Da concupiscência da carne deriva a gula e a luxúria, da concupiscência dos olhos ou desejo moderado dos bens exteriores deriva a avareza e também a perfídia, a fraude, a hipocrisia e o endurecimento
do coração. Do orgulho da vida procedem a vanglória, o desespero das coisas espirituais, o esquecimento de Deus, a inveja, a cólera, as irritações e as injúrias. (GARRIGOU-LAGRANGE, 2018, p. 33).
No século 4, São Gregório Magno e São João Cassiano definiam os vícios ou pecados capitais em: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Esses vícios, enraizados em nós, acabam por ramificar muitos outros, tais como: mentira, roubo, curiosidade, indolência, vaidade, cobiça entre outros que, da mesma forma, agem em nós. São os demônios de nossa vida interior, na qual travamos uma constante luta para que possamos progredir em um amadurecimento pessoal.
Os demônios podem ser coautores que nos coagem a fazer algo que não queremos fazer. Os demônios podem ser espíritos sombrios, emoções que enviam nossos pensamentos, que colocam nossos pensamentos contra nossos sentimentos. Os demônios podem ser espíritos do mundo, imagens para os padrões de pensamento da sociedade, que nos mantêm presos. (GRÜN, 2017, p. 19).
Quais os vícios que estão dominando sua vida?
Somente um caminho de autoconhecimento será capaz de nos fazer perceber a astúcia de nossas inclinações dentro de nós. Quando tomamos consciência dos nossos atos olhando para o nosso interior e buscando a raiz daquele pecado, temos clareza de qual é o vício que está naquele momento dominando a nossa vida. Para descobrir essas más tendências, precisaremos rastrear as feridas abertas por onde essas tendências adentraram e se alojaram em nós. Muitas vezes, são elas que nos levam a ter atitudes que, no fundo, não gostaríamos de ter, “pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7,19–20); “É do seu coração que saem más intenções, homicídios, adultérios, imoralidade sexual, roubos, falsos testemunhos e calúnias. Isso é que torna alguém impuro” (Mt 15,19–20).
Esse trabalho de busca do conhecimento de si mesmo para perceber os movimentos do pecado dentro de nós será uma tarefa árdua para o resto de nossas vidas. Quanto mais consciente estivermos dessas más inclinações que habitam dentro de nós, menos elas terão poder sobre nossas atitudes, principalmente se permitirmos que o Espírito Santo nos mova.
Desvelar as ‘vozes simbólicas’ de nosso interior pode nos ajudar a compreender que a segurança que elas prometem são vazias: todo o dinheiro do mundo, todo o poder e toda a fama são incapazes de conferir segurança e plenitude. Não só isso: aquelas vozes nos confundem e nos fazem distanciar de nossa verdadeira identidade.
Cedo ou tarde, reconheceremos que o futuro do ego não tem fundamento e que, como dizia Jesus, viver para ele é ‘perder a vida’. (PALAORO, 2017).
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Ainda temos a melhorar
De acordo com Mohana (1967, p. 48), quando “Santo Inácio morreu, encontraram debaixo de seu travesseiro um papel com a letra ‘G’ e mais três tracinhos seguidos.” Seus irmãos religiosos descobriram que se tratava de um defeito de Santo Inácio do qual ele travava um ardoroso combate e, para não se esquecer em nenhum momento desse combate, ele trazia anotado consigo para que todas as noites ele pudesse se lembrar disso.
Como seria santificador se nós também travássemos um combate diário contra cada defeito que viéssemos a descobrir. Até o resto da vida teríamos com certeza muito trabalho a ser feito. Talvez ao chegarmos ao último dia de nossas vidas veríamos, assim como Santo Inácio, que ainda temos a melhorar.
Trecho extraído do livro “Mulheres Empoderadas no Espírito Santo”, de Rogerinha Moreira.