Luto

Reflexões de Santo Agostinho sobre a morte

“(…) É como se estivesse escondido no quarto ao lado. Eu sempre serei eu e tu serás sempre tu. O que éramos antes um para o outro o somos ainda” (Santo Agostinho).

Santo Agostinho é um dos pensadores mais estimados no mundo. Ele viveu por volta de 400 d.C. e, desde então, suas obras têm sido lidas e estudadas na Europa e no resto do mundo. Especialmente, suas frases sobre a morte são muito apreciadas. Longe de serem algo sombrio, triste, desesperador (como poderia se esperar de algum pensador dos tempos antigos), suas reflexões transmitem um sentimento de serenidade e esperança. São frases maravilhosas, que consolam quem enfrenta o luto.

Santo Agostinho não propõe a morte como fim da vida e não transmite sentimentos de incerteza, desespero ou terror que comumente são ligados a esse evento. Ele vê a morte como uma condição natural, como uma passagem ou uma transformação do estado da vida a um estado diferente, mas natural, que mantém sua continuidade com a existência terrena.

Reflexões de Santo Agostinho sobre a morte

Foto ilustrativa: fcscafeine by Getty Images

A morte não é o fim

Agostinho fala da pessoa falecida como alguém que alcançou uma espécie de condição superior: “aqueles que nos deixaram (…) têm os olhos repletos de glória fixos nos nossos repletos de lágrimas”.

Uma presença constante que só se tornou invisível aos nossos olhos, mas que, na realidade, está muito perto de nós: “não estão distantes: estão do outro lado, virando a esquina”.

Santo Agostinho, embora seja um Padre da Igreja, não faz referências a prêmios ou punições divinas, mas fala da relação entre as pessoas que passaram para o outro lado e aquelas que ficaram, evidenciando ainda a relação forte que permanece, ao ponto que “um sorriso” do vivo se torna “a paz” da pessoa que não está mais presente aqui.

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Abaixo, alguns pensamentos de Santo Agostinho a respeito dessa passagem para a Eternidade:

“Reencontrarás o meu coração, reencontrarás nele a ternura purificada. Enxuga tuas lágrimas e não chores, se me amas: o teu sorriso é a minha paz.”

“O meu nome seja sempre a palavra familiar de antes: pronunciai-o sem o mínimo sinal de sombra ou de tristeza.”

“Aqueles que nos deixaram não estão ausentes; são invisíveis, têm seus olhos repletos de glória fixos em nossos repletos de lágrimas.”

“Se amas a vida e temes a morte, este mesmo temor da morte é como um inverno diário.”

“A nossa vida conserva todo o significado que sempre teve: é a mesma de antes; existe uma continuidade que não se rompe.”

“O horror da morte não nasce da fantasia, mas da natureza.”

“Aqueles que amamos e que perdemos não estão mais onde estavam antes, mas estão onde quer que estejamos.”

“Não podemos viver o quanto queremos, e morreremos mesmo se não quisermos.”

“Por que eu deveria estar fora de teus pensamentos e da tua mente, só porque estou fora da tua vista? Não estou distante, estou do outro lado, logo virando a esquina. Tranquiliza-te, está tudo bem.”

“A morte não é nada. Apenas fiz a passagem para o outro lado: é como se estivesse escondido no quarto ao lado. Eu sempre serei eu e tu serás sempre tu. O que éramos antes um para o outro o somos ainda.”

A morte não é nada
(Santo Agostinho)

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.

Trecho extraído do livro “Superando a dor da perda de quem você ama“, de padre Licio Vale e Rodrigo Luiz dos Santos

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Rodrigo Luiz dos Santos

Missionário na Canção Nova, Rodrigo Luiz formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova. É casado com Adelita Stoebel, também missionária na mesma comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.