Reserve um tempo para visitar os vivos e os mortos que foram e são importantes para você
Para quem vive longe de sua terra natal, as férias são um tempo propício para visitar vivos e mortos. Isso mesmo! Sempre existe aquele tio doente, aquela vó com saudade, aqueles primos distantes, aquele amigo de infância.
Quando visito minha Santa (e bela) Catarina, sempre aproveito para dar uma passadinha no Parque da Saudade, onde meu pai está sepultado. Já passei tantas vezes naquele lugar, mas dessa vez, um detalhe me chamou à atenção. A grande maioria dos túmulos estavam enfeitados com flores de plástico. Algumas até pareciam de verdade. Outras eram cópias grosseiras dessa beleza frágil que a natureza cria para atrair abelhas e beija-flores. As imitações nascidas em lojinhas de R$ 1,99 não atraíam ninguém. Eram flores solitárias. O sol as castigava e roubava sua cor. Este é um dos resultados no nosso prático espírito moderno.
Por que flores de plástico?
Por que as pessoas optaram por colocar as tais flores de plástico no lugar do repouso de seus entes queridos? Fiquei imaginando algumas repostas. Alguém diria que é melhor, pois elas não murcham, não soltam cheiro, não precisam de água. Tudo isso tem apenas um significado: podemos esquecer os mortos, pois as flores artificiais não precisam de cuidado.
Aí está o X da questão: o cuidado. Somente cuidamos daquilo que tem vida. Se mortos estão mortos, por que lhes dar flores vivas? Mas este não era exatamente o sentido de oferecer flores e velas aos mortos? Acreditamos na vida apesar de sua fragilidade. Recordamos os que morreram, apesar do tempo. As flores são símbolos fortes de vidas são sinais de cuidado, presentes infalíveis. Na dúvida, dê flores. O bom é que elas são “inúteis”. Não servem senão para encantar por alguns momentos. Algumas não duram uma semana, e ainda exigem cuidado. Depois murcham e desaparecem sem ferir a mãe terra. Flores naturais são ecologicamente corretas. As flores de plástico levarão muitos anos até se reintegrar à natureza. Duram demais. Já nascem mortas.
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A vida precisa vencer
Eu estava distraído nesses pensamentos quando minha irmã disse que, naquele cemitério, havia um túmulo totalmente diferente. Era de uma garotinha muito nova, quem sabe doze anos, que havia falecido no dia 12 de junho de 2004, Dia dos Namorados. Havia gramináceas plantadas sobre o túmulo, enfeitado com bonequinhas e borboletas, presépios e flores. Acredite: de verdade!
Bem ao lado, havia uma árvore onde uma casinha abrigava pequenos pássaros atraídos pela comida que alguém, generosamente, deixara ali. Beija-flores vinham beber a água açucarada que existia em um recipiente próprio. Alguns vasos de flores estavam ao redor daquele monumento à vida. Minha irmã descobriu que a pessoa, que mantinha aquele lugar, tomara o cuidado de deixar uma garrafinha de plástico com água e um pequeno furo, de modo que a água ia aos poucos alimentando as flores. Afinal, o plástico não era tão ruim assim. Percebemos que as garrafas estavam vazias. Enchemo-nas e as colocamos novamente nas flores. Antes de sair, fizemos uma prece natural. Impossível não ser elevado ao êxtase quando a vida vence. Aquela garotinha vive, e vive muito!
Padre Joãozinho, SCJ