com a finitude do Papa Francisco? Pois bem, o termo resiliência é uma derivação do verbo latino resilire (re-salire) que significa “retornar ao seu estado natural”, ou seja, a resiliência é a capacidade de uma pessoa diante de uma situação problemática, retomar o seu equilíbrio psicofísico tornando-se melhor do que antes (diríamos, crescendo com aquela determinada situação). É um termo muito utilizado no campo da psicologia e do desenvolvimento humano, mas também, como modo comparativo, pode ser utilizado no campo da medicina e da espiritualidade. 

A resiliência na medicina e espiritualidade

No campo da medicina, a resiliência pode ser visualizada diante da capacidade do corpo humano em superar a dor física e se reconstituir diante de um acidente ou um trauma. Papa Francisco, diante da sua enfermidade, soube compreender a limitação e, deste modo, criar um sentido para a sua vida e seu ministério, uma nova direção, esse é o objetivo da resiliência nos seres humanos. Um caminho que nos ajude a enxergar além da situação limite que vivenciamos. Dessa forma, a resiliência nos faz olhar para o passado e o presente e a criar perspectivas para o futuro. É uma reorganização real da vida, um planejamento aberto para o futuro. Papa Francisco, em sua dor e sofrimento, olhou para o futuro (a vida em Deus) e quis, até horas antes de sua morte, estar com os que amava (os fiéis na praça de São Pedro). Para o Papa, esse momento foi uma grande despedida e, para nós, um grande testemunho de força e de coragem até o fim.

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No campo da espiritualidade, a resiliência pode ser comparada e visualizada diante dos momentos em que nossa fé é provada. Geralmente, diante de uma possível morte, seja nossa própria ou de alguém que amamos, nos questionamos muito sobre o futuro desconhecido, a vida eterna. A resiliência aqui se revela no sentimento da Paz, a paz que vem porque eu tenho a convicção de que algo existe para me acolher. Papa Francisco, em sua fragilidade diante da doença, nos ensina a aceitar o limite com alegria, porque sabemos que não é o fim. Em seus ensinamentos, ele sempre nos recordava daqueles mais velhos e abandonados nos leitos de hospitais e casas de repouso. Chamava-nos a atenção para estarmos juntos e assim amenizar os sofrimentos que os remédios não eram capazes de resolver. Com esse gesto, o papa nos ensinou também a promover a resiliência na vida do outro. A resiliência é algo pessoal, ou seja, cada um particularmente deve atingir a sua, mas, se estamos próximos daqueles que sofrem com palavras, sentimentos e indicações de fé, o caminho se tornará mais fácil. 

A fé vai muito além do que os olhos podem ver

A finitude do Papa Francisco nos fez recordar das palavras do apóstolo Paulo, que são uma forte prova de resiliência: “Andemos com a fé e não com a visão. Estejamos cheios de confiança e prefiramos ir para o exílio do corpo e morar com o Senhor” (2 Cor 5,7-8). Andemos não com a visão que pode ser grosseira aos olhos humanos, mas com a fé que vai muito além do que os olhos físicos podem ver. Papa Francisco escolheu esse caminho: a fé para ele foi o caminho para re-salire, para ir para o Senhor com uma verdadeira paz e sentimento de missão cumprida. Somente dessa forma poderemos pensar serenamente em deixar o que é corporal para ir em direção a Deus com paz, alegria e tranquilidade.

Padre Rafael Spagiari Giron
Presbítero da Diocese de Amparo, SP. Mestrando em Bioética, em Roma.