Nós falamos, várias vezes, sobre o olhar de Deus que nos cura. Muitas vezes, olhamos para a Hóstia Consagrada, mas é importante nos darmos conta de que a cura vem do olhar que o Senhor tem para nós e que nos faz ver o mundo de uma forma nova.
“Ninguém traz uma lâmpada para colocá-la num lugar escondido ou debaixo de uma vasilha; coloca-a no suporte, a fim de que os que entrem vejam a claridade. A lâmpada que ilumina o corpo são os olhos” (cf. Lc 11,33-34a). São Lucas era médico e também pintor, fez diversos ícones da Virgem Maria, como nos ensina a Sagrada Tradição.
Todos sabemos que os olhos não têm luz própria, mas aqui Ele não fala sobre a biologia do nosso corpo, mas revela o segredo da alma. Existe uma forma de enxergar o mundo que nos ilumina e outra que nos leva às trevas. Jesus nos fala da visão espiritual.
Nosso modo de olhar ao redor precisa ser de uma forma nova
“Se teu olho for simples, ficarás todo cheio de luz; mas se teu olho for ruim, ficarás todo em trevas! Examina, pois, se a luz em ti não são trevas! Se então teu corpo estiver todo cheio de luz, sem traço algum de escuridão, ficarás totalmente iluminado, como acontece quando a lâmpada te ilumina com seu clarão” (Lc 11,34b-36). Ele fala de uma iluminação interior. O olho seria a janela da alma, essa abertura pela qual a luz entra no nosso interior, na nossa alma. Nós precisamos ter um olhar diferente sobre o mundo, e isso faz a diferença.
A maturidade humana é medida diante da capacidade que a pessoa tem de experimentar o sofrimento e transformá-lo numa coisa positiva. Existem dois tipos de adulto: aquele que sofre e se torna destruidor, transformando tudo em coisas que lhe fazem mal (depressão); e aquele que sofre e é capaz de transformar aquilo em cruz, que o leva à ressurreição. Ou você abraça sua cruz e corre para ressurreição, ou você foge dela e morre esmagado.
Capacidade de ter um olhar humilde
Simples é ser sem dobras. Uma coisa complicada é algo que foi dobrado, que não se consegue ver facilmente. Simples é uma coisa aberta. As coisas de Deus são simples, nós é que somos complicados. O Altíssimo quer que tenhamos um olhar humilde sobre tudo.
O que nos faz ter um olhar complicado diante das situações é ficarmos olhando para nós mesmos. Vamos olhar o mundo com a simplicidade de Deus. Ele nos colocou neste mundo para nos prepararmos para o céu, mas nos esquecemos disso e complicamos tudo, ficamos perdidos em nossa vida. Jesus disse para Marta: “Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas, uma só coisa é necessária”, ou seja, prepararmos a nossa vida para o Senhor.
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A felicidade está em preparar o céu
Eu sou padre para preparar o meu céu e ajudá-los a chegar lá também. Olhe para sua vida de uma maneira muito simples, de quem está preparando o seu céu. Minha vida seria muito complicada se eu, como sacerdote, estivesse preocupado com minha carreira, em ser bispo, ser famoso. Não adiantaria nada conseguir tudo isso e perder o céu.
Da mesma forma, para você que vai se casar, saiba que a felicidade existe, mas não será seu esposo quem lha dará. Sua felicidade está em preparar o céu. Jesus nunca prometeu felicidade a ninguém nesta terra, apenas no céu. Quem promete isso, aqui na Terra, é o diabo, e ele sempre dá o inferno.
Esta vida é bonita, é boa, tem alegria para nos dar, mas a felicidade é sempre marcada por uma tristeza. O prazer é sempre empanado por uma dor. A vida é assim e não há nada de errado com ela. Aqui, existem coisas boas e bonitas, mas é só um “tira-gosto”, o “banquete” será no céu. Na Terra, nunca haverá felicidade completa. Sou profundamente feliz por saber que isso aqui não é tudo. A vida é bonita, mas se ela for tudo, torna-se uma má notícia. A vida é bela, mas queremos muito mais.
O olhar complicado é da pessoa que não abre o olho para ver o amor de Deus em primeiro lugar. Muitos acham que amam primeiro, mas se cansam de amar e querem somente ser amados. Isso é complicado. Abra o olho e enxergue que Deus o amou primeiro! Você responde ao amor de Deus amando outras pessoas. Se seu olhar for simples, você enxergará que já foi amado. Uma pessoa que não se sente amada é como um homem que possui trilhões em dinheiro no banco e fica na rua mendigando.
Simplicidade da pomba e a prudência da serpente
Se seu olhar é complicado, a sua vida se tornará trevas e, dessa forma, viverá sem a luz que vem de Deus. Nós, como cristãos, podemos pedir ao Senhor um novo olhar para enxergarmos as coisas sem que elas nos destruam, sem que elas afetem o amor do Senhor em nossa vida. Jesus também sofreu, chorou, viveu a cruz. Não estou aqui propondo a “mágica da Poliana”, uma menina da literatura que descobriu que sofreria menos se visse o lado positivo de todas as coisas. Não é isso que estou propondo. O pecado continua sendo terrível, satanás continuará nos tentando para perdemos a vida eterna, mas faz parte do nosso arsenal de guerra ter um olhar simples.
Estou aqui para preparar o meu céu, e a única forma de conseguir isso é amando os outros. Dizer que crer no céu atrapalha o amor é não entender nada da eternidade. Nós queremos a Páscoa do céu, mas não existe ressurreição se nós não abraçarmos a cruz. Examine como você está olhando a vida, se está olhando o “tira-gosto” como se fosse um “banquete”, querendo dela aquilo que ela não pode lhe dar. Se você mantém o foco no amor de Deus, tudo muda.
Eu não sei o que será de mim amanhã. A vida muda tanto! Quando fui ordenado sacerdote, nunca pensei que faria programa na TV, que teria um site na internet. Eu pensava no meu sacerdócio de uma forma totalmente diferente. Pense se eu ficasse apegado aos sonhos de 19 anos atrás? Deus nos dá circunstâncias diferentes.
As pombas são simples, pois elas voam reto e sabem aonde vão chegar. Precisamos ter a simplicidade da pomba, mas a prudência da serpente, pois esta caminha de forma sinuosa e dribla os obstáculos. Tenha jogo de cintura, saiba refazer os seus planos em cima das cinzas. Deus preparou um lugar para nós no céu e lá há felicidade. Enquanto isso, a felicidade daqui é sempre manchada por um pouco de tristeza, por isso precisamos viver a simplicidade da pomba e a prudência da serpente.
Padre Paulo Ricardo
Arquidiocese de Cuiabá – MT